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Capítulo Vinte e Três

Mahārāja Pṛthu Volta ao Lar

VERSOS 1-3: Na última fase de sua vida, quando Mahārāja Pṛthu se viu envelhecendo, aquela grande alma, que era o rei do mundo, dividiu toda a opulência que acumulara entre toda espécie de entidades vivas, móveis e imóveis. Providenciou pensões para todos de acordo com os princípios religiosos e, após executar as ordens da Suprema Personalidade de Deus, em completa coordenação com Ele, dedicou seus filhos à Terra, que era considerada sua filha. Então, Mahārāja Pṛthu deixou a companhia de seus cidadãos, que estavam quase se lamentando e chorando de saudades do rei, e foi para a floresta, na companhia somente de sua esposa, a fim de praticar austeridades.

VERSO 4: Após se retirar da vida familiar, Mahārāja Pṛthu seguiu estritamente os regulamentos da vida retirada e se submeteu a rigorosas austeridades na floresta. Ocupou-se nessas atividades tão seria­mente como antes se ocupara em dirigir o governo e conquistar a todos.

VERSO 5: No tapo-vana, Mahārāja Pṛthu ora comia talos e raízes de árvores, ora comia frutos e folhas secas, e, por algumas semanas, bebia só água. Por fim, vivia apenas respirando.

VERSO 6: Seguindo os princípios da vida na floresta e os passos dos grandes sábios e munis, Pṛthu Mahārāja aceitou cinco classes de processos de aquecimento durante o verão, expôs-se a torrentes de chuva durante a estação das chuvas e, no inverno, permaneceu com água até o pescoço. Além disso, costumava simplesmente se deitar no chão para dormir.

VERSO 7: Mahārāja Pṛthu se submeteu a todas essas rigorosas austeridades para controlar suas palavras e seus sentidos, para se abster de ejacular seu sêmen e para controlar o ar vital dentro do corpo. Tudo isso ele fez para a satisfação de Kṛṣṇa. Ele não tinha outro propósito.

VERSO 8: Praticando assim rigorosas austeridades, aos poucos Mahārāja Pṛthu se tornou inabalável na vida espiritual e inteiramente livre de todos os desejos de atividades fruitivas. Praticou, também, exercí­cios respiratórios para controlar a mente e os sentidos e, através desse controle, libertou-se por completo de todos os desejos de ativi­dades fruitivas.

VERSO 9: Assim, Mahārāja Pṛthu, o melhor entre os seres humanos, trilhou aquele caminho de avanço espiritual, conforme conselho de Sanat-kumāra. Ou seja, ele adorou a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa.

VERSO 10: Mahārāja Pṛthu ocupou-se assim inteiramente em serviço devocional, executando as regras e regulações estritamente de acordo com os princípios, vinte e quatro horas por dia. Assim, seu amor e devoção pela Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, desenvolveram-se e tornaram-se fixos e indefectíveis.

VERSO 11: Executando serviço devocional de maneira regular, Pṛthu Mahā­rāja desenvolveu uma mente transcendental, em virtude do que podia pensar com constância nos pés de lótus do Senhor. Por causa disso, tornou-se completamente desapegado e alcançou conhecimento perfeito, através do qual pôde transcender todas as dúvidas. Assim, ele se libertou das garras do falso ego e do conceito material de vida.

VERSO 12: Ao livrar-se inteiramente do conceito corpóreo de vida, Mahārāja Pṛthu percebeu o Senhor Kṛṣṇa sentado no coração de todos como o Paramātmā. Sendo assim capaz de receber todas as instruções dEle, abandonou todas as outras práticas de yoga e jñāna. Não estava sequer interessado na perfeição dos sistemas de yoga e jñāna, pois compreendeu plenamente que o serviço devocional a Kṛṣṇa é a meta última da vida e que, a menos que os yogīs e os jñānīs se atraiam por Kṛṣṇa-kathā [narrações sobre Kṛṣṇa], suas ilusões con­cernentes à existência jamais poderão ser dissipadas.

VERSO 13: No devido curso do tempo, quando estava prestes a abandonar o corpo, Pṛthu Mahārāja fixou sua mente firmemente nos pés de lótus de Kṛṣṇa, e assim, inteiramente situado na plataforma Brahma-bhūta, abandonou o corpo material.

