No edit permissions for Português

VERSO 20

pādās trayo bahiś cāsann
aprajānāṁ ya āśramāḥ
antas tri-lokyās tv aparo
gṛha-medho ’bṛhad-vrataḥ

pādāḥ trayaḥ — o cosmos constituído de três quartos da energia do Senhor; bahiḥ — assim situado além; ca — e para tudo; āsan — era; aprajānām — daqueles que não se destinam ao renascimento; ye — aqueles; āśramāḥ — estado de vida; antaḥ — dentro; tri-lokyāḥ — dos três mundos; tu — mas; aparaḥ — outros; gṛha-medhaḥ — apegados à vida familiar; abṛhat-vrataḥ — sem seguir estritamente o voto de celibato.

O mundo espiritual, que consiste em três quartos da energia do Senhor, está situado além deste mundo material e se destina especialmente àqueles que jamais renascerão. Outros, que estão apegados à vida familiar e não seguem estritamente os votos de celibato, devem viver dentro dos três mundos materiais.

SIGNIFICADO—O clímax do sistema de varṇāśrama-dharma, ou sanātana-dharma, é claramente expresso aqui neste verso específico do Śrīmad-Bhāgavatam. O maior benefício que o ser humano pode receber é aprender a se desapegar da vida sexual, especialmente porque é apenas devido à prática sexual que a vida condicionada, a existência material, continua nascimento após nascimento. A civilização humana na qual não há controle da vida sexual é uma civilização de quarta classe, pois, nessa atmosfera, a alma que está aprisionada no corpo material não consegue sua liberdade. Nascimento, morte, velhice e doença estão relacionados com o corpo material, e nada têm a ver com a alma espiritual. Porém, enquanto o apego corpóreo ao gozo sexual for encorajado, a alma espiritual individual será forçada a continuar a submeter-se a repetidos nascimentos e mortes decorrentes do corpo material, que é comparado a roupas sujeitas à lei da deterioração.

A fim de conceder o benefício máximo que se alcança na vida humana, o sistema varṇāśrama treina o seguidor a adotar o voto de celibato, começando com a ordem de brahmacārī. A vida de brahmacārī é para estudantes que são instruídos a seguir estritamente o voto de celibato. Os jovens que não sentiram o gosto da vida sexual podem facilmente seguir o voto de celibato, e, tendo adotado os princípios dessa vida, a pessoa pode continuar, com muita facilidade, em direção à fase da perfeição máxima, alcançando o reino constituído de três quartos da energia do Senhor. Já se explicou que, no cosmos formado de três quartos da energia do Senhor, não há morte nem medo, e a pessoa leva uma vida plena de bem-aventurança, felicidade e conhecimento. O chefe de família apegado à vida familiar pode facilmente abandonar essa vida de atividade sexual se foi treinado nos princípios da vida de brahmacārī. Recomenda-se que o chefe de família deixe o lar depois dos cinquenta anos (pañcaśordhvaṁ vanaṁ vrajet) e passe a viver na floresta; então, estando plenamente desapegado da afeição familiar, ele pode aceitar a ordem de renúncia como um sannyāsī ocupado em pleno serviço ao Senhor. Qualquer forma de princípio religioso em que os seguidores são treinados a seguir o voto de celibato é boa para o ser humano porque somente aqueles que recebem esse treinamento podem findar a vida de sofrimentos, a existência material. Os princípios de nirvāṇa, como recomenda o senhor Buddha, também servem para acabar com a vida de sofrimentos, a existência material. E esse processo, no grau mais elevado, é recomendado aqui no Śrīmad-Bhāgavatam, com uma percepção nítida da perfeição ideal, embora basicamente não haja diferença entre os processos dos budistas, śaṅkarites e vaiṣṇavites. Para a ascensão à posição de perfeição superior, a saber, ficar livre de nascimento e morte, de ansiedade e temor, nenhum desses processos permite que o seguidor quebre o voto de celibato.

Os chefes de família e as pessoas que deliberadamente quebraram o voto de celibato não podem entrar no reino da imortalidade. Os chefes de família piedosos ou os yogīs ou os transcendentalistas caídos podem ser promovidos aos planetas superiores dentro do mundo material (inseridos nos vinte e cinco por cento da energia do Senhor), mas não conseguirão entrar no reino da imortalidade. Abṛhad-vratas são aqueles que quebraram o voto de celibato. Se querem ser bem-sucedidos no processo, os vānaprasthas, ou aqueles que se retiraram da vida familiar, e os sannyāsīs, ou as pessoas renunciadas, não podem quebrar o voto de celibato. Os brahmacārīs, vānaprasthas e sannyāsīs não pretendem renascer (apraja), tampouco se destinam a entregar-se secretamente à vida sexual. O espiritualista que sofre semelhante queda pode ser recompensado, ganhando outra oportunidade, a vida humana em boas famílias de brāhmaṇas eruditos ou de mercadores ricos que lhe propiciem mais um período de elevação, mas a melhor coisa é alcançar a perfeição máxima da imortalidade logo que se alcança a forma de vida humana; caso contrário, toda a programação da vida humana acabará sendo um fracasso total. O Senhor Caitanya era muito estrito em aconselhar seus seguidores no assunto do celibato. Um dos Seus assistentes pessoais, Choṭa Haridāsa, foi severamente punido pelo Senhor Caitanya porque deixou de observar o voto de celibato. Portanto, para o transcendentalista que realmente deseja ser promovido ao reino além dos sofrimentos materiais, é pior que suicídio se entregar deliberadamente à vida sexual, em especial quem está na ordem de vida renunciada. A vida sexual na ordem de vida renunciada é a forma mais pervertida de vida religiosa, e semelhante pessoa desencaminhada só pode ser salva se, por acaso, encontrar um devoto puro.

« Previous Next »