VERSO 4
kim anvapṛcchan maitreyaṁ
virajās tīrtha-sevayā
upagamya kuśāvarta
āsīnaṁ tattva-vittamam
kim — que; anvapṛcchat — perguntou; maitreyam — ao sábio Maitreya; virajāḥ — Vidura, que não tinha contaminação material; tīrtha-sevayā — visitando lugares sagrados; upagamya — tendo encontrado; kuśāvarte — em Kuśāvarta (Haridvāra, ou Hardwar); āsīnam — que estava habitando; tattva-vit-tamam — o principal conhecedor da ciência da vida espiritual.
Vidura purificou-se de toda paixão vagueando por lugares sagrados e, por fim, chegou a Hardwar, onde se encontrou com o grande sábio que conhecia a ciência da vida espiritual e lhe fez perguntas. Śaunaka Ṛṣi, então, indagou: O que mais Vidura perguntou a Maitreya?
SIGNIFICADO—Aqui, as palavras virajās tīrtha-sevayā referem-se a Vidura, que se purificou inteiramente de toda contaminação viajando a lugares de peregrinação. Na Índia, há centenas de lugares sagrados de peregrinação, entre os quais Prayāga, Hardwar, Vṛndāvana e Rāmeśvaram são considerados os principais. Após deixar seu lar, que era cheio de diplomacia e política, Vidura quis purificar-se viajando a todos os lugares sagrados, que são estabelecidos de tal forma que qualquer pessoa que os visite purifica-se automaticamente. Isso é especialmente verdade em Vṛndāvana: qualquer pessoa pode ir ali e, mesmo que seja pecaminosa, imediatamente entrará em contato com uma atmosfera de vida espiritual e automaticamente cantará os nomes de Kṛṣṇa e Rādhā. É isso o que temos realmente visto e experimentado. Recomenda-se nos śāstras que, após retirar-se da vida ativa e aceitar a ordem vānaprastha (retirada), a pessoa viaje constantemente por lugares de peregrinação, de modo a se purificar. Vidura cumpriu totalmente esse dever e, por fim, chegou a Kuśāvarta, ou Hardwar, onde o sábio Maitreya estava sentado.
Outro ponto significativo é que devemos visitar lugares sagrados, não apenas para nos banhar ali, mas também para nos encontrarmos com grandes sábios, como Maitreya, e receber instruções deles. Se alguém não o faz, sua viagem aos lugares de peregrinação não passa de mera perda de tempo. Narottama Dāsa Ṭhākura, grande ācārya da seita vaiṣṇava, proibiu-nos, no tempo presente, de ir a tais lugares de peregrinação porque, nesta era, uma vez que os tempos mudaram tanto, uma pessoa sincera poderá ter uma impressão diferente ao ver o comportamento dos atuais residentes nos locais de peregrinação. Ele recomenda que, ao invés de dar-nos ao trabalho de viajar a esses lugares, concentremos a mente em Govinda, e isso nos ajudará. Evidentemente, concentrar a mente em Govinda em qualquer lugar é um caminho destinado àqueles que são mais avançados espiritualmente: não é para pessoas comuns. As pessoas comuns ainda podem beneficiar-se com as viagens a lugares sagrados como Prayāga, Mathurā, Vṛndāvana e Hardwar.
Neste verso, recomenda-se que se encontre uma pessoa que conheça a ciência de Deus, ou um tattva-vit. Tattva-vit significa “aquele que conhece a Verdade Absoluta”. Existem muitos falsos transcendentalistas, mesmo nos lugares de peregrinação. Tais homens sempre existem, e é preciso ser inteligente o bastante para encontrar a verdadeira pessoa a ser consultada: dessa maneira a tentativa de progredir viajando a diferentes lugares sagrados será bem-sucedida. Precisamos livrar-nos de toda contaminação e, ao mesmo tempo, encontrar uma pessoa que conheça a ciência de Kṛṣṇa. Toda pessoa sincera recebe a ajuda de Kṛṣṇa, como se afirma no Caitanya-caritāmṛta, guru-kṛṣṇa prasāde: pela misericórdia do mestre espiritual e de Kṛṣṇa, alcança-se o caminho da salvação, o serviço devocional. Se alguém busca sinceramente a salvação espiritual, Kṛṣṇa, estando situado no coração de todos, confere a essa pessoa a inteligência para encontrar um mestre espiritual adequado. Pela graça de um mestre espiritual como Maitreya, obtêm-se as instruções apropriadas e se avança na vida espiritual.