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VERSO 18

ātmārāmo ’pi yas tv asya
loka-kalpasya rādhase
śaktyā yukto vicarati
ghorayā bhagavān bhavaḥ

ātma-ārāmaḥ — satisfeito consigo mesmo; api — apesar de ser; yaḥ — aquele que é; tu — mas; asya — este; loka — mundo material; kalpasya — quando manifesto; rādhase — para ajudar sua existência; śaktyā — potências; yuktaḥ — estando ocupado; vicarati — ele atua; ghorayā — muito perigosas; bhagavān — Sua Onipotência; bhavaḥ — Śiva.

O senhor Śiva, o poderosíssimo semideus, secundário apenas ao Senhor Viṣṇu, é autossuficiente. Apesar de nada ter a desejar no mundo material, para o benefício daqueles que estão no mundo material, ele está sempre muito atarefado em toda parte e anda acompanhado por suas perigosas energias, como a deusa Kālī e a deusa Durgā.

SIGNIFICADO––O senhor Śiva é conhecido como o maior devoto da Suprema Personalidade de Deus. Ele é conhecido como o melhor de todos os vaiṣṇavas (vaiṣṇavānāṁ yathā śambhuḥ). Em consequência disso, o senhor Śiva tem um sampradāya vaiṣṇava, a sucessão discipular conhecida como Rudra-sampradāya. Assim como existe um Brahma-sampradāya oriundo diretamente do senhor Brahmā, o Rudra-sampradāya vem diretamente do senhor Śiva. O senhor Śiva é uma das doze grandes personalidades, como se afirma no Śrīmad­-Bhāgavatam (6.3.20):

svayambhūr nāradaḥ śambhuḥ
kumāraḥ kapilo manuḥ
prahlādo janako bhīṣmo
balir vaiyāsakir vayam

Há doze grandes autoridades na pregação da consciência de Deus. O nome Śambhu significa senhor Śiva. Sua sucessão discipular também é conhecida como Viṣṇusvāmi-sampradāya, e o atual Viṣṇusvāmi-sampradāya também é conhecido como Vallabha­-sampradāya. O atual Brahma-sampradāya é conhecido como Madhva-Gauḍīya-sampradāya. Muito embora o senhor Śiva tivesse aparecido para pregar a filosofia māyāvāda, ao final de seu passa­tempo sob a forma de Śaṅkarācārya, ele pregou a filosofia vaiṣṇava: bhaja govindaṁ bhaja govindaṁ bhaja govindaṁ mūḍha­-mate. Ele enfatizou a adoração ao Senhor Kṛṣṇa, ou Govinda, três vezes neste verso e advertiu especialmente seus seguidores que eles não poderiam obter a liberação, ou mukti, por meio de meros jogos de palavras ou quebra-cabeças gramaticais. Se alguém realmente leva a sério seu intuito de alcançar mukti, precisa adorar o Senhor Kṛṣṇa. Essa foi a última instrução de Śrīpāda Śaṅkarācārya.

Menciona-se nesta passagem que o senhor Śiva está sempre acompanhado por sua energia material (śaktyā ghorayā). A energia material – a deusa Durgā, ou a deusa Kālī – está sempre sob o controle dele. A deusa Kāli e Durgā servem-no, matando todos os asuras, ou demônios. Às vezes, Kālī fica tão enfurecida que mata indiscriminadamente toda espécie de asuras. Há uma pintura popular da deusa Kālī na qual ela usa uma guirlanda feita de cabeças de asuras e porta, em sua mão esquerda, uma cabeça decepada e, em sua mão direita, um khaḍga, ou machadinha, para matar asuras. As grandes guerras são representações simbólicas de Kālī devastando os asuras. Essas guerras, na verdade, são conduzidas pela deusa Kālī.

sṛṣṭi-sthiti-pralaya-sādhana-śaktir ekā

(Brahma-saṁhitā 5.44)

Os asuras tentam apaziguar a deusa Kālī, ou Durgā, adorando-a com opulências materiais, mas, quando os asuras tornam-se demasiadamente intoleráveis, a deusa Kālī não discrimina e mata todos os asuras. Os asuras não conhecem o segredo da energia do senhor Śiva, e preferem adorar a deusa Kālī ou Durgā ou o senhor Śiva em troca de benefícios materiais. Devido a seu caráter demoníaco, eles relutam em se render ao Senhor Kṛṣṇa, como se indica na Bhagavad-gītā (7.15):

na māṁ duṣkṛtino mūḍhāḥ
prapadyante narādhamāḥ
māyayāpahṛta-jñānā
āsuraṁ bhāvam āśritāḥ

O dever do senhor Śiva é muito perigoso porque ele lida com a energia da deusa Kālī (ou Durgā). Em outra pintura popular, a deusa Kālī às vezes é vista de pé sobre o corpo prostrado do senhor Śiva, o que indica que, às vezes, o senhor Śiva tem que cair ao solo para impedir a deusa Kālī de matar os asuras. Como o senhor Śiva controla a grande energia material (a deusa Durgā), os adoradores do senhor Śiva atingem posições muito opulentas neste mundo material. Sob a orientação do senhor Śiva, um adorador do senhor Śiva obtém toda espécie de recursos materiais. Em contraste com isso, um vaiṣṇava, ou adorador do Senhor Viṣṇu, aos poucos se torna cada vez mais pobre em posses materiais, pois o Senhor Viṣṇu não engana Seus devotos, fazendo-os enredarem-se mate­rialmente com suas posses. Internamente, o Senhor Viṣṇu concede a inteligência a Seus devotos, como se afirma na Bhagavad-gītā (10.10):

teṣāṁ satata-yuktānāṁ
bhajatāṁ prīti-pūrvakam
dadāmi buddhi-yogaṁ taṁ
yena mām upayānti te

“Àqueles que sempre se dedicam a Mim e Me adoram com amor, Eu dou a compreensão pela qual eles podem vir a Mim.”

Assim, o Senhor Viṣṇu concede inteligência a Seu devoto para que ele possa progredir no caminho de volta ao lar, de volta ao Supremo. Uma vez que o devoto nada tem a ver com qualquer classe de posse material, ele não cai sob o controle da deusa Kālī, ou da deusa Durgā.

O senhor Śiva também está encarregado de tamo-guṇa, ou seja, o modo da ignorância neste mundo material. Sua potência, a deusa Durgā, é descrita como aquela que mantém todas as entidades vivas na escuridão da ignorância (yā devī sarva-bhūteṣu nidra-rūpaṁ saṁsthitā). Tanto o senhor Brahmā quanto o senhor Śiva são encarnações do Senhor Viṣṇu, mas o senhor Brahmā está encar­regado da criação, ao passo que o senhor Śiva está encarregado da destruição, a qual ele executa com o auxílio de sua energia mate­rial, a deusa Kālī, ou a deusa Durgā. Assim, este verso descreve o senhor Śiva como aquele que é acompanhado por perigosas potências (śaktyā ghorayā), e essa é a verdadeira posição do senhor Śiva.

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