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Capítulo Dezoito

Pṛthu Mahārāja Ordenha o Planeta Terra

VERSO 1: O grande santo Maitreya continuou a se dirigir a Vidura: Meu querido Vidura, nessa altura, quando o planeta Terra terminou suas orações, o rei Pṛthu ainda não estava apaziguado, e seus lábios tremiam com grande ira. Embora o planeta Terra estivesse com medo, ela se recompôs e passou a falar o seguinte para convencer o rei.

VERSO 2: Meu querido Senhor, por favor, aplaca de vez tua ira e ouve com paciência o que tenho a te dizer. Por favor, volta tua bondosa atenção para isto. Eu posso ser muito insignificante, mas um homem erudito extrai a essência do conhecimento de todos os lugares, assim como a abelha coleta mel de cada flor.

VERSO 3: Para beneficiar toda a sociedade humana, não só nesta vida, mas também na próxima, os grandes videntes e sábios prescrevem diversos métodos conducentes à prosperidade das pessoas em geral.

VERSO 4: Quem segue os princípios e as instruções prescritas pelos grandes sábios do passado pode utilizar essas instruções para propósitos práticos. Uma pessoa assim pode gozar da vida e de prazeres muito facilmente.

VERSO 5: Uma pessoa tola que inventa seus próprios meios e processos através da especulação mental e não reconhece a autoridade dos sábios que estabelecem orientações incontestáveis fracassa repetidamente em suas tentativas.

VERSO 6: Meu querido rei, as sementes, raízes, ervas e grãos, que foram criados pelo senhor Brahmā no passado, agora estão sendo usados por não-devotos, que são desprovidos de toda compreensão espiritual.

VERSO 7: Meu querido rei, não somente os grãos e ervas estão sendo usados por não-devotos, mas, quanto a mim, não estou sendo mantida adequadamente. Na verdade, estou sendo negligenciada por reis que não punem os patifes que se transformam em ladrões, usando os grãos para o gozo dos sentidos. Em consequência disso, tenho escondido todas estas sementes, que se destinavam à realização de sacrifícios.

VERSO 8: Por terem ficado armazenadas por longo tempo, é certo que todas as sementes de cereais dentro de mim se deterioraram. Portanto, deves providenciar imediatamente que essas sementes sejam colhidas mediante o processo padrão, como o recomendam os ācāryas ou śāstras.

VERSOS 9-10: Ó grande herói, protetor das entidades vivas, se desejas aliviar as entidades vivas, fornecendo-lhes cereais o bastante, e se desejas nutri-las, tirando meu leite, deves providenciar que tragam um bezerro adequado para este fim e um vaso no qual se possa manter o leite, bem como um ordenhador para fazer o trabalho. Como sentirei muita afeição por meu bezerro, teu desejo de tirar meu leite será satisfeito.

VERSO 11: Meu querido rei, tomo a liberdade de informar-te que deves nivelar toda a superfície do globo. Isso me ajudará, mesmo quando a estação das chuvas houver terminado. A chuva cai pela misericórdia do rei Indra. A chuva permanecerá na superfície do globo, mantendo a terra sempre úmida, o que será auspicioso para toda sorte de produções.

VERSO 12: Após ouvir as auspiciosas e agradáveis palavras do planeta Terra, o rei as aceitou. Então, ele transformou Svāyambhuva Manu em um bezerro e ordenhou todas as ervas e cereais da Terra sob a forma de uma vaca, mantendo-os em suas mãos em concha.

VERSO 13: Outros, que eram tão inteligentes quanto o rei Pṛthu, também extraíram a essência do planeta Terra. Na verdade, todos se aproveitaram dessa oportunidade para seguir os passos do rei Pṛthu e obter tudo o que desejavam do planeta Terra.

VERSO 14: Todos os grandes sábios transformaram Bṛhaspati em um bezerro e, fazendo dos sentidos um vaso, ordenharam toda espécie de conhecimento védico para purificar as palavras, a mente e a audição.

VERSO 15: Todos os semideuses transformaram Indra, o rei do céu, num bezerro, e da Terra ordenharam a bebida soma, que é o néctar. Assim, tornaram-se muito poderosos em especulação mental e força corpórea e sensorial.

VERSO 16: Os filhos de Diti e os demônios transformaram Prahlāda Mahārāja, que nascera em família de asuras, num bezerro, e extraíram várias espécies de bebidas alcoólicas e cervejas, que colocaram em um vaso feito de ferro.

