No edit permissions for Português

VERSO 11

īje ca kratubhir ghorair
dīkṣitaḥ paśu-mārakaiḥ
devān pitṝn bhūta-patīn
nānā-kāmo yathā bhavān

īje — ele adorou; ca também; kratubhiḥ — mediante sacrifícios; ghoraiḥ — horrendos; dīkṣitaḥ — inspirados; paśu-mārakaiḥ — em que se matam pobres animais; devān — os semideuses; pitṝn — antepas­sados; bhūta-patīn — grandes líderes da sociedade humana; nānā­ — diversos; kāmaḥ tendo desejos; yathā — como; bhavān — tu.

O grande sábio Nārada prosseguiu: Meu querido rei Prācīnabarhiṣat, assim como tu, o rei Purañjana se envolveu com muitos desejos. Assim, ele adorou semideuses, antepassados e líderes sociais com diversos sacrifícios, os quais eram todos horrendos, visto que era o desejo de matar animais que os inspirava.

SIGNIFICADO—Neste verso, o grande sábio Nārada revela que o caráter de Purañjana estava sendo descrito para servir de lição ao rei Prācīnabarhiṣat. Na realidade, toda a descrição mostrava, de maneira figurativa, as atividades do rei Prācīnabarhiṣat. Neste verso, Nārada diz francamente: “Assim como tu” (yathā bhavān), o que indica que o rei Purañjana não é outro senão o próprio rei Prācīnabarhiṣat. Sendo um grande vaiṣṇava, Nārada Muni queria parar com a matança de animais em sacrifícios. Ele sabia que, se tentasse impedir o rei de realizar sacrifícios, o rei não o ouviria. Por esse motivo, ele descreveu a vida de Purañjana. Neste verso, porém, ele revela pela primeira vez sua intenção, embora não completamente, ao dizer: “Assim como tu.” De um modo geral, os karmīs, que estão apegados a multiplicar seus descendentes, precisam executar muitos sacrifícios e adorar muitos semideuses para o benefício das gerações futuras, como também precisam satisfazer muitos líderes, políticos, filósofos e cientistas para que as coisas aconteçam de modo favorável para as gerações futuras. Os ditos cientistas estão muito ansiosos por saber se as gerações futuras viverão confortavelmente, de modo que procu­ram encontrar diversos meios de gerar energia para movimentar locomotivas, carros, aviões e assim por diante. Agora estão esgo­tando o suprimento de petróleo. Essas atividades são descritas na Bhagavad-gītā (2.41):

vyavasāyātmikā buddhir
ekeha kuru-nandana
bahu-śākhā hy anantāś ca
buddhayo ’vyavasāyinām

“Aqueles que trilham o caminho espiritual são resolutos em seus propósitos, e sua meta é uma só. Ó amado filho dos Kurus, a inteli­gência dos irresolutos tem muitas ramificações.”

De fato, aqueles que conhecem tudo têm determinação para exe­cutar a consciência de Kṛṣṇa, mas aqueles que são patifes (mūḍhāḥ), pecadores (duṣkṛtinaḥ) e os mais baixos da humanidade (narādhamāḥ), que estão destituídos de toda inteligência (māyayāpahṛta jñānāḥ) e que se refugiam no modo de vida demo­níaco (āsuraṁ bhāvam āśritāḥ), não têm interesse pela consciência de Kṛṣṇa. Sendo assim, eles se comprometem e empreendem muitas atividades. A maioria dessas atividades centraliza-se na matança de animais. A civilização moderna se centraliza na matança de ani­mais. Os karmīs proclamam que, sem comer carne, suas vitaminas ou sua vitalidade serão reduzidas; assim, para se manterem capazes de trabalhar arduamente, eles precisam comer carne e, para digerir a carne, precisam beber, e, para manter o equilíbrio entre beber vinho e comer carne, precisam ter suficiente satisfação sexual, que os manterá capazes de trabalhar arduamente, como se fossem asnos.

