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Capítulo Trinta e Um

Instruções do Senhor Kapila sobre os Movimentos das Entidades Vivas

VERSO 1: A Personalidade de Deus disse: Sob a supervisão do Senhor Supremo e segundo o resultado de seu trabalho, a entidade viva, a alma, é forçada a entrar no ventre de uma mulher através da partícula do sêmen masculino para assumir um tipo de corpo em particular.

VERSO 2: Na primeira noite, o esperma e o óvulo se misturam, e, na quinta noite, a mistura fermenta, transformando-se numa bolha. Na décima noite, ela desenvolve-se, assumindo uma forma parecida com a da ameixa, após o que se transforma gradualmente num pedaço de carne ou num ovo, conforme o caso.

VERSO 3: No decorrer de um mês, forma-se uma cabeça, e, ao fim de dois meses, as mãos, pés e outros membros tomam forma. Lá pelo fim do terceiro mês, aparecem as unhas, os dedos das mãos e dos pés, os pelos do corpo, os ossos e a pele, bem como o órgão de geração e as demais aberturas no corpo, a saber, os olhos, as narinas, os ouvidos, a boca e o ânus.

VERSO 4: Dentro de quatro meses a partir da data de concepção, surgem os sete elementos essenciais do corpo, a saber, o quilo, o sangue, a carne, a gordura, os ossos, a medula e o sêmen. Ao final do quinto mês, a fome e a sede se fazem sentir, e, ao fim de seis meses, o feto, envolvido pelo âmnio, começa a se mexer no lado direito do abdômen.

VERSO 5: Obtendo sua nutrição da comida e da bebida ingeridas pela mãe, o feto cresce e permanece naquela residência abominável de fezes e urina, que é o lugar de procriação de todas as espécies de vermes.

VERSO 6: Tendo todo o seu corpo mordido repetidas vezes pelos vermes famintos que vivem no próprio abdômen, a criança sofre terrível agonia devido à sua fragilidade. Assim, ela cai inconsciente momento após momento devido à terrível condição.

VERSO 7: Devido à mãe comer alimentos amargos e picantes, ou alimentos que são demasiadamente salgados ou muito azedos, o corpo da criança sofre incessantemente dores que são quase intoleráveis.

VERSO 8: Situada no âmnio e coberta externamente pelos intestinos, a criança permanece deitada num lado do abdômen, com a cabeça voltada para seu abdômen, e suas costas e pescoço recurvados como um arco.

VERSO 9: Assim, a criança permanece como um pássaro numa gaiola, sem liberdade de movimento. Nesse momento, se a criança é afortunada, ela pode se lembrar de todos os incômodos de seus cem nascimentos passados, e se angustia desditosamente. Qual é a possibilidade de paz de espírito nessa condição?

VERSO 10: Assim dotada com o desenvolvimento de consciência a partir do sétimo mês após sua concepção, a criança é empurrada para baixo pelos ares que pressionam o embrião durante as semanas que precedem o parto. Assim como os vermes nascidos da mesma imunda cavidade abdominal, ela não consegue permanecer num só lugar.

VERSO 11: A entidade viva nesta terrível condição de vida, atada por sete camadas de ingredientes materiais, ora de mãos postas, recorrendo ao Senhor, que a colocou naquela condição.

VERSO 12: A alma humana diz: Refugio-me aos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus, que aparece em Suas várias formas eternas e caminha sobre a superfície do mundo. Refugio-me unicamente nEle, porque Ele pode dar-me alívio de todo o temor e dEle recebi esta condição de vida, que é precisamente adequada às minhas atividades impiedosas.

VERSO 13: Eu, a alma pura, aparecendo agora atada por minhas atividades, encontro-me no ventre de minha mãe pelo arranjo de māyā. Ofereço minhas respeitosas reverências a Ele, que também está aqui comigo, mas que é inafetável e imutável. Ele é ilimitado, mas é perceptível para o coração arrependido. A Ele ofereço minhas respeitosas reverências.

VERSO 14: Estou separada do Senhor por estar neste corpo material, que é feito de cinco elementos, e por isso minhas qualidades e sentidos estão sendo mal utilizados, visto que sou essencialmente espiritual. Porque a Suprema Personalidade de Deus é transcendental à natureza material e às entidades vivas, porque Ele é desprovido de semelhante corpo material e porque é sempre glorioso em Suas qualidades espirituais, ofereço-Lhe minhas reverências.

