VERSO 38
yasminn idaṁ sad-asad-ātmatayā vibhāti
māyā viveka-vidhuti sraji vāhi-buddhiḥ
taṁ nitya-mukta-pariśuddha-viśuddha-tattvaṁ
pratyūḍha-karma-kalila-prakṛtiṁ prapadye
yasmin — na qual; idam — esta; sat-asat — o Senhor Supremo e Suas diferentes energias; ātmatayā — sendo a raiz de todas as causas e efeitos; vibhāti — manifesta; māyā — ilusão; viveka-vidhuti — liberado mediante cautelosa reflexão; sraji — sobre a corda; vā — ou; ahi — serpente; buddhiḥ — inteligência; tam — a Ele; nitya — eternamente; mukta — liberado; pariśuddha — incontaminado; viśuddha — pura; tattvam — verdade; pratyūḍha — transcendental; karma — atividades fruitivas; kalila — impurezas; prakṛtim — situado em energia espiritual; prapadye — rende-te.
A Suprema Personalidade de Deus manifesta-Se como a raiz de todas as causas e efeitos dentro deste corpo, mas quem transcende a energia ilusória mediante cautelosa reflexão, a qual esclarece o equívoco de confundir uma cobra com uma corda, pode entender que o Paramātmā é eternamente transcendental à criação material, estando situado em energia interna pura. Assim, o Senhor é transcendental a toda a contaminação material. É apenas a Ele que devemos nos render.
SIGNIFICADO—A afirmação deste verso destina-se especificamente a desfazer a conclusão māyāvāda de unidade sem diferenciação entre a alma individual e a Superalma. A conclusão māyāvāda é que a entidade viva e a Superalma são a mesma coisa: não há diferença entre elas. Os māyāvādīs proclamam que não há existência separada fora do Brahman impessoal e que o sentimento de separação é māyā, ou uma ilusão, a qual nos faz confundir uma corda com uma cobra. O argumento da corda e da cobra é utilizado geralmente pelos filósofos māyāvādīs. Portanto, essas palavras, que representam vivarta-vāda, são especificamente mencionadas nesta passagem. Na verdade, o Paramātmā, a Superalma, é a Suprema Personalidade de Deus, e é eternamente liberado. Em outras palavras, a Suprema Personalidade de Deus vive dentro deste corpo junto com a alma individual, e isso é confirmado nos Vedas. A Superalma e a alma individual são comparadas a dois pássaros amigos, pousados na mesma árvore. Todavia, o Paramātmā está acima da energia ilusória. A energia ilusória se chama bahiraṅgā śakti, ou energia externa, e a entidade viva chama-se taṭasthā śākti, ou potência marginal. Como se afirma na Bhagavad-gītā, tanto a energia material, representada como terra, água, ar, fogo, éter etc., quanto a energia espiritual, a entidade viva, são energias do Senhor Supremo. Muito embora as energias e o energético sejam idênticos, a entidade viva, a alma individual, estando sujeita à influência da energia externa, considera a Suprema Personalidade de Deus igual a ela mesma.
A palavra prapadye também é significativa neste verso, pois se refere à conclusão da Bhagavad-gītā (18.66): sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja. Em outra passagem, o Senhor diz: bahūnāṁ janmanām ante jñānavān māṁ prapadyate. (Bhagavad-gītā 7.19) Este prapadye ou śaraṇaṁ vraja se refere à rendição do indivíduo à Superalma. Ao se render, a alma individual pode entender que a Suprema Personalidade de Deus, embora situada dentro do coração da alma individual, é superior à alma individual. O Senhor é sempre transcendental à manifestação material, muito embora pareça que o Senhor e a manifestação material sejam a mesma coisa. Segundo a filosofia vaiṣṇava, Ele é uno e diferente simultaneamente. A energia material é uma manifestação de Sua potência externa, e, como a potência é idêntica ao potente, parece que o Senhor e a alma individual são iguais, mas, na verdade, a alma individual está sob a influência da energia material, e o Senhor é sempre transcendental a ela. A menos que o Senhor seja superior à alma individual, não há possibilidade de prapadye, ou rendição a Ele. Esta palavra, prapadye, refere-se ao processo de serviço devocional. A mera especulação não-devocional sobre a corda e a cobra não nos permite aproximarmo-nos da Verdade Absoluta. Portanto, enfatiza-se que o serviço devocional é mais importante do que a deliberação ou especulação mental com o intuito de entender a Verdade Absoluta.