VERSOS 12-15
ādyaḥ sthira-carāṇāṁ yo
veda-garbhaḥ saharṣibhiḥ
yogeśvaraiḥ kumārādyaiḥ
siddhair yoga-pravartakaiḥ
bheda-dṛṣṭyābhimānena
niḥsaṅgenāpi karmaṇā
kartṛtvāt saguṇaṁ brahma
puruṣaṁ puruṣarṣabham
sa saṁsṛtya punaḥ kāle
kāleneśvara-mūrtinā
jāte guṇa-vyatikare
yathā-pūrvaṁ prajāyate
aiśvaryaṁ pārameṣṭhyaṁ ca
te ’pi dharma-vinirmitam
niṣevya punar āyānti
guṇa-vyatikare sati
ādyaḥ — o criador, senhor Brahmā; sthira-carāṇām — das manifestações imóveis e móveis; yaḥ — aquele que; veda-garbhaḥ — o receptáculo dos Vedas; saha — juntamente com; ṛṣibhiḥ — os sábios; yoga-īśvaraiḥ — com grandes yogīs místicos; kumāra-ādyaiḥ — os Kumāras e outros; siddhaiḥ — com os seres vivos perfeitos; yoga-pravartakaiḥ — os autores do sistema de yoga; bheda-dṛṣṭyā — por causa de visão independente; abhimānena — pelo equívoco; niḥsaṅgena — não-fruitivas; api — embora; karmaṇā — pelas atividades deles; kartṛtvāt — do sentido de ser o autor; sa-guṇam — possuindo qualidades espirituais; brahma — Brahman; puruṣam — a Personalidade de Deus; puruṣa-ṛṣabham — a primeira encarnação puruṣa; saḥ — ele; saṁsṛtya — tendo alcançado; punaḥ — novamente; kāle — no momento; kālena — pelo tempo; īśvara-mūrtinā — a manifestação do Senhor; jāte guṇa-vyatikare — quando surge a interação dos modos; yathā — como; pūrvam — anteriormente; prajāyate — nasce; aiśvaryam — opulência; pārameṣṭhyam — real; ca — e; te — os sábios; api — também; dharma — por suas atividades piedosas; vinirmitam — produzidas; niṣevya — tendo desfrutado; punaḥ — novamente; āyānti — eles retornam; guṇa-vyatikare sati — quando ocorre a interação dos modos.
Minha querida mãe, pode ser que alguém adore a Suprema Personalidade de Deus com um interesse próprio especial, mas mesmo semideuses tais como o senhor Brahmā, grandes sábios tais como Sanat-kumāra e grandes munis como Marīci são obrigados a voltar ao mundo material novamente no momento da criação. Quando começa a interação dos três modos da natureza material, Brahmā, que é o criador desta manifestação cósmica e que é pleno de conhecimento védico, e os grandes sábios, que são os autores do caminho espiritual e do sistema de yoga, voltam sob a influência do fator tempo. Eles são liberados por suas atividades não-fruitivas e alcançam a primeira encarnação do puruṣa, porém, no momento da criação, eles voltam exatamente nas mesmas formas e posições que tinham anteriormente.
SIGNIFICADO—Todos sabem que Brahmā se libera, mas ele não pode liberar seus devotos. Semideuses como Brahmā e o senhor Śiva não podem conceder a liberação a nenhuma entidade viva. Como se confirma na Bhagavad-gītā, somente aquele que se rende a Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, pode libertar-se das garras de māyā. Brahmā é chamado aqui de ādyaḥ sthira-carāṇām. Ele é a entidade viva original, criada em primeiro lugar, e, após seu próprio nascimento, ele cria toda a manifestação cósmica. O Senhor Supremo lhe deu todas as instruções a respeito da criação. Aqui ele é chamado de veda-garbha, o que significa que ele conhece o propósito completo dos Vedas. Ele anda sempre acompanhado por grandes personalidades, tais como Marīci, Kaśyapa e os sete sábios, bem como por grandes yogīs místicos, os Kumāras e muitas outras entidades vivas espiritualmente avançadas, mas ele tem seu próprio interesse, separado do interesse do Senhor. Bheda-dṛṣṭyā quer dizer que Brahmā às vezes se julga independente do Senhor Supremo, ou julga-se uma das três encarnações igualmente independentes. Brahmā encarrega-se da criação, Viṣṇu a mantém, e Rudra, o senhor Śiva, destrói a mesma. Os três são tidos como encarnações do Senhor Supremo, encarregados dos três diferentes modos materiais da natureza, mas nenhum deles é independente da Suprema Personalidade de Deus. A palavra bheda-dṛṣṭyā ocorre aqui porque Brahmā tem uma leve tendência a pensar que é tão independente como Rudra. Algumas vezes, Brahmā pensa que é independente do Senhor Supremo, e o adorador também pensa que Brahmā é independente. Por esse motivo, após a destruição deste mundo material, quando outra vez ocorre a criação pela interação dos modos da natureza material, Brahmā volta. Embora Brahmā alcance a Suprema Personalidade de Deus como a primeira encarnação puruṣa, Mahā-Viṣṇu, que é pleno de qualidades transcendentais, ele não pode permanecer no mundo espiritual.
Note-se a importância específica de sua volta. Brahmā e os grandes ṛṣis e o grande mestre do yoga (Śiva) não são entidades vivas comuns – eles são muito poderosos e têm todas as perfeições do yoga místico. Mesmo assim, no entanto, eles têm uma tendência de tentar tornar-se unos com o Supremo, em virtude do que são obrigados a voltar. No Śrīmad-Bhāgavatam, aceita-se que, enquanto alguém pensar que é igual à Suprema Personalidade de Deus, não estará plenamente purificado ou bem informado. Apesar de irem até o primeiro puruṣa-avatāra, Mahā-Viṣṇu, após a dissolução desta criação material, tais personalidades caem novamente ou voltam à criação material.
É um grande erro da parte dos impersonalistas pensarem que o Senhor Supremo aparece dentro de um corpo material e que, portanto, não devemos meditar na forma do Supremo, mas devemos meditar, ao invés disso, em algo sem forma. Por esse erro específico, mesmo os grandes yogīs místicos ou grandes transcendentalistas resolutos também retornam quando ocorre a criação. Todas as entidades vivas além dos impersonalistas e monistas podem adotar diretamente o serviço devocional em plena consciência de Kṛṣṇa e libertar-se desenvolvendo transcendental serviço amoroso à Suprema Personalidade de Deus. Esse serviço devocional desenvolve-se nos graus de pensar no Senhor Supremo como mestre, como amigo, como filho e, enfim, como amante. Essas distinções de variedades transcendentais deverão sempre estar presentes.