VERSO 17: Os habitantes de Gandharvaloka e Apsaroloka transformaram Viśvāvasu em bezerro e derramaram o leite em um vaso de flor de lótus. O leite assumiu a forma de doce arte musical e beleza.

VERSO 18: Os afortunados habitantes de Pitṛloka, que presidem as cerimônias fúnebres, transformaram Aryamā em um bezerro. Com grande fé, eles ordenharam kavya, o alimento oferecido aos ancestrais, em um vaso de barro cru.

VERSO 19: Depois disso, os habitantes de Siddhaloka, bem como os habitantes de Vidyādhara-loka, transformaram o grande sábio Kapila em bezerro e, transformando todo o céu em um vaso, ordenharam poderes místico-ióguicos especiais, começando com animā. Na verdade, os habitantes de Vidyādhara-loka adquiriram a arte de voar no céu.

VERSO 20: Por sua vez, os habitantes dos planetas conhecidos como Kimpuruṣa-loka transformaram o demônio Maya em um bezerro e ordenharam poderes místicos pelos quais se pode desaparecer imediatamente da vista dos outros e aparecer de novo em uma forma diferente.

VERSO 21: Em seguida, os Yakṣas, Rākṣasas, fantasmas e bruxas, que têm hábito de comer carne, transformaram a encarnação do senhor Śiva, Rudra [Bhūtanātha], em bezerro e ordenharam bebidas feitas de sangue, colocando-as em um vaso feito de crânios.

VERSO 22: Logo após, najas e serpentes sem capelos, cobras enormes, escorpiões e muitos outros animais venenosos extraíram veneno do planeta Terra como seu leite e guardaram esse veneno em buracos de cobra. Eles transformaram Takṣaka em bezerro.

VERSOS 23-24: Os animais quadrúpedes, como as vacas, transformaram em bezerro o touro que transporta o senhor Śiva e fizeram da floresta o vaso de ordenha. Assim, obtiveram pasto fresco e verde para comer. Animais ferozes como os tigres transformaram um leão em bezerro e, dessa maneira, foram capazes de obter carne como leite. Os pássaros fizeram de Garuḍa um bezerro e tiraram leite do planeta Terra sob a forma de insetos móveis e plantas e pasto imóveis.

VERSO 25: As árvores transformaram a figueira-de-bengala em bezerro e, dessa forma, obtiveram leite sob a forma de muitos sucos deliciosos. As montanhas transformaram os Himalaias em bezerro e ordenharam uma variedade de minerais num vaso feito de picos de colinas.

VERSO 26: A todos, o planeta Terra forneceu os seus respectivos alimentos. Durante a época do rei Pṛthu, a Terra estava inteiramente sob o controle do rei. Assim, todos os habitantes da Terra podiam obter seu suprimento de alimentos, criando várias espécies de bezerros e colocando seus tipos de leite em particular em vários vasos.

VERSO 27: Meu querido Vidura, líder dos Kurus, dessa maneira, o rei Pṛthu e todos os demais que subsistem de alimentos criaram diferentes espécies de bezerros e ordenharam seus respectivos comestíveis. Assim, eles receberam seus vários alimentos, que eram simbolizados como leite.

VERSO 28: Depois disso, o rei Pṛthu ficou muito satisfeito com o planeta Terra, pois ela forneceu suficientemente todo o alimento para várias entidades vivas. Assim, ele desenvolveu afeição pelo planeta Terra, como se ela fosse sua própria filha.

VERSO 29: Depois disso, Mahārāja Pṛthu, o rei de todos os reis, nivelou todos os terrenos acidentados na superfície do globo, devastando as colinas com a força de seu arco. Por sua graça, a superfície do globo ficou quase plana.

VERSO 30: Para todos os cidadãos do estado, o rei Pṛthu era como um pai. Assim, ele estava visivelmente ocupado em lhes dar a devida subsistência e o emprego adequado para sua subsistência. Após nivelar a superfície do globo, ele demarcou diferentes locais para servirem de residência, na medida que eles eram desejáveis.

VERSO 31: Dessa maneira, o rei fundou muitas classes de vilas, estabelecimentos e cidades e construiu fortes, residências para vaqueiros, estábulos para os animais, e locais para os acampamentos reais, minas, cidades agrícolas e vilas em montanhas.

VERSO 32: Antes do reinado do rei Pṛthu, não havia nenhum planejamento para diferentes cidades, vilas, pastagens etc. Tudo estava espalhado, e todos construíam suas residências de acordo com suas próprias conveniências. Contudo, a partir do rei Pṛthu, passou-se a planejar a construção de cidades e vilas.

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