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VERSO 10

pravartate yatra rajas tamas tayoḥ
sattvaṁ ca miśraṁ na ca kāla-vikramaḥ
na yatra māyā kim utāpare harer
anuvratā yatra surāsurārcitāḥ

pravartate — predominam; yatra — onde; rajaḥ tamaḥ — os modos da paixão e da ignorância; tayoḥ — de ambos; sattvam — o modo da bondade; ca — e; miśram — mistura; na — nunca; ca — e; kāla — tempo; vikramaḥ — influência; na — nem; yatra — naquele lugar; māyā — energia ilusória externa; kim — que; uta — há; apare — outros; hareḥ — da Personalidade de Deus; anuvratāḥ — devotos; yatra — onde; sura — pelos semideuses; asura — e os demônios; arcitāḥ — adorados.

Nessa morada pessoal do Senhor, os modos da ignorância e da paixão materiais não vigoram, tampouco existe alguma influência deles em bondade. Como não há predomínio da influência do tempo, o que se dizer, então, da energia ilusória externa? Ela não pode entrar nessa região. Sem discriminação, tanto os semideuses quanto os demônios adoram o Senhor como devotos.

SIGNIFICADO—O reino de Deus, ou a atmosfera da natureza Vaikuṇṭha, chamada tripād-vibhūti, é três vezes maior do que os universos materiais e é descrito aqui, bem como na Bhagavad-gītā, de modo resumido. Este universo, que contém bilhões de estrelas e planetas, é um dos bilhões desses universos aglomerados dentro do âmbito do mahat-tattva. E todos esses milhões e bilhões de universos combinados constituem apenas um quarto da extensão de toda a criação do Senhor. Existe também o céu espiritual; além deste céu, estão os planetas espirituais denominados Vaikuṇṭha, e todos eles constituem três quartos de toda a criação do Senhor. As criações de Deus são sempre inumeráveis. Nem mesmo as folhas de uma árvore podem ser contadas pelo homem, nem os cabelos de sua cabeça. Todavia, homens tolos se envaidecem com a ideia de se tornarem o próprio Deus, embora incapazes de criar um fio de cabelo a partir de seus próprios corpos. O homem pode descobrir muitos veículos maravilhosos, mas mesmo que alcance a Lua com sua espaçonave tão alardeada, ele não poderá permanecer lá. O homem sensato, portanto, sem se envaidecer, como se ele fosse o Deus do universo, acata as instruções da literatura védica, o modo mais fácil de adquirir conhecimento em transcendência. Logo, recorramos à autoridade do Śrīmad-Bhāgavatam para, então, procurarmos conhecer a natureza e constituição do mundo transcendental, situado além do céu material. Naquele céu, as qualidades materiais, em especial os modos da paixão e da ignorância, estão inteiramente ausentes. O modo da ignorância influencia a entidade viva a desenvolver o hábito da luxúria e do anseio, o que quer dizer que as entidades vivas estão livres desses dois sintomas nos Vaikuṇṭhalokas. Como confirma a Bhagavad-gītā, na fase de vida brahma-bhūta, a pessoa se livra do anseio e da lamentação. Portanto, a conclusão é que os habitantes dos planetas Vaikuṇṭha são todos entidades vivas brahma-bhūta, enquanto, em contraste, as criaturas mundanas estão todas presas ao anseio e à lamentação. Quando não está nos modos da ignorância e da paixão, entende-se que a pessoa está situada no modo da bondade no mundo material. A bondade no mundo material também se contamina às vezes com traços dos modos da paixão e da ignorância. Em Vaikuṇṭhaloka, só existe bondade pura.

