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Capítulo Vinte e Sete

Caṇḍavega Ataca a Cidade do Rei Purañjana; o Caráter de Kālakanyā

VERSO 1: O grande sábio Nārada continuou: Meu querido rei, após confundir seu esposo de diferentes maneiras e trazê-lo sob seu controle, a esposa do rei Purañjana deu-lhe toda a satisfação possível e gozou da vida sexual com ele.

VERSO 2: A rainha se banhou e se vestiu muito bem, com roupas e adornos auspiciosos. Após se alimentar e ficar completamente satisfeita, ela voltou a ter com o rei. Ao ver seu rosto belamente deco­rado e atrativo, o rei acolheu a rainha com toda devoção.

VERSO 3: A rainha Purañjanī abraçou o rei, o qual respondeu também a envolvendo em seus braços. Dessa maneira, em um lugar solitário, eles trocaram gracejos. O rei Purañjana, dessa maneira, ficou muito cativado por sua bela esposa e se desviou de seu bom senso. Esqueceu-se de que os dias e as noites passavam, fazendo com que a duração de sua vida se escoasse sem nenhum proveito.

VERSO 4: Desse modo, cada vez mais dominado pela ilusão, o rei Purañjana, embora avançado em consciência, permanecia sempre deitado com sua cabeça no travesseiro dos braços de sua esposa. Dessa maneira, ele passou a considerar a mulher como a essência de sua vida. Deixando-se dominar assim pelo modo da ignorância, ele não podia entender o significado da autorrealização, nem do seu eu, nem da Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 5: Meu querido rei Prācīnabarhiṣat, dessa maneira, o rei Purañjana, com seu coração cheio de luxúria e reações pecaminosas, começou a gozar de sexo com sua esposa, de modo que o frescor de sua vida e sua juventude dissiparam-se em um instante.

VERSO 6: O grande sábio Nārada dirigiu-se, então, ao rei Prācīnabarhiṣat: Ó longevo [virāṭ], dessa maneira, o rei Purañjana gerou 1.100 filhos no ventre de sua esposa, Purañjanī. Contudo, nesses afazeres, ele gastou metade da duração de sua vida.

VERSO 7: Ó Prajāpati, ó rei Prācīnabarhiṣat, dessa maneira, o rei Purañjana gerou, também, cento e dez filhas. Todas elas, como o pai e a mãe, eram igualmente gloriosas. Tinham comportamento gentil, magnanimidade e outras boas qualidades.

VERSO 8: Depois disso, o rei Purañjana, o rei do território Pañcāla, a fim de aumentar os descendentes de sua família, casou seus filhos com esposas qualificadas e suas filhas com esposos qualificados.

VERSO 9: Desses muitos filhos, cada um gerou centenas e centenas de netos. Dessa maneira, toda a cidade de Pañcāla ficou apinhada desses filhos e netos do rei Purañjana.

VERSO 10: Esses filhos e netos eram, para todos os fins práticos, assaltantes das riquezas do rei Purañjana, incluindo seu lar, tesouro, servos, secretários e todas as demais parafernálias. O apego de Purañjana a essas coisas tinha raízes profundas.

VERSO 11: O grande sábio Nārada prosseguiu: Meu querido rei Prācīnabarhiṣat, assim como tu, o rei Purañjana se envolveu com muitos desejos. Assim, ele adorou semideuses, antepassados e líderes sociais com diversos sacrifícios, os quais eram todos horrendos, visto que era o desejo de matar animais que os inspirava.

VERSO 12: Assim, o rei Purañjana, estando apegado às atividades fruitivas (karma-kāṇḍīya), bem como a amigos e parentes, e estando atormentado por uma consciência poluída, enfim chegou ao ponto não muito apreciado por aqueles que se apegam demasiadamente a coisas materiais.

VERSO 13: Ó rei! Em Gandharvaloka, há um monarca chamado Caṇḍavega. Estão sob suas ordens trezentos e sessenta poderosíssimos soldados Gandharvas.

VERSO 14: Juntamente com Caṇḍavega, havia tantas Gandharvīs quanto havia soldados, e todos eles repetidamente saqueavam toda a parafernália destinada ao gozo dos sentidos.

