VERSO 38
balaṁ me paśya māyāyāḥ
strī-mayyā jayino diśām
yā karoti padākrāntān
bhrūvi-jṛmbheṇa kevalam
balam — a força; me — Minha; paśya — mantidos; māyāyāḥ — de māyā; strī-mayyāḥ — sob a forma da mulher; jayinaḥ — conquistadores; diśām — de todas as direções; yā — quem; karoti — faz; pada-ākrāntān — seguindo suas pegadas; bhrūvi — de suas sobrancelhas; jṛmbheṇa — pelo movimento; kevalam — meramente.
Simplesmente tenta entender a poderosa força de Minha māyā na forma da mulher, que, pelo mero movimento de suas sobrancelhas, pode manter mesmo os maiores conquistadores do mundo sob seu controle.
SIGNIFICADO—Há muitos exemplos na história do mundo de grandes conquistadores que são cativados pelos encantos de uma Cleópatra. É preciso estudar a potência cativante da mulher e a atração que o homem sente por essa potência. De que fonte ela foi gerada? Segundo o Vedānta-sūtra, podemos entender que tudo é gerado da Suprema Personalidade de Deus. Ali se enuncia: janmādy asya yataḥ. Isso quer dizer que a Suprema Personalidade de Deus, ou seja, a Pessoa Suprema, Brahman, a Verdade Absoluta, é a fonte da qual tudo emana. O poder cativante da mulher, e a suscetibilidade do homem a tal atração, também existem necessariamente na Suprema Personalidade de Deus no mundo espiritual e estão necessariamente representados nos passatempos transcendentais do Senhor.
O Senhor é a Pessoa Suprema, o ser masculino supremo. Assim como um ser masculino comum quer ser atraído por um ser feminino, essa propensão existe de modo semelhante na Suprema Personalidade de Deus. Ele também quer ser atraído pelas belas feições de uma mulher. Portanto, a questão é: se Ele quer ser cativado por essa atração feminina, Ele seria atraído por qualquer mulher material? Isso não é possível. Mesmo pessoas que estão nesta existência material podem abandonar a atração por mulheres se são atraídas pelo Brahman Supremo. Foi o que ocorreu com Haridāsa Ṭhākura. Uma bela prostituta tentou atraí-lo na calada da noite, porém, como estava situado em serviço devocional, em transcendental amor por Deus, Haridāsa Ṭhākura não se deixou cativar. Pelo contrário, ele converteu a prostituta em grande devota através de sua associação transcendental. Portanto, certamente essa atração material não pode atrair o Senhor Supremo. Quando Ele quer Se deixar atrair por uma mulher, Ele tem de criar essa mulher a partir de Sua própria energia. Essa mulher é Rādhārāṇī. Os Gosvāmīs explicam que Rādhārāṇī é a manifestação da potência de prazer da Suprema Personalidade de Deus. Quando o Senhor Supremo deseja obter prazer transcendental, Ele tem de criar uma mulher a partir de Sua potência interna. Assim, a tendência a ser atraído pela beleza feminina é natural porque existe no mundo espiritual. No mundo material, ela se reflete pervertidamente, de modo que há muitos inebriamentos.
Ao invés de se deixar atrair pela beleza material, se alguém se acostuma a se sentir atraído pela beleza de Rādhārāṇī e Kṛṣṇa, então a afirmação da Bhagavad-gītā, paraṁ dṛṣṭvā nivartate, encerra a verdade. Quem se sente atraído pela beleza transcendental de Rādhā e Kṛṣṇa não sente mais atração pela beleza material feminina. Essa é a importância especial da adoração a Rādhā-Kṛṣṇa. Yāmunācārya atesta esse fato, dizendo: “Desde que me atraí pela beleza de Rādhā e Kṛṣṇa, quando sobrevém atração por uma mulher ou uma lembrança de vida sexual com uma mulher, eu imediatamente cuspo nisso, e meu rosto se contorce de desgosto.” Quando nos deixamos atrair por Madana-mohana e pela beleza de Kṛṣṇa e Suas consortes, então as algemas da vida condicionada, a saber, a beleza de uma mulher material, não podem nos atrair.