Existem dois processos de matança de animais. Um deles é feito em nome de sacrifícios religiosos. Todas as religiões do mundo – exceto os budistas – têm um programa de matar animais em lugares de adoração. Segundo a civilização védica, recomenda-se aos comedores de animais que sacrifiquem um bode no templo de Kālī, sob determinadas normas restritivas, e comam sua carne. Do mesmo modo, recomenda-se que bebam vinho adorando a deusa Caṇḍikā. O propósito é a restrição. Tem-se abandonado todas essas restrições. Hoje em dia, abrem-se regularmente destila­rias e matadouros e costuma-se consumir álcool e carne. Um ācārya vaiṣṇava como Nārada Muni sabe muito bem que pessoas ocupadas na matança de animais em nome de religião decerto estão se emaranhando no ciclo de nascimentos e mortes, esquecendo-se da verdadeira meta da vida: voltar ao lar, voltar ao Supremo.

Assim, o grande sábio Nārada, enquanto ensinava o Śrīmad-­Bhāgavatam a Vyāsa Muni, condenou as atividades karma-kāṇḍa (fruitivas) mencionadas nos Vedas. Nārada disse a Vyāsa:

jugupsitaṁ dharma-kṛte ’nuśāsataḥ
svabhāva-raktasya mahān vyatikramaḥ
yad vākyato dharma itītaraḥ sthito
na manyate tasya nivāraṇaṁ janaḥ

“As pessoas em geral são naturalmente propensas a desfrutar, e tu as encorajaste dessa maneira em nome da religião. Isso é muito condenável e bastante irracional. Orientando-se por tuas instruções, elas aceitarão semelhantes atividades em nome da religião e pouco se importarão com as proibições.” (Śrīmad­Bhāgavatam 1.5.15)

Śrīla Nārada Muni repreendeu Vyāsadeva por compilar tantas escrituras védicas suplementares, que se destinam a orientar as pessoas em geral. Nārada Muni condenou essas escrituras por elas não mencionarem o serviço devocional direto. Sob as instruções de Nārada, Vyāsadeva apresentou a adoração direta à Suprema Personalidade de Deus, tal como é descrita no Śrīmad-Bhāgavatam. Em conclusão, nem a Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu, nem Seu devoto sancionam em algum momento a matança de animais em nome da religião. Na verdade, Kṛṣṇa apareceu como o senhor Buddha para dar fim à matança de animais em nome da religião. Sacrifícios de animais em nome da religião são conduzidos sob a influência de tamo-guṇa (o modo da ignorância), como se indica no décimo ­oitavo capítulo da Bhagavad-gītā (18.31-32):

yayā dharmam adharmaṁ ca
kāryaṁ cākāryam eva ca
ayathāvat prajānāti
buddhiḥ sā pārtha rājasī

adharmaṁ dharmam iti yā
manyate tamasāvṛtā
sarvārthān viparītāṁś ca
buddhiḥ sā pārtha tāmasī

“A compreensão que não pode distinguir entre o modo de vida religioso e o irreligioso, entre a ação que deve ser feita e a ação que não deve ser feita – essa compreensão imperfeita, ó filho de Pṛthā, está no modo da paixão. A compreensão que considera irreligião como religião e religião como irreligião, sob o encanto da ilusão e da escuridão, e avança sempre na direção errada, ó Pārtha, está no modo da ignorância.”

Aqueles que se comprometem com o modo da ignorância inven­tam sistemas religiosos para matar animais. Na verdade, o dharma é transcendental. Como o Senhor Śrī Kṛṣṇa ensina, precisamos abandonar todos os demais sistemas de religião e simplesmente nos render a Ele (sarva-dharmān parityajya). Assim, o Senhor e Seus devotos e representantes ensinam o dharma transcendental, o qual não permite de forma alguma a matança de animais. No momento atual, é muito lamentável que muitos ditos trabalhadores missionários na Índia estejam difundindo a irreligião em nome da religião. Eles afirmam que o ser humano comum é Deus e recomendam a todos que comam carne, incluindo os assim chamados sannyāsīs.

« Previous Next »