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VERSO 26

brahmaṇy avasthita-matir
bhagavaty ātma-saṁśraye
nivṛtta-jīvāpattitvāt
kṣīṇa-kleśāpta-nirvṛtiḥ

brahmaṇi — em Brahman; avasthita — situada; matiḥ — sua mente; bhagavati — na Suprema Personalidade de Deus; ātma-saṁśraye — residindo em todas as entidades vivas; nivṛtta — livre; jīva — da alma jīva; āpattitvāt — da condição desventurada; kṣīṇa — desapareceram; kleśa — dores materiais; āpta — alcançou; nirvṛtiḥ — bem-aventurança transcendental.

Sua mente se absorveu por completo no Senhor Supremo, e ela automaticamente compreendeu o conhecimento do Brahman impessoal. Como uma alma realizada em Brahman, ela se livrou das designações do conceito materialista de vida. Assim, todas as dores materiais desapareceram, e ela alcançou bem-aventurança transcendental.

SIGNIFICADO—O verso anterior declara que Devahūti já era versada na Verdade Absoluta. Pode ser que se pergunte por qual motivo ela estava meditando. A explicação é que, quando alguém discute teoricamente a Verdade Absoluta, ele se situa no conceito impessoal da Verdade Absoluta. De forma semelhante, quando alguém discute seriamente o tema da forma, qualidades, passatempos e séquito da Suprema Personalidade de Deus, ele se situa em meditação nEle. Para quem tem conhecimento pleno do Senhor Supremo, o conhecimento do Brahman é compreendido automaticamente. O conhecedor compreende a Verdade Absoluta segundo três diferentes pontos de vista, a saber, como o Brahman impessoal, como a Superalma localizada e, finalmente, como a Suprema Personalidade de Deus. Portanto, se alguém se situa em conhecimento da Suprema Personalidade de Deus, isso implica em ele já estar situado no conceito da Superalma e do Brahman impessoal.

Na Bhagavad-gītā, declara-se: brahma-bhūtaḥ prasannātmā. Isso significa que, a menos que nos livremos do enredamento material e nos situemos em Brahman, não há possibilidade de chegarmos a compreender o serviço devocional ou nos ocuparmos em consciência de Kṛṣṇa. Aquele que se ocupa em serviço devocional a Kṛṣṇa é considerado como alguém que já compreendeu o conceito Brahman de vida, dado que o conhecimento transcendental da Suprema Personalidade de Deus inclui o conhecimento do Brahman. Confirma-se isso na Bhagavad-gītā. Brahmaṇo hi pratiṣṭhāham: o conceito da Personalidade de Deus não depende do Brahman. O Viṣṇu Purāṇa também confirma que quem se refugia no todo-auspicioso Senhor Supremo já está situado na compreensão de Brahman. Em outras palavras, quem é vaiṣṇava já é brāhmaṇa.

Outro ponto significativo deste verso é que é preciso observar as regras e regulações prescritas: Como se confirma na Bhagavad-gītā, yuktāhāra-vihārasya. Quando alguém se ocupa em serviço devocional em consciência de Kṛṣṇa, ele ainda precisa comer, dormir, defender-se e acasalar-se porque essas são necessidades do corpo. Porém, ele pratica essas atividades de maneira regulada. Ele tem de comer kṛṣṇa-prasāda. Ele tem de dormir de acordo com princípios regulados. O princípio é reduzir a duração do sono e reduzir a alimentação, aceitando somente o que seja necessário para manter o corpo em boas condições. Em suma, a meta é o avanço espiritual, e não o gozo dos sentidos. Do mesmo modo, deve-se reduzir a vida sexual, que se destina apenas a gerar filhos conscientes de Kṛṣṇa. Se não para isso, não há necessidade de vida sexual. Nada é proibido, mas tudo é feito yukta, reguladamente, tendo sempre em mente o propósito superior. Seguindo todas essas regras e regulações de vida, purificamo-nos, e todos os equívocos devidos à ignorância são eliminados. Menciona-se aqui especificamente que as causas do enredamento material se extinguem completamente.

