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Capítulo Quatro

Vidura Aproxima-se de Maitreya

VERSO 1: Depois disso, todos eles [os descendentes de Vṛṣṇi e Bhoja], recebendo permissão dos brāhmaṇas, compartilharam dos restos de prasāda e também consumiram uma bebida alcóolica feita de arroz. Ao beberem, todos eles ficaram embriagados e, privados de conhecimento, feriram os corações uns dos outros com palavras desagradáveis.

VERSO 2: Assim como pela fricção de bambus ocorre a destruição, da mesma forma, ao pôr do sol, pela interação dos deslizes da embriaguez, todos eles ficaram mentalmente desequilibrados, e ocorreu a destruição.

VERSO 3: Após antever o fim [de Sua família] por intermédio de Sua potência interna, o Senhor Śrī Kṛṣṇa, a Personalidade de Deus, dirigiu-Se às margens do rio Sarasvatī, sorveu um pouco de água e sentou-Se debaixo de uma árvore.

VERSO 4: O Senhor é o destruidor das aflições daquele que é rendido a Ele. Assim, aquele que desejou destruir Sua família mandou anteriormente que eu fosse para Badarikāśrama.

VERSO 5: Não obstante, apesar de saber de Seu desejo [destruir a dinastia], ó Arindama [Vidura], eu O segui porque, para mim, era impossível suportar a saudade dos pés de lótus do amo.

VERSO 6: Seguindo-O assim, vi meu patrono e mestre [o Senhor Śrī Kṛṣṇa], sentado sozinho e absorto em pensamentos, refugiar-Se às. margens do rio Sarasvatī, embora Ele seja o refúgio da deusa da fortuna.

VERSO 7: O corpo do Senhor é negro, mas é eterno, pleno de bem-aventurança e conhecimento, e belíssimo. Seus olhos são sempre pacíficos e avermelhados como o Sol nascendo de manhã. Pude reconhecê-lO imediatamente como a Suprema Personalidade de Deus por Suas quatro mãos, diferentes representações simbólicas e roupas de seda amarela.

VERSO 8: O Senhor estava sentado, recostado a uma figueira-de-bengala nova, com Seu pé de lótus direito sobre Sua coxa esquerda, e, embora tivesse abandonado todos os confortos domésticos, Ele parecia bastante alegre naquela postura.

VERSO 9: Então, após ter viajado por muitas partes do mundo, Maitreya, um grande devoto do Senhor e um amigo e benquerente do grande sábio Kṛṣṇa-dvaipāyana Vyāsa, chegou àquele local movido por sua iniciativa perfeita.

VERSO 10: Maitreya Muni era muito apegado a Ele [o Senhor], e ouvia numa atitude complacente, com os ombros para baixo. Com um sorriso e um olhar amável para mim, tendo permitido que eu descansasse, o Senhor falou o seguinte.

VERSO 11: Ó Vasu, Eu sei, a partir do interior de tua mente, o que desejaste em tempos passados quando os Vasus e outros semideuses responsáveis por expandir os assuntos universais executaram sacrifícios. Tu particularmente desejaste obter Minha companhia. Isso é muito difícil de ser obtido por outras pessoas, mas Eu o concedo a ti.

VERSO 12: Ó honesto, tua vida atual é a última e a principal porque, neste período de vida, foste recompensado com Meu favor último. Agora podes ir para Minha morada transcendental, Vaikuṇṭha, deixando este universo das entidades vivas condicionadas. Tua visita a Mim neste local solitário por causa de teu serviço devocional puro e inabalável é uma grande bênção para ti.

VERSO 13: Ó Uddhava, no milênio de lótus de outrora, no começo da criação, Eu falei a Brahmā, que está situado no lótus que cresce de Meu umbigo, sobre Minhas glórias transcendentais, que os grandes sábios descrevem sob a forma do Śrīmad-Bhāgavatam.

VERSO 14: Uddhava disse: Ó Vidura, por ser assim favorecido a cada instante pela Suprema Personalidade de Deus e por Ele Se dirigir a mim com muita afeição, minhas palavras desfizeram-se em lágrimas e os pelos de meu corpo se arrepiaram. Após enxugar minhas lágrimas, eu, juntando as palmas de minhas mãos, falei assim.

VERSO 15: Ó meu Senhor, os devotos que se ocupam no transcendental serviço amoroso a Teus pés de lótus não têm dificuldade em obter nada dentro da esfera dos quatro princípios de religiosidade, desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos e liberação. Contudo, ó grandioso, quanto a mim, prefiro ocupar-me apenas no serviço amoroso a Teus pés de lótus.

VERSO 16: Meu Senhor, mesmo os sábios eruditos ficam intelectualmente perturbados ao verem que Tu, em Tua grandeza, Te ocupas em trabalho fruitivo apesar de seres livre de todos os desejos, que nasces apesar de seres não-nascido, que foges por temor ao inimigo e Te refugias em um forte embora sejas o controlador do tempo invencível, e que gozas da vida familiar rodeado por muitas mulheres embora desfrutes em Ti mesmo.