Toda a situação ali é livre da manifestação ilusória da energia externa. Embora também seja parte integrante do Senhor Supremo, a energia ilusória é diferente do Senhor. Entretanto, a energia ilusória não é falsa como alegam os filósofos monistas. Uma determinada pessoa que aceita uma corda como sendo uma cobra pode estar sob o efeito da ilusão, mas a corda é um fato, e a cobra também é um fato. A miragem da água no deserto quente pode causar ilusão ao animal ignorante que procura água no deserto, mas o deserto e a água são fatos reais. Portanto, a criação material do Senhor pode ser uma ilusão para o não-devoto, mas, para o devoto, até mesmo a criação material do Senhor é um fato, uma manifestação de Sua energia externa. Essa energia do Senhor, porém, não é tudo. O Senhor também tem Sua energia interna, que executa outra criação, conhecida como os Vaikuṇṭhalokas, onde não há ignorância, paixão, ilusão, passado e presente. Com um pobre fundo de conhecimento, talvez a pessoa não consiga compreender a existência de fenômenos tais como a atmosfera Vaikuṇṭha, mas isso não anula sua existência. O fato de uma espaçonave não conseguir alcançar esses planetas não significa que esses planetas não existam, pois eles são descritos nas escrituras reveladas.

Como cita Śrīla Jīva Gosvāmī, podemos saber, por intermédio do Nārada-pañcarātra, que o mundo transcendental, ou a atmosfera Vaikuṇṭha, é enriquecido com qualidades transcendentais. Essas qualidades transcendentais, como reveladas através do serviço devocional ao Senhor, são distintas das qualidades mundanas: a ignorância, a paixão e a bondade. Essas qualidades não são alcançadas pela classe de homens não-devotos. No Padma Purāṇa, Uttara-khaṇḍa, afirma-se que, além dessa quarta parte da criação de Deus, manifestam-se os outros três quartos. A linha marginal entre a manifestação material e a manifestação espiritual é o rio Virajā, e além do Virajā, que é uma corrente transcendental que flui da transpiração do corpo do Senhor, manifestam-se os três quartos da criação de Deus. Essa parte é eterna, perene, sem deterioração e ilimitada, e contém a fase de máxima perfeição das condições de vida. No Sāṅkhya-kaumudī, declara-se que a bondade imaculada, ou transcendência, é exatamente o oposto dos modos materiais. Ali, todas as entidades vivas gozam de eterna associação ininterrupta, e o Senhor é a entidade principal e primordial. Nos Āgama Purāṇas também, descreve-se a morada transcendental como segue: Ali, os membros associados são livres para ir a toda parte da criação do Senhor, e não há limite para esta criação, particularmente na região que corresponde aos três quartos de extensão. Como a natureza dessa região é ilimitada, não se sabe quando começou tal associação, tampouco ela acabará algum dia.

Pode-se chegar à conclusão de que, por causa da completa ausência das qualidades mundanas de ignorância e paixão, fica fora de cogitação a criação ou a aniquilação. No mundo material, tudo é criado e tudo é aniquilado, e a duração da vida entre a criação e a aniquilação é temporária. No reino transcendental, não existe criação nem destruição, de modo que a duração da vida é eterna, ilimitada. Em outras palavras, tudo no mundo transcendental é perene, cheio de conhecimento e bem-aventurança e sem deterioração. Como não ocorre deterioração, o tempo não se sujeita a passado, presente e futuro. Neste verso, afirma-se com toda a clareza que o tempo não exerce nenhuma influência. Toda a existência material se manifesta por ações e reações de elementos que propiciam o tempo a exercer sua influência sob a forma de passado, presente e futuro. Ali, não existem essas ações e reações de causa e efeito, daí o ciclo de nascimento, crescimento, existência, transformações, deterioração e aniquilação – as seis mudanças materiais – não existir ali. Trata-se da manifestação imaculada da energia do Senhor, sem a ilusão que é experimentada aqui no mundo material. Toda a existência de Vaikuṇṭha proclama que todos ali são seguidores do Senhor. Ali, o Senhor é o líder principal, sem nenhuma competição pela liderança, e todas as pessoas em geral são seguidores do Senhor. Portanto, confirma-se nos Vedas que o Senhor é o líder principal, e todas as outras entidades vivas estão subordinadas a Ele, pois só o Senhor satisfaz todas as necessidades de todas as outras entidades vivas.

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