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VERSO 17

sa nirgataḥ kaurava-puṇya-labdho
gajāhvayāt tīrtha-padaḥ padāni
anvākramat puṇya-cikīrṣayorvyām
adhiṣṭhito yāni sahasra-mūrtiḥ

saḥ — ele (Vidura); nirgataḥ — depois de ter deixado; kaurava — a dinastia Kuru; puṇya — piedade; labdhaḥ — assim obtidas; gaja-āhvayāt — de Hastināpura; tīrtha-padaḥ — do Senhor Supremo; padāni — peregrinações; anvākramat — refugiou-se; puṇya — piedade; cikīrṣayā — assim desejando; urvyām — de alto grau; adhiṣṭhitaḥ — situadas; yāni — todas estas; sahasra — milhares; mūrtiḥ — formas.

Por sua piedade, Vidura obteve as vantagens dos piedosos Kauravas. Após deixar Hastināpura, refugiou-se em muitos locais de peregrinação, que são os pés de lótus do Senhor. Desejando alcançar uma vida piedosa de alto grau, viajou a locais santos onde se encontram milhares de formas transcendentais do Senhor.

SIGNIFICADO—Vidura era indubitavelmente uma alma altamente elevada e piedosa, ou não teria nascido na família Kaurava. Ter parentesco elevado, possuir riqueza, ser altamente erudito e ter grande beleza pessoal – tudo isto se deve a atos piedosos passados. Essas posses piedosas, porém, não são suficientes para se obter a graça do Senhor e se ocupar em Seu transcendental serviço amoroso. Vidura considerava-se menos piedoso e, por isso, decidiu viajar a todos os importantes locais de peregrinação no mundo a fim de alcançar um grau maior de piedade e se aproximar mais do Senhor. Naquela época, o Senhor Kṛṣṇa estava pessoalmente presente no mundo, de modo que Vidura poderia ter-se aproximado de Kṛṣṇa diretamente, mas ele não o fez porque não estava suficientemente livre de pecados. Não podemos nos dedicar cem por cento ao Senhor a menos e até que nos livremos completamente de todos os efeitos de pecados. Vidura estava consciente de que, devido ao contato com os diplomáticos Dhṛtarāṣṭra e Duryodhana, ele perdera sua piedade e não estava apto, portanto, para se associar imediatamente com o Senhor. Na Bhagavad-gītā (7.28), isso é confirmado no seguinte verso:

yeṣāṁ tv anta-gataṁ pāpaṁ
janānāṁ puṇya-karmaṇām
te dvandva-moha-nirmuktā
bhajante māṁ dṛḍha-vratāḥ

As pessoas que são asuras pecaminosos, como Kaṁsa e Jarāsandha, não podem pensar no Senhor Kṛṣṇa como sendo a Suprema Personalidade de Deus, a Verdade Absoluta. Somente aqueles que são devotos puros, aqueles que seguem os princípios reguladores da vida religiosa prescritos nas escrituras, é que são capazes de se ocupar em karma-yoga e, depois, em jñāna-yoga e, depois disso, através da meditação pura, podem entender a consciência pura. Quando a consciência de Deus se desenvolve, pode-se tirar proveito da companhia dos devotos puros. Syān mahat-sevayā viprāḥ puṇya-tīrtha-niṣevaṇāt: uma pessoa é capaz de se associar com o Senhor mesmo durante sua existência nesta vida atual.

Os locais de peregrinação destinam-se a erradicar os pecados dos peregrinos, e estão distribuídos por todo o universo só para dar oportunidade a todos os interessados em atingirem a existência pura e a realização de Deus. Entretanto, não devemos ficar satisfeitos apenas por visitar os locais de peregrinação e cumprir nossos deveres prescritos; devemos estar ansiosos por encontrar as grandes almas que já se encontram nesses locais, ocupadas no serviço ao Senhor. Em cada local de peregrinação, o Senhor está presente em Suas várias formas transcendentais.

Essas formas são chamadas arcā-mūrtis, ou formas do Senhor que podem ser facilmente apreciadas pelo homem comum. O Senhor é transcendental a nossos sentidos mundanos. Não podemos vê-lO com nossos olhos atuais, nem podemos ouvi-lO com nossos ouvidos atuais. À medida que ingressamos no serviço ao Senhor ou à proporção que nossas vidas vão se livrando dos pecados, podemos perceber o Senhor. Mas, mesmo que não estejamos livres dos pecados, o Senhor é bondoso o suficiente para nos dar a oportunidade de vê-lO em Suas arcā-mūrtis no templo. O Senhor é todo-poderoso, daí Ele poder aceitar nosso serviço através da apresentação de Sua forma arcā. Portanto, ninguém deve pensar tolamente que a arcā no templo é um ídolo. Essa arcā-mūrti não é um ídolo, mas, isto sim, o próprio Senhor, e, à medida que nos livramos dos pecados, somos capazes de conhecer a importância da arcā-mūrti. Por isso, a orientação de um devoto puro é sempre necessária.

Na terra de Bhāratavarṣa, há muitas centenas e milhares de locais de peregrinação distribuídos por todo o país, e, pela prática tradicional, o homem comum visita esses locais santos durante todas as estações do ano. Algumas das representações arcā do Senhor situadas em diferentes locais de peregrinação são mencionadas aqui. O Senhor está presente em Mathurā (a terra natal do Senhor Kṛṣṇa) como Ādi-keśava; o Senhor está presente em Purī (Orissa) como o Senhor Jagannātha (também conhecido como Puruṣottama); Ele está presente em Allahabad (Prayāga) como Bindu-mādhava; na colina Mandara, Ele está presente como Madhusūdana. No Ānandāraṇya, Ele é conhecido como Vāsudeva, Padmanābha e Janārdana; em Viṣṇukāñcī, Ele é conhecido como Viṣṇu; e em Māyāpur, Ele é conhecido como Hari. Há milhões e bilhões de tais formas arcā do Senhor distribuídas por todo o universo. Todas essas arcā-mūrtis são resumidas no Caitanya-caritāmṛta com as seguintes palavras:

sarvatra prakāśa tāṅra — bhakte sukha dite
jagatera adharma nāśi’ dharma sthāpite

“O Senhor Se distribui assim por todo o universo apenas para dar prazer aos devotos, para dar ao homem comum a oportunidade de erradicar seus pecados e para estabelecer os princípios religiosos no mundo.”

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