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VERSO 24

tad aśma-sāraṁ hṛdayaṁ batedaṁ
yad gṛhyamāṇair hari-nāma-dheyaiḥ
na vikriyetātha yadā vikāro
netre jalaṁ gātra-ruheṣu harṣaḥ

tat — aquele; aśma-sāram — é de aço; hṛdayam — coração; bata idam — com certeza aquele; yat — o qual; gṛhyamāṇaiḥ — apesar de cantar; hari-nāma — o santo nome do Senhor; dheyaiḥ — com concentração mental; na — não; vikriyeta — muda; atha — assim; yadā — quando; vikāraḥ — reação; netre — nos olhos; jalam — lágrimas; gātra-ruheṣu — nos poros; harṣaḥ — erupções de êxtase.

Certamente é de aço o coração que, apesar de a pessoa cantar o santo nome do Senhor com concentração, não se modifica quando ocorre o êxtase, lágrimas enchem os olhos e os cabelos se arrepiam.

SIGNIFICADO—Observemos para o nosso próprio benefício que, nos três primeiros capítulos do segundo canto, apresenta-se um processo gradual de desenvolvimento do serviço devocional. No primeiro capítulo, enfatizou-se que, para alcançar a consciência de Deus, o passo inicial no serviço devocional consiste em ouvir e cantar, e recomenda-se aos principiantes uma concepção grosseira da forma universal da Personalidade de Deus. Conhecendo essa concepção grosseira em que Deus manifesta Sua energia material, a pessoa se capacita a espiritualizar a mente e os sentidos e a concentrar pouco a pouco a mente no Senhor Viṣṇu, o Supremo, que, como a Superalma, está presente em todos os corações e em toda a parte, em todo átomo do universo material. O sistema de pañca-upāsanā, que recomenda ao homem comum cinco atitudes mentais, também é instituído com este fim, a saber, o desenvolvimento gradual, adoração do superior, que pode se apresentar sob a forma do fogo, da eletricidade, do Sol, da massa de seres vivos, do senhor Śiva e, finalmente, da Superalma impessoal, a representação parcial do Senhor Viṣṇu. Todos eles são descritos com muito esmero no segundo capítulo, mas o terceiro capítulo continua prescrevendo o desenvolvimento depois que a pessoa alcançou de fato a fase na qual ela passa a adorar Viṣṇu, ou o serviço devocional puro, e a fase madura na qual se presta adoração a Viṣṇu está aqui intimamente relacionada com a mudança pela qual passa o coração.

Todo o processo da cultura espiritual tem por objetivo mudar o coração do ser vivo no tocante à sua eterna relação com o Senhor Supremo como um servo subordinado, o que é sua eterna posição constitucional. Logo, com o progresso do serviço devocional, a mudança a que o coração se submete manifesta-se através do desapego gradual da sensação de gozo material estimulada pelo falso desejo de assenhorear-se do mundo e através de um aumento da atitude que consiste em prestar serviço amoroso ao Senhor. Vidhi-bhakti, ou o serviço devocional regulado prestado com os membros do corpo (a saber, os olhos, os ouvidos, o nariz, as mãos e as pernas, como já se explicou aqui antes), é agora enfatizado nesta passagem em relação à mente, que serve de ímpeto para todas as atividades dos membros do corpo. De qualquer maneira, espera-se que, desempenhando serviço devocional regulado, a pessoa acabe manifestando uma mudança em seu coração. Se não houver essa mudança, o coração deverá ser considerado de aço, pois não se derrete nem mesmo quando se canta o santo nome do Senhor. Devemos sempre lembrar que ouvir e cantar são os princípios básicos do cumprimento dos deveres devocionais, e, quando realizados adequadamente, virá o consequente êxtase, com sinais de lágrimas nos olhos e arrepio dos pelos do corpo. Essas consequências são naturais e são os sintomas preliminares da fase de bhāva, que ocorre antes que a pessoa alcance a fase de perfeição, prema, amor por Deus.