VERSO 14: Ao praticar uma postura ióguica sentada em particular, Mahārāja Pṛthu bloqueou a entrada de seu ânus com o tornozelo, pressio­nou suas batatas da perna direita e esquerda e, aos poucos, elevou seu ar vital, fazendo-o passar do círculo de seu umbigo para seu coração e garganta e, enfim, empurrou-o para cima até a posição central entre as duas sobrancelhas.

VERSO 15: Dessa maneira, Pṛthu Mahārāja gradualmente elevou seu ar vital até o orifício em seu crânio, após o que perdeu todo o desejo pela existência material. Pouco a pouco, fundiu seu ar vital na totalidade do ar, seu corpo na totalidade da terra, e o fogo dentro de seu corpo na totalidade do fogo.

VERSO 16: Dessa maneira, conforme as diferentes posições das diversas partes do corpo, Pṛthu Mahārāja fundiu os orifícios de seus sentidos no céu; os líquidos de seu corpo, tais como sangue e várias secreções, na totalidade da água; e fundiu a terra na água, depois a água no fogo, o fogo no ar, o ar no céu e assim por diante.

VERSO 17: Ele amalgamou a mente com os sentidos e os sentidos com os objetos dos sentidos, de acordo com suas respectivas posições, e também amalgamou o ego material com a totalidade da energia material, o mahat-tattva.

VERSO 18: Então, Pṛthu Mahārāja ofereceu a designação total da entidade viva ao controlador supremo da energia ilusória. Libertando-se de todas as designações em cuja armadilha a entidade viva caiu, libertou-se através do conhecimento e da renúncia e mediante a força espiritual de seu serviço devocional. Dessa maneira, situando-­se em sua posição constitucional original de consciência de Kṛṣṇa, ele abandonou este corpo como um prabhu, ou controlador dos sentidos.

VERSO 19: A rainha, a esposa de Pṛthu Mahārāja, cujo nome era Arci, seguiu seu esposo para a floresta. Como era uma rainha, seu corpo era muito delicado. Embora não merecesse viver na floresta, ela voluntariamente tocou o solo com seus pés de lótus.

VERSO 20: Embora não estivesse acostumada a essas dificuldades, a rainha Arci acompanhou seu esposo na prática dos princípios reguladores de viver na floresta como os grandes sábios. Ela se deitava no chão e comia apenas frutas, flores e folhas e, como não estava preparada para tais atividades, ficou fraca e magra. Contudo, devido ao prazer que obtinha em servir o esposo, ela não sentia qualquer dificuldade.

VERSO 21: Ao ver que seu esposo, que fora tão misericordioso com ela e com a Terra, já não mostrava sintomas de vida, a rainha Arci se lamentou brevemente e, em seguida, construiu uma pira de fogo no topo de uma colina e colocou o corpo de seu esposo sobre ela.

VERSO 22: Depois disso, a rainha executou os funerais necessários e ofereceu oblações de água. Após se banhar no rio, ela prestou reverên­cias aos diversos semideuses situados no céu em diferentes sistemas planetários. Em seguida, ela circundou a fogueira e, enquan­to pensava nos pés de lótus de seu esposo, entrou em suas chamas.

VERSO 23: Após observar esse ato de bravura realizado pela casta esposa Arci, a esposa do grande rei Pṛthu, muitas milhares de esposas de semideuses, juntamente com seus esposos, ofereceram orações à rainha, pois estavam muito satisfeitas.

VERSO 24: Naquela ocasião, os semideuses encontravam-se no topo da colina Mandara, e todas as suas esposas começaram a derramar flores sobre a pira funerária e se puseram a falar entre si da seguinte maneira.

VERSO 25: As esposas dos semideuses disseram: Todas as glórias à rainha Arci! Podemos ver que essa rainha do grande rei Pṛthu, o imperador de todos os reis do mundo, serviu seu esposo com mente, pala­vras e corpo exatamente como a deusa da fortuna serve a Suprema Personalidade de Deus, Yajñeśa, ou Viṣṇu.

VERSO 26: As esposas dos semideuses prosseguiram: Vede só como essa casta senhora, Arci, devido a suas inconcebíveis atividades piedosas, ainda está seguindo seu esposo, ascendendo com ele, tanto quanto podemos ver.

