VERSO 2
kāla-sañjñāṁ tadā devīṁ
bibhrac-chaktim urukramaḥ
trayoviṁśati tattvānāṁ
gaṇaṁ yugapad āviśat
kāla-sañjñām — conhecida como Κālī; tadā — nesse momento; devīm — a deusa; bibhrat — destruidora; śaktim — potência; urukramaḥ — o supremo e poderoso; trayaḥ-viṁśati — vinte e três; tattvānām — dos elementos; gaṇam — todos eles; yugapat — simultaneamente; āviśat — entrou.
Então, o Supremo e Poderoso Senhor entrou simultaneamente nos vinte e três elementos com a deusa Kālī, Sua energia externa, que sozinha amalgama todos os diferentes elementos.
SIGNIFICADO—Os ingredientes da matéria somam vinte e três: a energia material total, ο falso ego, ο som, ο tato, a forma, o gosto, ο cheiro, a terra, a água, ο fogo, ο ar, ο céu, ο olho, ο ouvido, a narina, a língua, a pele, a mão, a perna, ο órgão de evacuação, os órgãos genitais, a fala e a mente. Todos eles são combinados pela influência do tempo e são novamente dissolvidos com ο transcorrer do tempo. Ο tempo, portanto, é a energia do Senhor e atua em seu próprio campo sob a orientação do Senhor. Essa energia é chamada Kālī e é representada pela deusa negra e destruidora que, em geral, é adorada por pessoas influenciadas pelo modo da escuridão, ou ignorância, na existência material. No hino védico, esse processo é descrito como mūla-prakṛtir avikṛtir mahadādyāḥ prakṛti-vikṛtayaḥ sapta ṣoḍaśakas tu vikāro na prakṛtir na vikṛtiḥ puruṣaḥ. A energia que atua como a natureza material em uma combinação de vinte e três ingredientes não é a fonte final da criação. Ο Senhor entra nos elementos e aplica Sua energia, chamada Kālī. Em todas as outras escrituras védicas, aceita-se o mesmo princípio. Na Brahma-saṁhitā (5.35), declara-se:
eko ’py asau racayituṁ jagad-aṇḍa-koṭiṁ
yac-chaktir asti jagad-aṇḍa-cayā yad-antaḥ
aṇḍāntara-stha-paramāṇu-cayāntara-sthaṁ
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi
“Eu adoro Govinda, ο Senhor primordial, que é a Personalidade de Deus original. Através de Sua expansão plenária parcial [Mahā-Viṣṇu], Ele entra na natureza material e, em seguida, em cada universo [como Garbhodakaśāyī Viṣṇu], e depois [como Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu] em todos os elementos, incluindo todos os átomos da matéria. Essas manifestações de criação cósmica são inumeráveis, tanto nos universos quanto nos átomos individuais.”
De forma similar, isso é confirmado na Bhagavad-gītā (10.42):
athavā bahunaitena
kiṁ jñātena tavārjuna
viṣṭabhyāham idaṁ kṛtsnam
ekāṁśena sthito jagat
“Ó Arjuna, não há necessidade de conheceres Minhas inumeráveis energias, que atuam de várias maneiras. Eu entro na criação material através de Minha expansão plenária parcial [Paramātmā, ou a Superalma] em todos os universos e em todos os seus elementos e, deste modo, continuo o trabalho da criação.” As maravilhosas atividades da natureza material devem-se ao Senhor Κṛṣṇa, de modo que Ele é a causa final, ou a causa última de todas as causas.