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Capítulo Dezenove

Os Cem Sacrifícios de Cavalo do Rei Pṛthu

VERSO 1: O grande sábio Maitreya prosseguiu: Meu querido Vidura, o rei Pṛthu iniciou a realização de cem sacrifícios de cavalo no local onde o rio Sarasvatī flui rumo ao leste. Esse território, conhecido como Brahmāvarta, era controlado por Svāyambhuva Manu.

VERSO 2: Vendo isso, o poderosíssimo Indra, o rei do céu, considerou o fato de que o rei Pṛthu estava prestes a superá-lo em atividades fruitivas. Assim, Indra não pôde tolerar as grandes cerimônias de sacrifício realizadas pelo rei Pṛthu.

VERSO 3: A Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Viṣṇu, está presente no coração de todos como a Superalma, e é o proprietário de todos os planetas e o desfrutador dos resultados de todos os sacrifícios. Ele esteve presente pessoalmente nos sacrifícios realizados pelo rei Pṛthu.

VERSO 4: Quando o Senhor Viṣṇu apareceu na arena de sacrifício, o senhor Brahmā, o senhor Śiva e todas as principais personalidades predominantes de todos os planetas, bem como seus seguidores, vieram com Ele. Quando Ele apareceu no local, os habitantes de Gandharvaloka, os grandes sábios e os habitantes de Apsaroloka – todos O louvaram.

VERSO 5: O Senhor estava acompanhado pelos habitantes de Siddhaloka e Vidyādhara-loka, por todos os descendentes de Diti e pelos demônios e Yakṣas. Também vinha acompanhado por Seus associados principais, liderados por Sunanda e Nanda.

VERSO 6: Grandes devotos, que estavam sempre ocupados no serviço à Suprema Personalidade de Deus, bem como os grandes sábios chamados Kapila, Nārada e Dattātreya, e senhores de poderes místicos, liderados por Sanaka Kumāra, todos participaram do grande sacrifício com o Senhor Viṣṇu.

VERSO 7: Meu querido Vidura, naquele grande sacrifício, toda a terra passou a ser como a vaca leiteira kāma-dhenu, e, dessa maneira, através da execução de yajña, todas as necessidades diárias da vida foram satisfeitas.

VERSO 8: Os rios correntes forneceram todas as espécies de sabores – doce, picante, azedo etc. –, e árvores enormes forneceram frutas e mel em abundância. As vacas, tendo comido pasto verde o bastante, forneceram profusa quantidade de leite, coalhada, manteiga clarificada e outras necessidades semelhantes.

VERSO 9: O rei Pṛthu recebeu vários presentes da população em geral e das deidades predominantes de todos os planetas. Os oceanos e mares estavam cheios de pérolas e pedras preciosas, e as colinas estavam cheias de substâncias químicas e fertilizantes. Os quatro tipos de alimentos foram produzidos profusamente.

VERSO 10: O rei Pṛthu dependia da Suprema Personalidade de Deus, que é conhecido como Adhokṣaja. Por ter realizado tantos sacrifícios, o rei Pṛthu recebeu poderes sobre-humanos pela misericórdia do Senhor Supremo. No entanto, Indra, o rei do céu, não conseguiu tolerar a opulência do rei Pṛthu, de modo que tentou impedir o progresso de sua opulência.

VERSO 11: Quando Pṛthu Mahārāja estava realizando o último sacrifício de cavalo [aśvamedha-yajña], o rei Indra, invisível a todos, roubou o cavalo destinado ao sacrifício. Ele fez isso porque estava com muita inveja do rei Pṛthu.

VERSO 12: Enquanto o rei Indra levava consigo o cavalo, ele se vestiu de modo a que se assemelhasse a uma pessoa liberada. Na verdade, aquele traje era uma forma de trapaça, pois falsamente criava uma impressão de religião. Quando Indra entrou no espaço exterior dessa maneira, o grande sábio Atri o viu e entendeu toda a situação.

VERSO 13: Ao ser informado por Atri do truque do rei Indra, o filho do rei Pṛthu ficou iradíssimo e saiu ao encalço de Indra para matá-lo, gritando: “Espera! Espera!”

VERSO 14: Agindo com desonestidade, o rei Indra usava as vestes de um sannyāsī, e havia amarrado seu cabelo no topo da cabeça e passado cinzas em todo o seu corpo. Ao ver semelhante traje, o filho do rei Pṛthu considerou Indra um homem dedicado à religião e um sannyāsī piedoso. Portanto, não disparou suas flechas.

