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VERSO 28

tvaṁ hrīr bhavāny asy atha vāg ramā patiṁ
vicinvatī kiṁ munivad raho vane
tvad-aṅghri-kāmāpta-samasta-kāmaṁ
kva padma-kośaḥ patitaḥ karāgrāt

tvam — tu; hrīḥ — recato; bhavānī — a esposa do senhor Śiva; asi — és; atha — pelo contrário; vāk — Sarasvatī, a deusa da sabedoria; ramā — a deusa da fortuna; patim — esposo; vicinvatī — procurando por, pensando em; kim — és tu; muni-vat — como um sábio; rahaḥ — neste lugar solitário; vare — na floresta; tvat-aṅghri — teus pés; kāma — desejando; āpta — alcançadas; samasta — todas; kāmam­ — coisas desejáveis; kva — onde está; padma-kośaḥ — a flor de lótus; patitaḥ — caída; kara — da mão; agrāt — da parte da frente, ou a palma da mão.

Minha querida e bela mocinha, és exatamente como a deusa da fortuna ou a esposa do senhor Śiva ou a deusa da sabedoria, a esposa do senhor Brahmā. Embora devas ser uma delas, vejo que andas sem destino por esta floresta. Na verdade, és tão silenciosa como os grandes sábios. Por acaso estarás à procura de teu esposo? Quem quer que seja ele, pelo simples fato de entender que és tão fiel a ele, acabará possuindo todas as opulências. Creio que deves ser a deusa da fortuna, mas não vejo a flor de lótus em tua mão. Portanto, pergunto-te onde atiraste essa flor de lótus.

SIGNIFICADO––Cada um pensa que sua inteligência é perfeita. Às vezes, alguém emprega sua inteligência na adoração a Umā, a esposa do senhor Śiva, a fim de obter uma bela esposa. Às vezes, quando alguém deseja tornar-se tão erudito quanto o senhor Brahmā, emprega sua inteligência na adoração à deusa da sabedoria, Sarasvatī. Às vezes, quando alguém deseja tornar-se tão opulento quanto o Senhor Viṣṇu, adora a deusa da fortuna, Lakṣmī. Neste verso, todas essas perguntas são feitas pelo rei Purañjana, a entidade viva que está confusa e não sabe como usar sua inteligência. Deve-se usar a inteligência a serviço da Suprema Personalidade de Deus. Tão logo alguém use sua inteligência dessa maneira, a deusa da fortuna espontaneamente se torna favorável a ele. A deusa da fortuna, Lakṣmī, nunca permanece sem o seu esposo, o Senhor Viṣṇu. Logo, quem adora o Senhor Viṣṇu naturalmente obtém o favor da deusa da fortuna. Não se deve, como Rāvaṇa, adorar a deusa da fortuna sozinha, pois ela não pode permanecer muito tempo sem seu esposo. Assim, outro nome dela é Cañcalā, ou inquieta. Este verso deixa claro que Purañjana representa nossa inteligência enquanto fala com a mocinha. Ele não apenas apreciou o recato da mocinha, mas realmente se sentiu cada vez mais atraído por esse recato. De fato, ele pensava em se tornar seu esposo, de modo que lhe perguntava se ela pensava em seu futuro esposo ou se já era casada. Esse é um exemplo de bhoga-icchā – desejo de desfrutar. Quem se deixa atrair por semelhantes desejos se torna condicionado neste mundo material, e quem não sente tal atração alcança a liberação. O rei Purañjana apreciava a beleza da mocinha como se ela fosse a deusa da fortuna, mas, ao mesmo tempo, tomava o cuidado de entender que a deusa da fortuna não pode ser desfrutada por ninguém exceto o Senhor Viṣṇu. Uma vez que ele duvidava que a mocinha era a deusa da fortuna, perguntou-lhe sobre a flor de lótus que ela não trazia. O mundo material também é a deusa da fortuna porque a energia material funciona sob a direção do Senhor Viṣṇu, conforme afirma a Bhagavad-gītā (mayādhyakṣeṇa prakṛtiḥ sūyate sa-carācaram).

Nenhuma entidade viva pode desfrutar do mundo material. Se alguém deseja desfrutar dele, imediatamente se torna um demônio como Rāvaṇa, Hiraṇyakaśipu ou Kaṁsa. Como Rāvaṇa quis desfrutar da deusa da fortuna, Sītādevī, ele foi aniquilado junta­mente com sua família, riquezas e opulência. Entretanto, pode-se desfrutar da māyā outorgada à entidade viva pelo Senhor Viṣṇu. Satisfazer nossos sentidos e nossos desejos significa desfrutar de māyā, e não da deusa da fortuna.

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