VERSO 17: Ó meu Senhor, o Teu Eu eterno nunca é dividido pela influência do tempo, e Teu conhecimento perfeito não possui limites. Assim, és suficientemente capaz para consultar-Te conTigo mesmo, mas Tu me chamaste para Te consultares comigo, como se estivesses desorientado, embora nunca Te desorientes. E esse Teu ato me desorienta.

VERSO 18: Meu Senhor, explica-nos, por favor, se nos consideras competentes para receber este conhecimento transcendental que esclarece acerca de Ti e que explicaste anteriormente a Brahmājī.

VERSO 19: Quando exprimi assim meus desejos sinceros à Suprema Personalidade de Deus, o Senhor de olhos de lótus instruiu-me sobre Sua posição transcendental.

VERSO 20: Eu estudei o caminho do entendimento do conhecimento do eu com meu mestre espiritual, a Personalidade de Deus, e assim, após O circum-ambular, vim a este lugar, muitíssimo aflito devido à separação.

VERSO 21: Meu querido Vidura, agora enlouqueci pela falta do prazer de ver o Senhor, e, apenas para mitigar isso, estou indo agora para Badarikāśrama, nos Himalaias, em busca de associação, conforme as instruções que recebi dEle.

VERSO 22: Ali em Badarikāśrama, a Personalidade de Deus, em Sua encarnação como os sábios Nara e Nārāyaṇa, tem Se submetido a muitas penitências desde tempos imemoriais para o bem-estar de todas as amáveis entidades vivas.

VERSO 23: Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Após ouvir de Uddhava tudo sobre a aniquilação de seus amigos e parentes, o erudito Vidura aplacou sua intensa privação por meio de seu conhecimento transcendental.

VERSO 24: Enquanto Uddhava, o principal e mais confidencial entre os devotos do Senhor, estava partindo, Vidura, com afeição e confiança, perguntou a ele.

VERSO 25: Vidura disse: Ó Uddhava, porque os servos de Viṣṇu, o Senhor, peregrinam com o interesse de servir aos outros, é bastante apropriado que bondosamente descrevas o conhecimento do eu sobre o qual foste esclarecido pelo próprio Senhor.

VERSO 26: Śrī Uddhava disse: Podes aprender com o grande sábio erudito Maitreya, que está próximo daqui e que é adorável para quem quer receber o conhecimento transcendental. Ele foi instruído diretamente pela Personalidade de Deus enquanto Este estava prestes a abandonar este mundo mortal.

VERSO 27: Śukadeva Gosvāmī disse: Ó rei, após conversar assim com Vidura sobre o nome, a fama, as qualidades etc. transcendentais, às margens do Yamunā, Uddhava foi dominado por uma grande aflição. Ele passou a noite como se esta tivesse durado um instante e, depois disso, partiu.

VERSO 28: O rei perguntou: Ao final dos passatempos de Śrī Kṛṣṇa, o Senhor dos três mundos, e após o desaparecimento dos membros das dinastias Vṛṣṇi e Bhoja, que eram os melhores dos grandes comandantes, por que Uddhava foi o único que ficou?

VERSO 29: Śukadeva Gosvāmī respondeu: Meu querido rei, a maldição dos brāhmaṇas foi apenas um pretexto, mas o fato mesmo foi o desejo supremo do Senhor. Ele quis desaparecer da face da Terra após despachar os membros excessivamente numerosos de Sua família. Ele pensou consigo mesmo como segue.

VERSO 30: Agora desaparecerei da vista deste mundo mortal, e vejo que Uddhava, o mais notável de Meus devotos, é o único a quem posso confiar diretamente o conhecimento acerca de Mim.

VERSO 31: Uddhava não é inferior a Mim em nenhum aspecto, visto que ele nunca é afetado pelos modos da natureza material. Por isso, ele pode ficar neste mundo para disseminar o conhecimento específico sobre a Personalidade de Deus.

VERSO 32: Śukadeva Gosvāmī informou ao rei que Uddhava, ao ser assim instruído pela Suprema Personalidade de Deus, que é a fonte de todo o conhecimento védico e o mestre espiritual dos três mundos, chegou ao local de peregrinação de Badarikāśrama e ali se absorveu em transe para satisfazer o Senhor.

VERSO 33: Vidura também ouviu de Uddhava a respeito do aparecimento e desaparecimento do Senhor Kṛṣṇa, a Superalma, no mundo mortal, que é um assunto que os grandes sábios buscam com muita perseverança.

VERSO 34: Os atos gloriosos do Senhor e Sua aceitação de várias formas transcendentais para a execução de passatempos extraordinários no mundo mortal são muito difíceis de serem entendidos por alguém além de Seus devotos, e, para as bestas selvagens, não passam de uma perturbação mental.

VERSO 35: Ao saber que o Senhor Kṛṣṇa [enquanto abandonava este mundo] lembrou-Se dele, Vidura começou a chorar em voz alta, tomado pelo êxtase do amor.

VERSO 36: Após passar alguns dias às margens do rio Yamunā, Vidura, a alma autorrealizada, chegou às margens do Ganges, onde se encontrava o grande sábio Maitreya.

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