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VERSO 52

padā śarat-padma-palāśa-rociṣā
nakha-dyubhir no ’ntar-aghaṁ vidhunvatā
pradarśaya svīyam apāsta-sādhvasaṁ
padaṁ guro mārga-gurus tamo-juṣām

padā — pelos pés de lótus; śarat — outono; padma — flor de lótus; palāśa — pétalas; rociṣā — muito agradáveis; nakha — unhas; dyubhiḥ — pela refulgência; naḥ — nossas; antaḥ-agham — coisas sujas; vidhun­vatā — que podem limpar; pradarśaya — simplesmente mostrai; svīyam — Vossa própria; apāsta — diminuindo; sādhvasam — o incômodo do mundo material; padam — pés de lótus; guro — ó mestre espiritual supremo; mārga — o caminho; guruḥ — mestre espiritual; tamaḥ-juṣām — das pessoas que sofrem em ignorância.

Meu querido Senhor, Vossos dois pés de lótus são tão belos que se parecem com duas pétalas desabrochadas da flor de lótus que cresce durante o outono. Na verdade, as unhas de Vossos pés de lótus emitem uma refulgência tão grandiosa que dissipam de imediato toda a escuridão no coração de uma alma condicionada. Meu querido Senhor, por favor, mostrai-me essa Vossa forma que sempre dissipa toda espécie de escuridão no coração do devoto. Meu querido Senhor, sois o mestre espiritual supremo de todos; por­tanto, todas as almas condicionadas cobertas pela escuridão da ignorância podem ser iluminadas por Vós sob a forma do mestre espiritual.

SIGNIFICADO––O senhor Śiva acaba de descrever as características do corpo do Senhor de maneira autorizada. Agora ele quer ver os pés de lótus do Senhor. Quando um devoto deseja ver a forma transcendental do Senhor, ele começa sua meditação no corpo do Senhor, olhando primeiramente para os pés do Senhor. O Śrīmad-Bhāgavatam é considerado a forma sonora transcendental do Senhor, e sua divisão em doze cantos corresponde às diferentes partes da forma transcen­dental do Senhor. O primeiro e o segundo cantos do Śrīmad­-Bhāgavatam são chamados de “os dois pés de lótus do Senhor”. Portanto, o senhor Śiva sugere que, em primeiro lugar, devemos tentar ver os pés de lótus do Senhor. Isso também significa que, se alguém levar a sério a leitura do Śrīmad-Bhāgavatam, deverá começar estudando seriamente os dois primeiros cantos.

A beleza dos pés de lótus do Senhor é comparada às pétalas de uma flor de lótus que cresce no outono. Pela lei da natureza, no outono, as águas sujas ou barrentas dos rios e lagos tornam-se muito limpas. Nessa época, as flores de lótus que crescem nos lagos ficam muito brilhantes e belas. A flor de lótus, em si, é comparada aos pés de lótus do Senhor, e as pétalas são comparadas às unhas dos pés do Senhor. As unhas dos pés do Senhor são muito brilhantes, como declara a Brahma-saṁhitā, ānanda-cinmaya-sad-ujjvala-vigrahasya: cada membro do corpo transcendental do Senhor é feito de ānanda-cinmaya-sad-ujjvala. Assim, cada membro é eternamente brilhante. Assim como a luz do Sol dissipa a escuridão deste mundo material, a refulgência que emana do corpo do Senhor elimina de imediato a escuridão no coração da alma condicionada. Em outras palavras, todos que buscam seriamente entender a ciên­cia transcendental e ver a forma transcendental do Senhor precisam, antes de mais nada, tentar ver os pés de lótus do Senhor estudando o primeiro e o segundo cantos do Śrīmad-Bhāgavatam: Quando alguém vê os pés de lótus do Senhor, toda espécie de dúvidas e temores dentro de seu coração desaparecem.

Para quem quer progredir espiritualmente, a Bhagavad-gītā diz que é preciso tornar-se destemido. Abhayaṁ sattva-saṁśuddhiḥ. (Bg. 16.1) O temor é resultado do envolvimento material. Declara-se ainda no Śrīmad-Bhāgavatam (11.2.37) que bhayaṁ dvitīyābhini-veśataḥ syāt: o temor é uma criação do conceito corpóreo de vida. Enquanto alguém estiver absorto no pensamento de que é este corpo material, terá medo e, logo que se livrar desse conceito material, ele se tornará brahma-bhūta, ou autorrealizado, e imediatamente desenvolverá o destemor. Brahma-bhūtaḥ prasannātmā. (Bg. 18.54) Sem ser destemido, ninguém pode ser feliz. Os bhaktas, os devotos, são des­temidos e sempre jubilosos por estarem constantemente ocupados a serviço dos pés de lótus do Senhor. Declara-se também:

evaṁ prasanna-manaso
bhagavad-bhakti-yogataḥ
bhagavat-tattva-vijñānaṁ
mukta-saṅgasya jāyate

(Bhāg. 1.2.20)

Praticando bhagavad-bhakti-yoga, tornemo-nos destemidos e alegres. A menos que nos tornemos destemidos e alegres, não podemos entender a ciência de Deus. Bhagavat-tattva-vijñānaṁ mukta­-saṅgasya jāyate. Este verso se refere àqueles que se libertam intei­ramente do temor deste mundo material. Quem está livre dessa maneira pode realmente entender os aspectos transcendentais da forma do Senhor. Portanto, o senhor Śiva aconselha a todos que pratiquem bhagavad-bhakti-yoga. Como ficará claro nos versos seguintes, quem assim o faz pode realmente se libertar e gozar de bem-aventurança espiritual.

Afirma-se também:

om ajñāna-timirāndhasya
jñānāñjana-śalākayā
cakṣur unmīlitaṁ yena
tasmai śrī-gurave namaḥ

O Senhor é o mestre espiritual supremo, e o representante fide­digno do Senhor Supremo é também mestre espiritual. Interna­mente, o Senhor ilumina os devotos através da refulgência das unhas de Seus pés de lótus, e Seu representante, o mestre espiritual, ilumina-os externamente. É somente pensando nos pés de lótus do Senhor e sempre aceitando o conselho do mestre espiritual que alguém pode avançar na vida espiritual e entender o conhecimento védico.

yasya deve parā bhaktir
yathā deve tathā gurau
tasyaite kathitā hy arthāḥ
prakāśante mahātmanaḥ

Assim, os Vedas (Svetāśvatara Upaniṣad 6.23) prescrevem que o verdadeiro significado do conhecimento védico pode ser revelado a uma pessoa de fé inabalável nos pés de lótus do Senhor, bem como no mestre espiritual.

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