VERSO 1
śaunaka uvāca
kapilas tattva-saṅkhyātā
bhagavān ātma-māyayā
jātaḥ svayam ajaḥ sākṣād
ātma-prajñaptaye nṛṇām
śaunaka uvāca — Śrī Śaunaka disse; kapilaḥ — o Senhor Kapila; tattva — da verdade; saṅkhyātā — o expositor; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; ātma-māyayā — através de Sua potência interna; jātaḥ — nasceu; svayam — Ele próprio; ajaḥ — não-nascido; sākṣāt — em pessoa; ātma-prajñaptaye — para disseminar o conhecimento transcendental; nṛṇām — para a raça humana.
Śrī Śaunaka disse: Embora seja não-nascida, a Suprema Personalidade de Deus nasceu como Kapila Muni através de Sua potência interna. Ele desceu para disseminar o conhecimento transcendental para o benefício de toda a raça humana.
SIGNIFICADO—A expressão ātma-prajñaptaye indica que o Senhor desce para o benefício da raça humana, para dar conhecimento transcendental. As necessidades materiais ficam completa e suficientemente satisfeitas com o conhecimento védico, que oferece um programa de boas condições de vida e de elevação gradual à plataforma da bondade. No modo da bondade, nosso conhecimento se expande. Na plataforma da paixão, não há conhecimento, pois paixão não passa de mero ímpeto de usufruir dos benefícios materiais. Na plataforma da ignorância, não há conhecimento nem gozo, mas simplesmente uma vida quase como a dos animais.
Os Vedas destinam-se a elevar-nos do modo da ignorância à plataforma da bondade. Quando alguém está situado no modo da bondade, é capaz de entender o conhecimento do eu, ou seja, o conhecimento transcendental. Nenhum homem comum pode apreciar este conhecimento. Portanto, já que se faz necessária uma sucessão discipular, este conhecimento é exposto, ou pela Suprema Personalidade de Deus em pessoa, ou por Seu devoto fidedigno. Śaunaka Muni também afirma neste verso que Kapila, a encarnação da Suprema Personalidade de Deus, nasceu, ou apareceu, simplesmente para apreciar e disseminar o conhecimento transcendental. O simples entendimento de que não somos matéria, mas almas espirituais (ahaṁ brahmāsmi: “Eu sou Brahman por natureza”) não é conhecimento suficiente para compreendermos o eu e suas atividades. É preciso situar-se nas atividades de Brahman. O conhecimento dessas atividades é explicado pela Suprema Personalidade de Deus em pessoa. Tal conhecimento transcendental pode ser apreciado na sociedade humana, mas não na sociedade animal, como é claramente indicado aqui pela palavra nṛṇām, “para os seres humanos”. Os seres humanos destinam-se à vida regulada. Por natureza, também há regulações na vida animal, embora não possam comparar-se à vida reguladora descrita nas escrituras ou descrita pelas autoridades. Vida humana é vida regulada, e não vida animal. Somente na vida regulada é que se pode compreender o conhecimento transcendental.