VERSO 15: A alma humana continua orando: A entidade viva é posta sob a influência da natureza material e continua sua árdua luta pela vida no caminho de repetidos nascimentos e mortes. Essa vida condicional se deve a seu esquecimento de sua relação com a Suprema Personalidade de Deus. Portanto, sem a misericórdia do Senhor, como ela poderá ocupar-se novamente em transcendental serviço amoroso ao Senhor?

VERSO 16: Ninguém além da Suprema Personalidade de Deus, como o Paramātmā localizado, a representação parcial do Senhor, orienta todos os objetos animados e inanimados. Ele está presente nas três fases do tempo – passado, presente e futuro. Portanto, a alma condicionada dedica-se a diferentes atividades sob Sua direção, e, a fim de nos livrarmos das três espécies de sofrimentos desta vida condicionada, basta nos rendermos a Ele.

VERSO 17: Caída numa poça de sangue, fezes e urina dentro do abdômen de sua mãe, com seu próprio corpo queimado pelo fogo gástrico da mãe, a alma corporificada, ansiosa por sair dali, conta seus meses e ora: “Ó meu Senhor, quando eu, mísera alma, estarei livre deste confinamento?”

VERSO 18: Meu querido Senhor, por Vossa misericórdia imotivada, despertei para a consciência, embora eu tenha apenas dez meses de idade. Não tenho como expressar minha gratidão por essa misericórdia imotivada da Suprema Personalidade de Deus, o amigo de todas as almas caídas, senão por orar com as mãos postas.

VERSO 19: Em outro tipo de corpo, a entidade viva vê somente por instinto; ela conhece apenas as percepções sensoriais agradáveis e desagradáveis daquele corpo em particular. Eu, porém, tenho um corpo no qual posso controlar meus sentidos e posso entender meu destino; portanto, ofereço minhas respeitosas reverências à Suprema Personalidade de Deus, por quem fui abençoada com este corpo e por cuja graça posso vê-lO interna e externamente.

VERSO 20: Portanto, meu Senhor, embora eu esteja vivendo em uma condição terrível, não desejo sair do abdômen de minha mãe para cair novamente no poço escuro da vida materialista. Vossa energia externa, chamada deva-māyā, logo captura a criança recém-nascida, e imediatamente a falsa identificação começa, sendo o início do ciclo de contínuos nascimentos e mortes.

VERSO 21: Portanto, sem me perturbar mais, eu me libertarei da escuridão da ignorância com a ajuda de minha amiga, a consciência límpida. Simplesmente mantendo os pés de lótus do Senhor Viṣṇu em minha mente, serei poupada de entrar nos ventres de muitas mães para repetidos nascimentos e mortes.

VERSO 22: O Senhor Kapila continuou: A entidade viva de dez meses de idade tem esses desejos mesmo enquanto está no ventre. Porém, enquanto enaltece o Senhor dessa maneira, o vento que auxilia o parto a impele para a frente, com seu rosto voltado para baixo, para que ela possa nascer.

VERSO 23: Empurrada subitamente para baixo pelo vento, a criança sai com grande dificuldade, de cabeça para baixo, sem respiração e privada de memória devido à rigorosa agonia.

VERSO 24: Assim, a criança cai ao solo, untada com fezes e sangue, e se agita tal qual um verme nascido do excremento. Ela perde seu conhecimento superior e chora sob o encanto de māyā.

VERSO 25: Após sair do abdômen, a criança é entregue aos cuidados de pessoas incapazes de entender o que ela quer, pelas quais ela é cuidada. Incapaz de recusar qualquer coisa que lhe dão, ela se vê sujeita a circunstâncias indesejáveis.

VERSO 26: Deitada em cama malcheirosa e infestada de suor e germes, a pobre criança é incapaz de coçar seu corpo para aliviar-se de sua sensação de coceira, isso para não falar de sentar-se, ficar de pé ou mesmo mexer-se.

VERSO 27: Em sua condição desamparada, moscas, mosquitos, pulgas e muitos germes mordem o bebê, cuja pele é delicada, assim como vermes menores mordem um verme grande. Privada de conhecimento, a criança chora amargamente.

VERSO 28: Dessa maneira, a criança atravessa sua infância, sofrendo diferentes espécies de aflições, e chega à meninice. A meninice também lhe traz sofrimentos devido aos desejos de obter coisas que nunca pode obter. E assim, devido à ignorância, ela se torna irada e pesarosa.

VERSO 29: Com o crescimento do corpo, a entidade viva, a fim de aniquilar sua alma, aumenta seu falso prestígio e sua ira e, desse modo, cria hostilidade contra pessoas similarmente luxuriosas.