VERSO 15: Ao ver que o filho do rei Pṛthu não matara Indra, senão que retornara enganado por ele, Atri Muni novamente o instruiu a matar o rei celestial, pois considerava que Indra se tornara o mais baixo de todos os semideuses por ter impedido a realização do sacrifício do rei Pṛthu.

VERSO 16: Sendo assim informado, o neto do rei Vena imediatamente se colocou a perseguir Indra, que fugia apressadamente pelo céu. Ele estava iradíssimo com Indra, e o perseguiu assim como o rei dos abutres perseguiu Rāvaṇa.

VERSO 17: Ao ver que o filho de Pṛthu o estava perseguindo, Indra imediatamente abandonou sua roupa falsa e deixou o cavalo. Em verdade, ele desapareceu daquele lugar, e o grande herói, o filho do rei Pṛthu, devolveu o cavalo à arena de sacrifício de seu pai.

VERSO 18: Meu querido senhor Vidura, observando a maravilhosa proeza do filho do rei Pṛthu, todos os grandes sábios concordaram em lhe dar o nome Vijitāśva.

VERSO 19: Meu querido Vidura, Indra, sendo o rei do céu e muito poderoso, criou imediatamente uma densa escuridão sobre a arena de sacrifício. Cobrindo todo o local dessa maneira, ele novamente roubou o cavalo, que estava preso com correntes de ouro próximo ao instrumento de madeira onde os animais eram sacrificados.

VERSO 20: O grande sábio Atri novamente mostrou ao filho do rei Pṛthu que Indra estava fugindo pelo céu. O grande herói, o filho de Pṛthu, saiu ao encalço dele mais uma vez. Contudo, ao ver que Indra levava em sua mão um bastão com um crânio em sua extremidade e novamente estava vestido com os trajes de um sannyāsī, decidiu não o matar.

VERSO 21: Sendo novamente orientado pelo grande sábio Atri, o filho do rei Pṛthu ficou iradíssimo e colocou uma flecha em seu arco. Ao ver isso, o rei Indra imediatamente se desfez do falso traje de sannyāsī e, abandonando o cavalo, tornou-se invisível.

VERSO 22: Então, o grande herói, Vijitāśva, o filho do rei Pṛthu, novamente pegou o cavalo e o devolveu à arena de sacrifício de seu pai. Desde aquela época, certos homens com um pobre fundo de conhecimento têm adotado o traje de falso sannyāsī. Foi o rei Indra quem introduziu essa prática.

VERSO 23: Todas as diferentes formas que Indra assumiu como mendicante devido a seu desejo de apoderar-se do cavalo foram símbolos de filosofias ateístas.

VERSOS 24-25: Dessa maneira, o rei Indra, a fim de roubar o cavalo do sacrifício do rei Pṛthu, adotou diversas ordens de sannyāsa. Alguns sannyāsīs andam nus, e às vezes vestem trajes vermelhos, adotando o nome kāpālika. Essas são simplesmente representações simbólicas de suas atividades pecaminosas. Esses pretensos sannyāsīs são muito apreciados por homens pecaminosos porque todos eles são ateístas ímpios e muito peritos em apresentar argumentos e razões para se apoiar suas posições. Devemos saber, entretanto, que eles apenas se fazem passar por partidários da religião, apesar de não o serem de fato. Infelizmente, pessoas confusas aceitam tais indivíduos como religiosos e, sentindo-se atraídas por eles, arruínam suas vidas.

VERSO 26: Mahārāja Pṛthu, que era célebre como uma pessoa poderosíssima, pegou de imediato seu arco e suas flechas e se preparou para matar Indra pessoalmente, por Indra ter introduzido aquelas ordens de sannyāsa irregulares.

VERSO 27: Ao verem Mahārāja Pṛthu muito irado e preparado para matar Indra, os sacerdotes e todos os demais pediram-lhe o seguinte: Ó grande alma, não o mates, pois somente os animais sacrificatórios podem ser mortos em um sacrifício. Essas são as orientações dadas pelos śāstras.

VERSO 28: Querido rei, os poderes de Indra já foram reduzidos devido à sua tentativa de impedir a realização de teu sacrifício. Nós o chamaremos por meio de mantras védicos que jamais foram utilizados anteriormente, e com certeza ele virá. Assim, mediante o poder de nosso mantra, nós o lançaremos ao fogo, pois ele é teu inimigo.

VERSO 29: Meu querido Vidura, após dar este conselho ao rei, os sacerdotes que estiveram ocupados na realização do sacrifício chamaram Indra, o rei do céu, com disposição iracunda. Quando eles já estavam prontos para lançar a oblação no fogo, o senhor Brahmā apareceu ali e os proibiu de iniciar o sacrifício.

