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VERSO 16

karmāṇy anīhasya bhavo ’bhavasya te
durgāśrayo ’thāri-bhayāt palāyanam
kālātmano yat pramadā-yutāśramaḥ
svātman-rateḥ khidyati dhīr vidām iha

karmāṇi — atividades; anīhasya — daquele que não tem desejos; bhavaḥ — nascimento; abhavasya — daquele que nunca nasce; te — teu; durga-āśrayaḥ — refugiando-Se no forte; atha — depois disso; ari-bhayāt — por temor aos inimigos; palāyanam — foges; kāla-ātmanaḥ — daquele que é o controlador do tempo eterno; yat — que; pramadā-āyuta — na companhia de mulheres; āśramaḥ — vida familiar; sva-ātman — conTigo mesmo; rateḥ — aquele que desfruta; khidyati — é perturbado; dhīḥ — inteligência; vidām — do erudito; iha — neste mundo.

Meu Senhor, mesmo os sábios eruditos ficam intelectualmente perturbados ao verem que Tu, em Tua grandeza, Te ocupas em trabalho fruitivo apesar de seres livre de todos os desejos, que nasces apesar de seres não-nascido, que foges por temor ao inimigo e Te refugias em um forte embora sejas o controlador do tempo invencível, e que gozas da vida familiar rodeado por muitas mulheres embora desfrutes em Ti mesmo.

SIGNIFICADO—Os devotos puros do Senhor não estão muito interessados na especulação filosófica relativa ao conhecimento transcendental do Senhor. Tampouco é possível adquirir conhecimento completo sobre o Senhor. O pouco conhecimento que eles tenham sobre o Senhor é suficiente para eles porque os devotos se satisfazem simplesmente com o processo de ouvir e cantar sobre os passatempos transcendentais do Senhor. Isso lhes dá toda a bem-aventurança transcendental. Porém, alguns dos passatempos do Senhor parecem ser contraditórios, inclusive para esses devotos puros, daí Uddhava ter indagado do Senhor sobre alguns dos incidentes contraditórios em Seus passatempos. É descrito que o Senhor nada tem a fazer pessoalmente, e isso é realmente um fato porque, mesmo na criação e sustentação do mundo material, o Senhor nada tem a fazer. Parece contraditório, então, ouvir que o Senhor ergue pessoalmente a colina Govardhana para a proteção de Seus devotos puros. O Senhor é o Brahman Supremo, a Verdade Absoluta, a Personalidade de Deus que aparece como um homem, mas Uddhava tinha dúvidas sobre a possibilidade de Ele ter tantas atividades transcendentais.

Não há diferença entre a Personalidade de Deus e o Brahman impessoal. Como, então, o Senhor pode ter tantas coisas a fazer, ao passo que é declarado que o Brahman impessoal nada tem a fazer, nem material, nem espiritualmente? Se o Senhor é eternamente não-nascido, como, então, Ele nasce como o filho de Vasudeva e Devakī? Ele é temível até para kāla, o medo supremo, apesar do que o Senhor tem medo de lutar contra Jarāsandha e Se refugia em um forte. Como alguém que é pleno em Si mesmo pode sentir prazer na companhia de muitas mulheres? Como Ele pode aceitar esposas e, tal qual um chefe de família, sentir prazer na companhia dos membros familiares, filhos, parentes e pais? Todos esses acontecimentos aparentemente contraditórios confundem inclusive os maiores estudiosos eruditos, os quais, desorientados dessa maneira, não podem entender se a inatividade é um fato ou se Suas atividades são apenas imitações.

A solução é que o Senhor nada tem a ver com nenhuma coisa mundana. Todas as Suas atividades são transcendentais. Isso não pode ser entendido pelos especuladores mundanos. Para os especuladores mundanos, isso é certamente um tipo de confusão, mas, para os devotos transcendentais, não há nada de surpreendente nisso. A concepção Brahman da Verdade Absoluta é certamente a negação de todas as atividades mundanas, mas a concepção Parabrahman é cheia de atividades transcendentais. Aquele que conhece as distinções entre a concepção do Brahman e a concepção do Brahman Supremo é certamente o verdadeiro transcendentalista. Não há desorientação para esses transcendentalistas. O próprio Senhor também declara na Bhagavad-gītā (10.2): “Mesmo os grandes sábios e semideuses mal podem conhecer algo sobre Minhas atividades e potências transcendentais.” A explicação correta sobre as atividades do Senhor é dada pelo avô Bhīṣmadeva (Śrīmad-Bhāgavatam 1.9.16) como se segue:

na hy asya karhicid rājan
pumān veda vidhitsitam
yad-vijijñāsayā yuktā
muhyanti kavayo ’pi hi

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