VERSO 39
antarhitendriyārthāya
haraye vihitāñjaliḥ
sarva-bhūtamayo viśvaṁ
sasarjedaṁ sa pūrvavat
antarhita — no desaparecimento; indriya-arthāya — a Personalidade de Deus, o objetivo de todos os sentidos; haraye — ao Senhor; vihita-añjaliḥ — de mãos postas; sarva-bhūta — todas as entidades vivas; mayaḥ — cheio de; viśvam — o universo; sasarja — criou; idam — este; saḥ — ele (Brahmājī); pūrva-vat — exatamente como antes.
Com o desaparecimento da Suprema Personalidade de Deus, Hari, que é o objeto de desfrute transcendental para os sentidos dos devotos, Brahmā, de mãos postas, começou a recriar o universo, cheio de entidades vivas, como era antes.
SIGNIFICADO—A Suprema Personalidade de Deus, Hari, é o objetivo que satisfaz os sentidos de todas as entidades vivas. Iludidas pelo reflexo ofuscante da energia externa, as entidades vivas adoram os sentidos ao invés de ocupá-los apropriadamente em satisfazer os desejos do Supremo.
No Hari-bhakti-sudhodaya (13.2), há o seguinte verso:
akṣṇoḥ phalaṁ tvādṛśa-darśanaṁ hi
tanoḥ phalaṁ tvādṛśa-gātra-saṅgaḥ
jihvā-phalaṁ tvādṛśa-kīrtanaṁ hi
sudurlabhā bhāgavatā hi loke
“Ó devoto do Senhor, para se alcançar o objetivo do sentido da visão, basta te ver, e tocar teu corpo satisfaz o contato corporal. A língua se destina a glorificar tuas qualidades, pois, neste mundo, é muito difícil encontrar um devoto puro do Senhor.”
Originalmente, foi com este propósito que a entidade viva recebeu seus sentidos, a saber, para ocupá-los no transcendental serviço amoroso ao Senhor ou aos Seus devotos, mas as almas condicionadas, iludidas pela energia material, foram cativadas pelo gozo dos sentidos. Portanto, todo o processo da consciência de Deus presta-se a retificar as atividades condicionadas dos sentidos e voltar a ocupá-los no serviço direto ao Senhor. O senhor Brahmā ocupou então Seus sentidos no Senhor, recriando as entidades vivas condicionadas para agirem no universo recriado. Este universo material é então criado e aniquilado pela vontade do Senhor. Ele é criado para que a alma condicionada possa agir e voltar ao lar, voltar ao Supremo, e servos como Brahmājī, Nāradajī, Vyāsajī e seus companheiros dividem entre si a mesma tarefa do Senhor: recuperar as almas condicionadas do campo do gozo dos sentidos e ajudá-las a retornarem ao seu estado normal, no qual elas ocupam os sentidos no serviço ao Senhor. Ao invés de adotarem esse procedimento, isto é, converter as ações dos sentidos, os impersonalistas começaram a eliminar os sentidos das almas condicionadas, e do Senhor também. Esse é um tratamento inadequado para as almas condicionadas. O estado doentio dos sentidos pode ser tratado com a cura do defeito, mas não com a total eliminação dos sentidos. Quando há alguma doença nos olhos, eles devem ser curados para verem apropriadamente. Arrancar os olhos não é tratamento. De modo semelhante, toda a doença material baseia-se no processo do gozo dos sentidos, e, para a pessoa libertar-se do estado doentio, é preciso que os sentidos passem a ver a beleza do Senhor, ouvir Suas glórias e agir para Ele. Assim, Brahmājī voltou a criar as atividades universais.