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VERSO 11

tasyānayā bhagavataḥ parikarma-śuddha-
sattvātmanas tad-anusaṁsmaraṇānupūrtyā
jñānaṁ viraktimad abhūn niśitena yena
ciccheda saṁśaya-padaṁ nija-jīva-kośam

tasya — dele; anayā — com isto; bhagavataḥ — da Suprema Personalidade de Deus; parikarma — atividades em serviço devocional; śuddha — pura, transcendental; sattva — existência; ātmanaḥ — da mente; tat — da Suprema Personalidade de Deus; anusaṁsmaraṇa — lembrando-se com constância; anupūrtyā — sendo feito perfeita­mente; jñānam — conhecimento; virakti — desapego; mat — possuindo; abhūt — manifestaram-se; niśitena — por atividades acuradas; yena — através do que; ciccheda — separam-se; saṁśaya-padam — posição de dúvida; nija — própria; jīva-kośam — encarceramento da entidade viva.

Executando serviço devocional de maneira regular, Pṛthu Mahā­rāja desenvolveu uma mente transcendental, em virtude do que podia pensar com constância nos pés de lótus do Senhor. Por causa disso, tornou-se completamente desapegado e alcançou conhecimento perfeito, através do qual pôde transcender todas as dúvidas. Assim, ele se libertou das garras do falso ego e do conceito material de vida.

SIGNIFICADO—No Nārada-pañcarātra, o serviço devocional ao Senhor é comparado a uma rainha. Quando a rainha confere uma audiência, muitas criadas acompanham-na. As criadas do serviço devocional são a opulência material, a liberação e os poderes místicos. Os karmīs são bastante apegados ao gozo material, os jñānīs anseiam muito livrar-se das garras materiais, e os yogīs gostam muito de atingir as oito classes de perfeições místicas. O Nārada-pañcarātra nos indica que, se alguém alcança a fase de serviço devocional puro, também obtém todas as opulências derivadas de atividades fruitivas, especulação filosófica empírica e prática de yoga místico. Śrīla Bilvamaṅgala Ṭhākura, portanto, orou em seu Kṛṣṇa-karṇāmṛta: “Meu querido Senhor, se eu tiver devoção inquebrantável por Ti, é certo que Te manifestarás pessoalmente diante de mim, e os resultados das atividades fruitivas e da especulação filosófica empírica – a saber, religião, desenvolvi­mento econômico, gozo dos sentidos e liberação – se tornarão como servos pessoais e permanecerão em pé diante de mim como se esperassem por minha ordem.” A ideia aqui é que os jñānīs, median­te o cultivo de brahma-vidyā, conhecimento espiritual, lutam arduamente para escapar das garras da natureza material, mas o devoto, em razão de seu avanço em serviço devocional, desapega-­se automaticamente de seu corpo material. Quando o corpo espi­ritual do devoto começa a manifestar-se, ele realmente ingressa em suas atividades na vida transcendental.

No momento atual, estamos em contato com corpo, mente e inteligência materiais, mas, ao livrarmo-nos dessas condições materiais, nosso corpo, mente e inteligência espirituais se manifestarão. Nesse estado transcendental, um devoto obtém todos os benefícios de karma, jñāna e yoga. Apesar de ele nunca se ocupar em ativi­dades fruitivas ou especulação empírica para alcançar poderes mís­ticos, os poderes místicos aparecem de forma automática em seu serviço. O devoto não deseja nenhuma espécie de opulência mate­rial, mas tal opulência aparece de forma automática diante dele. Ele não precisa esforçar-se por obtê-la. Devido a seu serviço devo­cional, ele naturalmente se torna brahma-bhūta. Como se afirmou antes, confirma-se isso na Bhagavad-gītā (14.26):

māṁ ca yo ’vyabhicāreṇa
bhakti-yogena sevate
sa guṇān samatītyaitān
brahma-bhūyāya kalpate

“Aquele que se ocupa em pleno serviço devocional, sem fracassar em nenhuma circunstância, transcende de imediato os modos da natureza material e, assim, chega ao nível de Brahman.”

Devido a seu desempenho regular de serviço devocional, o devoto alcança a fase de vida transcendental. Como sua mente está situada na transcendência, ele não pode pensar em nada além dos pés de lótus do Senhor. Esse é o significado da expressão saṁsmaraṇa-anupūrtyā. Pensando constantemente nos pés de lótus do Senhor, o devoto situa-se de imediato em śuddha-sattva. Śuddha­-sattva refere-se à plataforma que está acima dos modos da natureza material, incluindo o modo da bondade. No mundo material, o modo da bondade é considerado representativo da perfeição máxi­ma, mas é preciso transcender esse modo e chegar à fase de śuddha-sattva, ou bondade pura, onde as três qualidades da natu­reza material não podem atuar.

Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura apresenta o seguinte exemplo: se alguém tem um forte poder digestivo, após comer, naturalmente acende um fogo dentro de seu estômago para digerir tudo, sem precisar ingerir algum remédio para ajudar sua digestão. De modo seme­lhante, o fogo do serviço devocional é tão forte que o devoto não precisa esforçar-se separadamente para obter conhecimento perfeito ou desapego dos atrativos materiais. O jñānī poderá desapegar-se dos atrativos materiais mediante prolongados colóquios sobre temas de conhecimento e poderá chegar dessa maneira, por fim, à fase brahma-bhūta, mas, o devoto não precisa submeter-se a tantos incô­modos. Em virtude de seu serviço devocional, ele alcança a fase brahma-bhūta, sem dúvida alguma. Os yogīs e os jñānīs são sempre incertos quanto à sua posição constitucional; portanto, eles cometem o erro de pensar em se tornarem unos com o Supremo. Contudo, a relação do devoto com o Supremo se manifesta além de todas as dúvidas, e ele entende de imediato que sua posição é de servo eterno do Senhor. Os jñānīs e os yogīs sem devoção podem julgar-se liberados, mas, na verdade, a inteligência deles não é tão pura como a do devoto. Em outras palavras, os jñānīs e os yogīs não podem realmente se libertar a menos que se elevem à posição de devotos.

āruhya kṛcchreṇa paraṁ padaṁ tataḥ
patanty adho ’nādṛta-yuṣmad-aṅghrayaḥ

(Śrīmad-Bhāgavatam 10.2.32)

Os jñānīs e os yogīs poderão elevar-se à posição máxima, a compreensão do Brahman, mas, devido à sua falta de devoção aos pés de lótus do Senhor, eles caem de novo na natureza material. Por­tanto, não se deve aceitar jñāna e yoga como os verdadeiros proces­sos de liberação. Praticando o serviço devocional, Mahārāja Pṛthu naturalmente transcendeu todas essas posições. Uma vez que Mahā­rāja Pṛthu era uma encarnação śaktyāveśa do Senhor Supremo, ele não precisava fazer nada para alcançar a liberação. Ele veio do mundo Vaikuṇṭha, ou seja, o céu espiritual, a fim de cumprir a vontade do Senhor Supremo na Terra. Consequentemente, ele vol­taria ao lar, voltaria ao Supremo, sem precisar executar jñāna, yoga ou karma. Embora Pṛthu Mahārāja fosse eternamente um devoto puro do Senhor, mesmo assim ele adotou o processo de serviço devocional para ensinar às pessoas em geral o processo apropriado de desempenhar os deveres da vida e, enfim, voltar ao lar, voltar ao Supremo.

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