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VERSO 11

taṁ tvā gatāhaṁ śaraṇaṁ śaraṇyaṁ
sva-bhṛtya-saṁsāra-taroḥ kuṭhāram
jijñāsayāhaṁ prakṛteḥ pūruṣasya
namāmi sad-dharma-vidāṁ variṣṭham

tam — essa pessoa; tvā — a Ti; gatā — tenho ido; aham — eu; śaraṇam — abrigo; śaraṇyam — digno de ser abrigo de; sva-bhṛtya — para Teus dependentes; saṁsāra — da existência material; taroḥ — da árvore; kuṭhāram — o machado; jijñāsayā — com o desejo de conhecer; aham — eu; prakṛteḥ — de matéria (mulher); pūruṣasya — de espírito (homem); namāmi — presto reverências; sat-dharma — da ocupação eterna; vidām — dos conhecedores; variṣṭham — ao maior.

Devahūti continuou: Refugio-me a Teus pés de lótus porque és a única pessoa em quem posso me abrigar. És o machado que pode cortar a árvore da existência material. Portanto, presto minhas reverências a Ti, que és o maior de todos os transcendentalistas, e pergunto-Te sobre a relação entre homem e mulher e entre espírito e matéria.

SIGNIFICADO—A filosofia sāṅkhya, como é bem conhecida, trata de prakṛti e puruṣa. Puruṣa é a Suprema Personalidade de Deus ou qualquer pessoa que imite a Suprema Personalidade de Deus como desfrutador, e prakṛti significa “natureza”. Neste mundo material, os puruṣas, ou as entidades vivas, exploram a natureza material. As complexidades no mundo material, da relação entre prakṛti e puruṣa, ou entre desfrutado e desfrutador, chamam-se saṁsāra, ou enredamento material. Devahūti queria cortar a árvore do enredamento material e encontrou a arma adequada em Kapila Muni. A árvore da existência material é explicada no décimo quinto capítulo da Bhagavad-gītā como sendo uma árvore aśvattha, cuja raiz está para cima e cujos ramos estão para baixo. Recomenda-se, portanto, que devemos cortar a raiz dessa árvore da existência material com o machado do desapego. O que é o apego? O apego envolve prakṛti e puruṣa. As entidades vivas vivem tentando assenhorear-se da natureza material. Uma vez que a alma condicionada toma a natureza material como objeto de seu desfrute e assume a posição de desfrutador, ela é, portanto, chamada de puruṣa.

Devahūti interrogou Kapila Muni, pois sabia que somente Ele poderia cortar seu apego a este mundo material. As entidades vivas, disfarçadas de homens e mulheres, tentam desfrutar da energia material; por isso, num sentido, todos são puruṣas, visto que puruṣa significa “desfrutador”, e prakṛti, “desfrutado”. Neste mundo material, tanto o dito homem quanto a dita mulher vivem imitando o verdadeiro puruṣa. A Suprema Personalidade de Deus é realmente o desfrutador no sentido transcendental, ao passo que todos os demais são prakṛti. As entidades vivas são consideradas prakṛti. Na Bhagavad-gītā, analisa-se a matéria como aparā, ou natureza inferior, ao passo que, além desta natureza inferior, há outra natureza – superior –, ou seja, as entidades vivas. As entidades vivas também são prakṛti, ou desfrutadas, porém, sob o encanto de māyā, as entidades vivas tentam falsamente tomar a posição de desfrutadores. Essa é a causa do saṁsāra-bandha, ou vida condicional. Devahūti queria escapar da vida condicional e render-se plenamente. O Senhor é śaraṇya, que significa “a única pessoa digna de receber nossa plena rendição”, porque Ele é pleno de todas as opulências. Se alguém quer realmente alívio, a melhor coisa a se fazer é render-se à Suprema Personalidade de Deus. Nesta passagem, também se descreve o Senhor como sad-dharma-vidāṁ variṣṭham. Isto indica que, de todas as ocupações transcendentais, a melhor é o serviço amoroso eterno à Suprema Personalidade de Deus. Às vezes se traduz dharma como “religião”, mas não é este exatamente o significado. Dharma realmente significa “aquilo que não se pode abandonar”, “aquilo que é inseparável de alguém”. O calor do fogo é inseparável do fogo, logo o calor é considerado o dharma, ou natureza, do fogo. Analogamente, sad-dharma significa “ocupação eterna”. Essa ocupação eterna é dedicar-se ao transcendental serviço amoroso ao Senhor. O objetivo da filosofia sāṅkhya de Kapiladeva é propagar o serviço devocional puro e impoluto, em virtude do que Ele é chamado aqui de a mais importante personalidade entre aqueles que conhecem a ocupação transcendental da entidade viva.

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