VERSO 27: Neste mundo material, todo ser humano tem uma curta duração de vida, mas aqueles que se ocupam em serviço devocional voltam ao lar, voltam ao Supremo, pois realmente estão trilhando o caminho da liberação. Para pessoas assim, não há nada que não seja alcançável.

VERSO 28: Qualquer pessoa que neste mundo material se ocupe em executar atividades que exigem grande esforço, e que, após obter a forma humana de vida – a qual é uma oportunidade de libertar-se dos sofrimentos –, submete-se às difíceis tarefas de atividades fruitivas, deve ser considerada enganada e invejosa de seu próprio eu.

VERSO 29: O grande sábio Maitreya continuou a falar: Meu querido Vidura, enquanto as esposas dos habitantes do céu falavam dessa maneira entre si, a rainha Arci alcançou o planeta que seu esposo, Mahārāja Pṛthu, a mais elevada das almas autorrealizadas, havia atingido.

VERSO 30: Maitreya prosseguiu: O maior de todos os devotos, Mahārāja Pṛthu, era muito poderoso, e seu caráter era liberal, magnificente e magnânimo. Assim, acabo de descrevê-lo a ti na medida do possível.

VERSO 31: Qualquer pessoa que descreva as grandes características do rei Pṛthu com fé e determinação – quer as leia ou ouça pessoalmente, quer ajude outros a ouvi-las – com certeza alcançará o mesmo planeta alcançado por Mahārāja Pṛthu. Em outras palavras, tal pessoa também voltará ao lar, aos planetas Vaikuṇṭha, de volta ao Supremo.

VERSO 32: Se alguém ouve as características de Pṛthu Mahārāja e é um brāhmaṇa, torna-se perfeitamente qualificado com poderes bramânicos; se for um kṣatriya, torna-se rei do mundo; se for um vaiśya, torna-se senhor de outros vaiśyas e muitos animais, e se for um śūdra, torna-se o devoto mais elevado.

VERSO 33: Quer alguém seja homem ou mulher, se ouvir com grande respeito esta narração sobre Mahārāja Pṛthu, esse alguém terá muitos filhos se não tiver filhos e se tornará o mais rico dos cidadãos se não tiver dinheiro.

VERSO 34: Além disso, quem ouvir essa narração três vezes se tornará muito famoso se não for reconhecido na sociedade, e se tornará um grande erudito se for iletrado. Em outras palavras, ouvir as narrações de Pṛthu Mahārāja é algo tão auspicioso que afasta todo azar.

VERSO 35: O ouvinte da narração acerca de Pṛthu Mahārāja pode tornar-se eminente, aumentar a duração de sua vida, ser promovido aos planetas celestiais e neutralizar as contaminações desta era de Kali. Além disso, pode promover as causas da religião, do desenvolvimento econômico, do gozo dos sentidos e da liberação. Portanto, sob todos os pontos de vista, é aconselhável que o materialista interes­sado em tais coisas leia e ouça as narrações da vida e do caráter de Pṛthu Mahārāja.

VERSO 36: Se um rei, desejoso de sair vitorioso e obter o poder governamen­tal, cantar a narração de Pṛthu Mahārāja três vezes antes de partir em sua quadriga, todos os reis subordinados naturalmente lhe entregarão toda espécie de impostos – assim como entregaram a Mahārāja Pṛthu – simplesmente por sua ordem.

VERSO 37: Um devoto puro dedicado à execução dos diferentes processos de serviço devocional pode estar situado na posição transcen­dental, estando completamente absorto em consciência de Kṛṣṇa, porém, mesmo ele, enquanto presta serviço devocional, precisa ouvir, ler e induzir outros a ouvir sobre o caráter e a vida de Pṛthu Mahārāja.

VERSO 38: O grande sábio Maitreya prosseguiu: Meu querido Vidura, acabo de falar, tanto quanto possível, as narrações sobre Pṛthu Mahārāja, que enriquecem nossa atitude devocional. Quem quer que tire proveito desses benefícios também volta ao lar, volta ao Supremo, como Mahārāja Pṛthu.

VERSO 39: É certo que qualquer pessoa que, com grande reverência e adoração, regularmente leia, cante e descreva a história das atividades de Pṛthu Mahārāja desenvolverá uma fé inquebrantável e atração pelos pés de lótus do Senhor. Os pés de lótus do Senhor são o barco com o qual se pode cruzar o oceano da ignorância.

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