VERSO 30: O senhor Brahmā lhes disse o seguinte: Meus queridos realizadores de sacrifício, não podeis matar Indra, o rei do céu. Esse não é o vosso dever. Deveis saber que Indra é como a Suprema Personalidade de Deus. Em realidade, ele é um dos mais poderosos assistentes da Personalidade de Deus. Se estais tentando satisfazer todos os semideuses através da realização deste yajña, deveis saber que todos esses semideuses nada mais são do que partes integrantes de Indra, o rei do céu. Como, então, podeis matá-lo neste grande sacrifício?

VERSO 31: A fim de criar dificuldades e impedir a realização do grande sacrifício do rei Pṛthu, o rei Indra adotou certos meios que, no futuro, destruirão a senda aberta da vida religiosa. Chamo a vossa atenção para esse fato. Se continuardes opondo-vos a Indra, ele continuará abusando de seu poder e introduzirá muitos outros sistemas irreligiosos.

VERSO 32: “Que haja apenas noventa e nove realizações de sacrifício da parte de Mahārāja Pṛthu”, concluiu o senhor Brahmā. O senhor Brahmā, então, voltou-se para Mahārāja Pṛthu e disse-lhe que, uma vez que ele estava inteiramente consciente do caminho da liberação, que valor havia em realizar mais sacrifícios?

VERSO 33: O senhor Brahmā prosseguiu: Que haja boa fortuna a ti e a Indra, visto que sois partes integrantes da Suprema Personalidade de Deus. Portanto, não deves ficar irado com o rei Indra, que não é diferente de ti.

VERSO 34: Meu querido rei, não fiques agitado e ansioso porque teus sacrifícios não foram executados adequadamente devido a obstáculos providenciais. Por favor, aceita minhas palavras com grande respeito. Deves sempre lembrar que, se algo acontece por arranjo da providência, não devemos ficar muito pesarosos. Quanto mais tentarmos retificar tais reveses, mais entraremos na escuríssima região do pensamento materialista.

VERSO 35: O senhor Brahmā continuou: Descontinua a realização destes sacrifícios, pois eles induziram Indra a introduzir vários aspectos irreligiosos. Deves saber muito bem que, mesmo entre os semideuses, há muitas aspirações indesejáveis.

VERSO 36: Apenas considera como Indra, o rei do céu, estava criando distúrbios ao roubar o cavalo sacrificatório no meio do sacrifício. Essas atrativas atividades pecaminosas introduzidas por ele serão realizadas pelas pessoas em geral.

VERSO 37: Ó rei Pṛthu, filho de Vena, és a expansão parte integrante do Senhor Viṣṇu. Devido às perversidades do rei Vena, os princípios religiosos estavam quase perdidos. Naquele momento oportuno, desceste como a encarnação do Senhor Viṣṇu. De fato, a fim de proteger os princípios religiosos, apareceste do corpo do rei Vena.

VERSO 38: Ó protetor das pessoas em geral, por favor, considera o objetivo de seres uma encarnação do Senhor Viṣṇu. Os princípios irreligiosos criados por Indra não passam de meras mães de muitas religiões indesejáveis. Por favor, portanto, descontinua essas imitações de imediato.

VERSO 39: O grande sábio Maitreya prosseguiu: Ao ser assim aconselhado pelo senhor Brahmā, o mestre supremo, o rei Pṛthu abandonou sua avidez por realizar yajñas e, com grande afeição, fez as pazes com o rei Indra.

VERSO 40: Depois disso, Pṛthu Mahārāja tomou seu banho, como se faz costumeiramente após a realização de um yajña, e recebeu as devidas bênçãos dos semideuses, que estavam muito satisfeitos com suas atividades gloriosas.

VERSO 41: Com grande respeito, Pṛthu, o rei original, ofereceu todas as espécies de recompensas aos brāhmaṇas presentes no sacrifício. Uma vez que todos esses brāhmaṇas ficaram muito satisfeitos, deram suas bênçãos sinceras ao rei.

VERSO 42: Todos os grandes sábios e brāhmaṇas disseram: Ó poderoso rei, a teu convite, todas as classes de entidades vivas participaram desta reunião. Elas vieram de Pitṛloka e dos planetas celestiais, e grandes sábios, bem como homens comuns, participaram desse encontro. Agora, todos eles estão muito satisfeitos com o tratamento e com a caridade que lhes deste.

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