VERSO 30: Devido a tal ignorância, a entidade viva aceita o corpo material, que é feito de cinco elementos, como sendo ela mesma. Com essa compreensão falsa, ela aceita coisas impermanentes como sua propriedade e aumenta sua ignorância até a mais escura região.

VERSO 31: Para o benefício do corpo, que é fonte de constantes incômodos para ela e que a acompanha por ela estar atada pelos laços da ignorância e das atividades fruitivas, ela executa várias ações que fazem com que ela se sujeite a repetidos nascimentos e mortes.

VERSO 32: Se, portanto, a entidade viva novamente se associa com o caminho da iniquidade, influenciada por pessoas de mentalidade sensual ocupadas na busca de desfrute sexual e da satisfação do paladar, ela retorna ao inferno, como antes.

VERSO 33: Ela se torna desprovida de veracidade, limpeza, misericórdia, gravidade, inteligência espiritual, recato, austeridade, fama, indulgência, controle da mente, controle dos sentidos, fortuna e todas as oportunidades semelhantes.

VERSO 34: Ninguém deve se associar com um tolo vulgar que seja desprovido de conhecimento da autorrealização e que não passe de um cachorro bailarino nas mãos de uma mulher.

VERSO 35: Para um homem, a paixão e o cativeiro que resultam do apego a qualquer outro objeto não são tão completos como os resultantes do apego a uma mulher ou à companhia de homens que gostam excessivamente de mulheres.

VERSO 36: Ao ver sua própria filha, Brahmā foi confundido por seus encantos e descaradamente correu em sua direção sob a forma de um veado quando ela assumiu a forma de uma corça.

VERSO 37: Dentre todas as espécies de entidades vivas geradas por Brahmā, a saber, homens, semideuses e animais, ninguém além do sábio Nārāyaṇa é imune à atração de māyā sob a forma da mulher.

VERSO 38: Simplesmente tenta entender a poderosa força de Minha māyā na forma da mulher, que, pelo mero movimento de suas sobrancelhas, pode manter mesmo os maiores conquistadores do mundo sob seu controle.

VERSO 39: Aquele que aspira alcançar o ápice do yoga e compreende seu eu, prestando-Me serviço, não deve jamais se associar com uma mulher atrativa, pois as escrituras declaram que tal mulher é o portão do inferno para o devoto que está avançando.

VERSO 40: A mulher, criada pelo Senhor, é a representação de māyā, e aquele que se associar com tal māyā, aceitando serviços, ficará sabendo com certeza que esse é o caminho da morte, assim como um poço camuflado coberto com grama.

VERSO 41: Uma entidade viva que, como resultado do apego a uma mulher em sua vida anterior, recebeu a forma de uma mulher, olha tolamente para māyā na forma de um homem, seu esposo, considerando que se trata do outorgador de riqueza, progênie, casa e outros bens materiais.

VERSO 42: Portanto, a mulher deve considerar que seu esposo, seu lar e seus filhos são o arranjo da energia externa do Senhor para sua morte, assim como o doce cantar do caçador é a morte para o veado.

VERSO 43: Devido a seu tipo de corpo em particular, a entidade viva materialista vagueia de um planeta a outro, acompanhando suas atividades fruitivas. Dessa maneira, ela se envolve em atividades fruitivas e desfruta os resultados incessantemente.

VERSO 44: Dessa maneira, a entidade viva obtém um corpo adequado com mente e sentidos materiais, de acordo com suas atividades fruitivas. Quando as reações de suas atividades em particular chegam ao fim, esse fim se chama morte, e quando uma série de reações em particular começa, esse início se chama nascimento.

VERSOS 45-46: Quando os olhos perdem sua capacidade de ver cor ou forma devido à aflição mórbida do nervo ótico, o sentido da visão se torna insensível. A entidade viva, que é o vidente tanto dos olhos quanto da visão, perde sua capacidade de visão. Da mesma maneira, quando o corpo físico, o local onde ocorre a percepção dos objetos, perde sua capacidade de percepção, isso é conhecido como morte. Quando alguém começa a contemplar o corpo físico como seu próprio eu, isso se chama nascimento.

VERSO 47: Portanto, ninguém deve encarar a morte com horror, nem recorrer a definir o corpo como a alma, nem ceder a exageros ao usufruir das necessidades corpóreas da vida. Compreendendo a verdadeira natureza da entidade viva, cada um deve movimentar-se pelo mundo afora, livre do apego e firme em seu propósito.

VERSO 48: Dotada de visão correta e fortalecida pelo serviço devocional e por atitude pessimista quanto à identidade material, a pessoa deve relegar seu corpo a este mundo ilusório através de sua razão. Assim, ela pode ficar indiferente a este mundo material.

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