A afirmação sânscrita anartha-nivṛtti indica que este corpo é indesejável. Somos almas espirituais, e nunca tivemos necessidade deste corpo material. Todavia, porque quisemos desfrutar do corpo material, obtivemos este corpo, através da energia material, sob a orientação da Suprema Personalidade de Deus. Tão logo nos restabeleçamos em nossa posição original de serviço ao Senhor Supremo, começamos a nos esquecer das necessidades do corpo e, por fim, esquecemo-nos do corpo.

Às vezes, ao sonhar, obtemos um tipo de corpo em particular com o qual agimos no sonho. Pode ser que eu sonhe que estou voando no céu ou que fui à floresta ou a algum lugar desconhecido. No entanto, logo que eu desperto, esqueço-me de todos esses corpos. Analogamente, quem é consciente de Kṛṣṇa, plenamente devotado, esquece-se de todas as suas mudanças de corpo. Vivemos mudando de corpo, começando com o nascimento a partir do ventre de nossa mãe. Todavia, quando despertamos para a consciência de Kṛṣṇa, esquecemo-nos de todos esses corpos. As necessidades corpóreas tornam-se secundárias, pois a necessidade primária é a ocupação da alma em verdadeira vida espiritual. As atividades de serviço devocional em plena consciência de Kṛṣṇa são a causa de nos situarmos em transcendência. As palavras bhagavaty ātma-saṁśraye denotam a Personalidade de Deus como a Alma Suprema, ou a alma de todos. Na Bhagavad-gītā, Kṛṣṇa diz, bījaṁ māṁ sarva-bhūtānām: “Eu sou a semente de todas as entidades.” Refugiando-nos no Ser Supremo mediante o processo de serviço devocional, situamo-nos plenamente no conceito da Personalidade de Deus. Como descreve Kapila, mad-guṇa-śruti-mātrena: quem é plenamente consciente de Kṛṣṇa, situado na Personalidade de Deus, satura-se de amor a Deus no mesmo instante em que ouça sobre as qualidades transcendentais do Senhor.

Devahūti recebeu instruções completas de seu filho, Kapiladeva, sobre como concentrar sua mente na forma de Viṣṇu, com os mínimos pormenores. Seguindo a instrução de seu filho quanto ao serviço devocional, ela contemplava a forma do Senhor dentro de si mesma com grande amor devocional. Essa é a perfeição da compreensão do Brahman, ou do sistema de yoga místico, ou do serviço devocional. Em última análise, quando alguém se absorve plenamente em pensar no Senhor Supremo e medita nEle constantemente, essa é a perfeição máxima. A Bhagavad-gītā confirma que quem está sempre absorto dessa maneira deve ser considerado o yogī mais elevado.

O verdadeiro objetivo de todos os processos de compreensão transcendental – jñāna-yoga, dhyāna-yoga ou bhakti-yoga – é chegar ao ponto do serviço devocional. Quem se esforça simplesmente para adquirir conhecimento da Verdade Absoluta ou da Superalma, mas não tem serviço devocional, esforça-se sem obter o verdadeiro resultado. Compara-se isso a debulhar as palhas de trigo depois que os grãos já foram removidos. A menos que se compreenda a Suprema Personalidade de Deus como a meta derradeira, é inútil especular ou executar a prática de yoga místico. No sistema de aṣṭāṅga-yoga, a sétima fase de perfeição se chama dhyāna. Esse dhyāna é a terceira fase do serviço devocional. Há nove fases de serviço devocional. A primeira é ouvir, logo se segue o cantar e, então, o contemplar. Executando serviço devocional, portanto, tornamo-nos automaticamente jñānīs peritos e yogīs peritos. Em outras palavras, jñāna e yoga são diferentes fases preliminares do serviço devocional.

Devahūti era perita em aceitar a verdadeira substância: ela contemplava a forma de Viṣṇu detalhadamente, conforme lhe aconselhara seu sorridente filho, Kapiladeva. Ao mesmo tempo, ela pensava em Kapiladeva, que é a Suprema Personalidade de Deus, daí ela ter levado inteiramente à perfeição suas austeridades, penitências e compreensão transcendental.

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