VERSO 15: Quando o rei Gandharva-rāja [Caṇḍavega] e seus seguidores começaram a assaltar a cidade de Purañjana, uma serpente de cinco cabeças colocou-se a defender a cidade.

VERSO 16: A serpente de cinco cabeças, a superintendente e protetora da cidade do rei Purañjana, lutou com os Gandharvas por cem anos. Ela lutou sozinha contra todos eles, embora eles fossem setecentos e vinte.

VERSO 17: Como tinha que lutar sozinha contra tantos soldados, todos eles grandes guerreiros, a serpente de cinco cabeças ficou muito fraca. Vendo que sua amiga mais íntima estava se enfraquecendo, o rei Purañjana e seus amigos e cidadãos que viviam na cidade ficaram todos muito ansiosos.

VERSO 18: O rei Purañjana arrecadava impostos na cidade conhecida como Pañcāla, de modo que tinha oportunidades de desfrutar de vida sexual. Estando inteiramente sob o controle de mulheres, ele não podia entender que sua vida estava se acabando e que ele estava à beira da morte.

VERSO 19: Meu querido rei Prācīnabarhiṣat, nessa ocasião, a filha do formi­dável Tempo andava à procura de um esposo pelos três mundos. Apesar de ninguém ter concordado em aceitá-la, ela veio.

VERSO 20: A filha do Tempo [Jarā] era muito infeliz. Em consequência disso, era conhecida como Durbhagā, “desafortunada”. Contudo, certa vez ela ficou satisfeita com um grande rei, e, como o rei a aceitou, ela lhe concedeu uma grande bênção.

VERSO 21: Certa vez, quando eu vinha de Brahmaloka, o sistema planetário mais elevado, a esta Terra, a filha do Tempo, vagando pelo universo, encontrou-se comigo. Sabendo que eu era um brahmacārī declarado, ela ficou luxuriosa e propôs que eu a aceitasse.

VERSO 22: O grande sábio Nārada continuou: Quando me recusei a aceitar seu pedido, ela ficou muito irada comigo e amaldiçoou-me severamente. Por eu ter-me negado a atender sua solicitação, ela disse que eu não seria capaz de permanecer em um lugar por muito tempo.

VERSO 23: Depois de ter ficado desapontada comigo, com minha permissão, ela se aproximou do rei dos Yavanas, cujo nome era Bhaya, ou Medo, e o aceitou como seu esposo.

VERSO 24: Aproximando-se do rei dos Yavanas, Kālakanyā dirigiu-se a ele com um grande herói, dizendo: Respeitável monarca, és o melhor dos intocáveis. Estou apaixonada por ti e desejo-te como meu esposo. Sei que ninguém se frustra ao fazer amizade contigo.

VERSO 25: Aquele que não faz caridade de acordo com os costumes ou preceitos das escrituras e aquele que não aceita caridade dessa maneira são considerados como estando no modo da ignorância. Pessoas assim trilham o caminho dos tolos. Não há dúvidas de que se lamentarão ao final.

VERSO 26: Kālakanyā continuou: Ó cavalheiro, agora estou presente diante de ti – com o intuito de servir-te. Por favor, aceita-me e, dessa maneira, mostra-me tua miseri­córdia. O principal dever de um cavalheiro é ser compassivo com uma pessoa que está aflita.

VERSO 27: Após ouvir a afirmação de Kālakanyā, a filha do Tempo, o rei dos Yavanas colocou-se a sorrir e a procurar um meio de executar seu dever confidencial em nome da providência. Então, dirigiu-se a Kālakanyā da seguinte maneira.

VERSO 28: O rei dos Yavanas respondeu: Depois de muita consideração, encontrei um esposo para ti. Na verdade, na opinião de todas as pessoas, és inauspiciosa e maligna. Uma vez que ninguém gosta de ti, como alguém poderá aceitar-te como sua esposa?

VERSO 29: Este mundo é produto de atividades fruitivas. Portanto, tu pode­rás imperceptivelmente atacar a todos em geral. Auxiliada por meus soldados, poderás matá-los sem oposição.

VERSO 30: O rei dos Yavanas prosseguiu: Aqui está meu irmão Prajvāra. Aceito-te, agora, como minha irmã. Eu vos empregarei, bem como meus perigosos soldados, para agirdes imperceptivelmente den­tro deste mundo.

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