VERSO 10
athāyajata yajñeśaṁ
kratubhir bhūri-dakṣiṇaiḥ
dravya-kriyā-devatānāṁ
karma karma-phala-pradam
atha — depois disso; ayajata — ele adorou; yajña- yajña-īśam — o senhor dos sacrifícios; kratubhiḥ — mediante cerimônias sacrificatórias; bhūri — grandiosas; dakṣiṇaiḥ — mediante caridades; dravya-kriyā-devatānām — de (sacrifícios incluindo várias) parafernália, atividades e semideuses; karma — o objetivo; karma-phala — o resultado das atividades; pradam — que outorga.
Enquanto permaneceu em seu lar, Dhruva Mahārāja executou muitas grandiosas cerimônias de sacrifício a fim de satisfazer o desfrutador de todos os sacrifícios, a Suprema Personalidade de Deus. As cerimônias sacrificatórias prescritas destinam-se especialmente a satisfazer o Senhor Viṣṇu, que é o objetivo de todos esses sacrifícios e que outorga as bênçãos resultantes.
SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (3.9), afirma-se que yajñārthāt karmaṇo ’nyatra loko ’yaṁ karma-bandhanaḥ: devemos agir ou trabalhar somente a fim de agradar ao Senhor Supremo, ou nos enredamos nas reações resultantes. Segundo as quatro divisões de varṇa e āśrama, os kṣatriyas e vaiśyas são especialmente aconselhados a executar grandes cerimônias sacrificatórias e a distribuir o dinheiro por eles acumulado de maneira muito liberal. Dhruva Mahārāja, como rei e kṣatriya ideal, executou muitos desses sacrifícios, dando caridade muito liberalmente. Os kṣatriyas e vaiśyas devem ganhar seu dinheiro e acumular grandes riquezas. Às vezes, eles o fazem agindo pecaminosamente. Os kṣatriyas destinam-se a governar uma terra; Dhruva Mahārāja, por exemplo, no decorrer de seu governo, teve que lutar e matar muitos Yakṣas. Ações como essa são necessárias para um kṣatriya. O kṣatriya não deve ser um covarde, e não deve ser não-violento: para governar um território, ele precisa agir com violência.
Portanto, aconselha-se aos kṣatriyas e vaiśyas que deem em caridade pelo menos cinquenta por cento de sua riqueza acumulada. A Bhagavad-gītā recomenda que, ainda que alguém ingresse na ordem de vida renunciada, não pode deixar de praticar yajña, dāna e tapasya. Essas são coisas que nunca se deve abandonar. A tapasya destina-se à ordem de vida renunciada; aqueles que estão retirados das atividades mundanas devem executar tapasya, penitências e austeridades. Aqueles que estão no mundo material, os kṣatriyas e vaiśyas, devem fazer caridade. Os brahmacārīs, no começo de suas vidas, devem realizar diferentes tipos de yajñas.
Dhruva Mahārāja, como rei ideal, praticamente esvaziou seu tesouro fazendo caridade. O rei não se destina apenas a cobrar impostos dos cidadãos e acumular riquezas para gastá-las com gozo dos sentidos. A monarquia mundial fracassou porque os reis começaram a satisfazer seus próprios sentidos com os impostos arrecadados dos cidadãos. Evidentemente, quer o sistema seja monarquia, quer seja democracia, ainda acontece a mesma corrupção. No momento atual, existem diferentes partidos no governo democrático, mas todos estão atarefados em tentar manter seus postos ou manter seu partido político no poder. Os políticos têm pouquíssimo tempo para pensar no bem-estar dos cidadãos, aos quais eles oprimem com pesados tributos sob a forma de imposto de renda, imposto sobre as vendas e muitos outros – as pessoas às vezes perdem oitenta a noventa por cento de suas rendas pagando impostos, que são prodigamente despendidos em altos salários pagos aos funcionários e governantes. Antigamente, os impostos arrecadados dos cidadãos eram gastos para a execução de grandes sacrifícios prescritos na literatura védica. No momento atual, entretanto, praticamente nenhuma das formas de sacrifício é possível; portanto, os śāstras recomendam que todos devem executar saṅkīrtana-yajña. Qualquer chefe de família, não importa qual seja sua posição, pode executar este saṅkīrtana-yajña sem despesa. Todos os membros da família podem sentar-se juntos e simplesmente bater palmas e cantar o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. De alguma forma, todos podem dar um jeito de executar semelhante yajña e distribuir prasāda para as pessoas em geral. Isso já é suficiente para esta era de Kali. O movimento para a consciência de Kṛṣṇa se baseia neste princípio: cantamos o mantra Hare Kṛṣṇa a todo momento, na medida do possível, tanto dentro quanto fora dos templos, e, na medida do possível, distribuímos prasāda. Este processo poderá ser acelerado com a cooperação de administradores do estado e daqueles que produzem a riqueza do país. Simplesmente mediante a distribuição liberal de prasāda e saṅkīrtana, o mundo inteiro poderá tornar-se pacífico e próspero.
De um modo geral, em todos os sacrifícios materiais recomendados na literatura védica existem oferendas aos semideuses. Essa adoração a semideuses destina-se especialmente aos homens menos inteligentes. Na verdade, o resultado de tal sacrifício vai para a Suprema Personalidade de Deus, Nārāyaṇa. O Senhor Kṛṣṇa diz na Bhagavad-gītā (5.29) que bhoktāraṁ yajña-tapasām: Ele é, na verdade, o desfrutador de todos os sacrifícios. Seu nome, portanto, é Yajña-puruṣa.
Embora Dhruva Mahārāja fosse um grande devoto e nada tivesse a ver com esses sacrifícios, a fim de estabelecer o exemplo para seu povo, ele executou muitos sacrifícios e deu toda a sua riqueza em caridade. Por todo o tempo em que viveu como chefe de família, ele jamais gastou um centavo de sua riqueza para o gozo de seus sentidos. Neste verso, a expressão karma-phala-pradam é muito significativa. Conforme o desejo de cada entidade viva individual, o Senhor concede uma espécie de karma diferente. Ele é a Superalma presente dentro do coração de todos, e é tão bondoso e liberal que dá a todos os recursos para executarem quaisquer ações que desejem. Então, o resultado da ação também é desfrutado pela entidade viva. Se alguém quiser desfrutar ou assenhorear-se da natureza material, o Senhor lhe dará todos os recursos, só que ele ficará enredado nas reações resultantes. Do mesmo modo, se alguém quiser ocupar-se plenamente em serviço devocional, o Senhor lhe dará todos os recursos, e o devoto gozará dos resultados. O Senhor, portanto, é conhecido como karma-phala-prada.