Se nenhuma mudança ocorre, nem mesmo após ouvir e cantar continuamente os santos nomes do Senhor, talvez isso se deva apenas às ofensas. Essa é a opinião do Sandarbha. Ao começar a cantar o santo nome do Senhor, se o devoto não tomar nenhum cuidado para evitar as dez classes de ofensas aos pés do santo nome, com certeza as lágrimas nos olhos e o arrepio dos pelos do corpo não provocarão sentimentos de saudade.

A fase de bhāva manifesta-se através de oito sintomas transcendentais, a saber, inércia, transpiração, arrepio dos pelos do corpo, voz embargada, tremor, palidez do corpo, lágrimas nos olhos e, finalmente, transe. O Néctar da Devoção, um estudo resumido do Bhakti-rasāmṛta-sindhu, de Śrīla Rūpa Gosvāmī, explica esses sintomas e descreve vividamente outros fenômenos transcendentais, nas manifestações estáveis e dinâmicas.

Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura faz uma forte crítica a todas essas exibições de bhāva quando algum neófito inescrupuloso tenta imitar esses sintomas, buscando apreciação barata. Não apenas Viśvanātha Cakravartī, mas também Śrīla Rūpa Gosvāmī, tecem-lhes críticas severas. Às vezes, os devotos mundanos (prākṛta-sahajiyās) tentam imitar todos esses oito sintomas de êxtase, mas os falsos sintomas são imediatamente detectados quando a pessoa vê o pseudodevoto entregue a muitas atividades proibidas. Muito embora decorada com os sinais de um devoto, a pessoa viciada em fumar, beber ou em praticar sexo ilícito com mulheres não pode ter todos esses sintomas extáticos. Às vezes, no entanto, observa-se esses sintomas são deliberadamente imitados, daí Śrīla Viśvanātha Cakravartī lançar aos imitadores a acusação de que seus corações se constituem de pedra. Algumas vezes, chegam inclusive a ser afetados pelo reflexo desses sintomas transcendentais, mas, se insistem em praticar os hábitos proibidos, são casos para os quais não há nenhuma esperança de se obter a compreensão transcendental.

Ao encontrar-se com Śrīla Rāmānanda Rāya, de Kavaur, às margens do Godāvarī, o Senhor Caitanya desenvolveu todos esses sintomas, mas, devido à presença de alguns brāhmaṇas não-devotos que eram assistentes do Rāya, o Senhor conteve esses sintomas. Logo, por certas razões circunstanciais, às vezes eles não são visíveis nem mesmo no corpo de um primoroso devoto. Portanto, o verdadeiro bhāva estável manifesta-se definitivamente quando cessam os desejos materiais (kṣānti), cada momento é utilizado no transcendental serviço amoroso ao Senhor (avyārtha-kālatvam), sempre se deseja glorificar o Senhor (nāma-gāne sadā ruci), é grande a atração por viver na terra do Senhor (prītis tad-vasati sthale), é completo o desapego da felicidade material (virakti), e não há orgulho (māna-śūnyatā). Quem desenvolveu todas essas qualidades transcendentais está de fato na fase de bhāva, diferentemente do devoto mundano ou do imitador cujo coração é de pedra.

Todo o processo pode ser resumido da seguinte maneira: O devoto avançado que canta o santo nome do Senhor sem cometer nenhuma ofensa e é amistoso com todos pode realmente saborear o gosto transcendental reservado a quem glorifica o Senhor. E, como resultado dessa compreensão, desenvolve-se a cessação de todos os desejos materiais etc., como se menciona acima. Como estão na etapa de serviço devocional inferior, os neófitos invariavelmente são invejosos, tanto que inventam seus próprios processos e meios de regulações devocionais sem seguir os ācāryas. Nesse caso, mesmo que sejam vistos cantando o santo nome do Senhor constantemente, não podem saborear o gosto transcendental do santo nome. Portanto, condena-se a pessoa que, por exibição, fica com os olhos cheios d’água, treme, transpira ou perde a consciência. Entretanto, eles podem entrar em contato com um devoto puro do Senhor e corrigir seus maus hábitos; caso contrário, continuarão a ter o coração de pedra e a ser rebeldes a qualquer tratamento. Para que se empreenda uma marcha completa e progressiva no caminho de volta ao lar, de volta ao Supremo, é preciso aceitar as instruções das escrituras reveladas transmitidas por um devoto que as compreende.

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