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VERSO 61

yo māyayedaṁ puru-rūpayāsṛjad
bibharti bhūyaḥ kṣapayaty avikriyaḥ
yad-bheda-buddhiḥ sad ivātma-duḥsthayā
tvam ātma-tantraṁ bhagavan pratīmahi

yaḥ — aquele que; māyayā — por Sua energia; idam — esta; puru — múltipla; rūpayā — manifestação; asṛjat — criada; bibharti — mantém; bhūyaḥ — novamente; kṣapayati — aniquila; avikriyaḥ — sem ser alterada; yat — isto; bheda-buddhiḥ — sentido de diferenciação; sat — eterno; iva — como; ātma-duḥsthayā — incomodando-se a si mesmo; tvam — a Vós; ātma-tantram — plenamente independente; bhagavan — ó Senhor, ó Suprema Personalidade de Deus; pratīmahi — posso entender.

Meu querido Senhor, tendes múltiplas energias, e essas ener­gias manifestam-se sob múltiplas formas. Com essas energias, tam­bém criais esta manifestação cósmica, e, embora a mantenhais como se fosse permanente, ela, por fim, é aniquilada por Vós. Apesar de nunca serdes perturbado por semelhantes transformações e alte­rações, as entidades vivas se perturbam e, em razão disso, julgam a manifestação cósmica diferente ou separada de Vós. Meu Senhor, sois sempre independente, e posso constatar claramente esse fato.

SIGNIFICADO––Explica-se aqui claramente que o Senhor Kṛṣṇa tem múltiplas energias, as quais podem ser agrupadas em três, a saber, a energia externa, a energia interna e a energia marginal. Há também diferentes manifestações cósmicas – a saber, o mundo espiritual e o mundo material –, bem como diferentes classes de entidades vivas. Algumas entidades vivas são condicionadas, e outras são eterna­mente livres. As entidades vivas eternamente livres chamam-se nitya-muktas, pois jamais entram em contato com a energia mate­rial. Contudo, certas entidades vivas são condicionadas neste mundo material, de modo que se julgam separadas do Senhor Supremo. Devido a seu contato com a energia material, a existência delas é sempre cheia de problemas. Estando sempre aflita, a alma condicio­nada considera a energia material como sendo muito perturbadora. Esse fato é explicado por um kavi, ou poeta, vaiṣṇava:

kṛṣṇa bhuli’ sei jīva anādi-bahirmukha
ataeva māyā tāre deya saṁsāra-duḥkha

Quando a entidade viva se esquece do Senhor Supremo e deseja divertir-se de maneira independente, imitando o Senhor Supremo, ela fica presa à falsa noção de que é o desfrutador e que está separada do Senhor Supremo. Portanto, essa energia material é muito incômoda para a energia espiritual, ou seja, a entidade viva, mas a energia material jamais incomoda o Senhor Supremo. Na verdade, para o Senhor Supremo, tanto a energia material quanto a espiritual são a mesma coisa. Neste verso, o senhor Śiva explica que a energia material jamais incomoda o Senhor Supremo. O Senhor Supremo é sempre independente, mas, como as entidades vivas não são inde­pendentes – devido à sua falsa ideia de tornarem-se felizes indepen­dentemente — a energia material as incomoda. Consequentemente, a energia material cria diferenciações.

Como os filósofos māyāvādīs não podem entender isso, eles desejam libertar-se da energia material. Todavia, uma vez que o filó­sofo vaiṣṇava tem pleno conhecimento da Suprema Personalidade de Deus, ele não se sente incomodado, mesmo estando na energia material. Isso porque ele sabe como utilizar a energia material a serviço do Senhor. No governo, o departamento criminal e o depar­tamento cível podem parecer diferentes aos olhos dos cidadãos, mas, aos olhos do governo, ambos os departamentos são a mesma coisa. O departamento criminal é incômodo para o criminoso, mas não para o cidadão obediente. Analogamente, esta energia material é incômoda para a alma condicionada, mas nada tem a ver com as almas liberadas que se dedicam a servir o Senhor. Através do puruṣa-avatāra Mahā-Viṣṇu, a Suprema Personalidade de Deus criou toda a manifestação cósmica. Pelo simples fato de exalar todos os universos, o Senhor cria e mantém a manifestação cósmica sob a forma de Senhor Viṣṇu. Depois, como Saṅkarṣaṇa, Ele ani­quila a manifestação cósmica. Todavia, apesar da criação, manuten­ção e destruição do cosmo, o Senhor não Se afeta. Pode ser que as diversas atividades do Senhor sejam muito perturbadoras para as diminutas entidades vivas, mas, uma vez que o Senhor é suprema­mente grande, Ele nunca é afetado. O senhor Śiva, ou qualquer outro devoto puro, pode constatar isso claramente, sem se deixar cegar por bheda-buddhi, ou diferenciações. Para o devoto, o Senhor é a alma espiritual suprema. Já que Ele é supremamente poderoso, Seus vários poderes também são espirituais. Para o devoto, não há nada material, pois existência material significa apenas esqueci­mento da Suprema Personalidade de Deus.

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