VERSO 14
gandharvyas tādṛśīr asya
maithunyaś ca sitāsitāḥ
parivṛttyā vilumpanti
sarva-kāma-vinirmitām
gandharvyaḥ — Gandharvīs; tādṛśīḥ — de forma semelhante; asya — de Caṇḍavega; maithunyaḥ — companheiras para o intercurso sexual; ca — também; sita — brancos; asitāḥ — negras; parivṛttyā — rodeando; vilumpanti — saqueavam; sarva-kāma — toda a classe de objetos desejáveis; vinirmitām — inventados.
Juntamente com Caṇḍavega, havia tantas Gandharvīs quanto havia soldados, e todos eles repetidamente saqueavam toda a parafernália destinada ao gozo dos sentidos.
SIGNIFICADO—Os dias são comparados aos soldados de Caṇḍavega. A noite, geralmente, é o momento reservado ao gozo sexual. Os dias são considerados brancos, e as noites, negras, ou, sob outro ponto de vista, existem duas classes de noites: noites negras e noites brancas. Todos esses dias e noites se combinam para acabar com a duração de nossa vida e com tudo que inventamos para satisfazer os sentidos. Atividades materiais significam inventar coisas destinadas ao gozo dos sentidos. Os cientistas fazem pesquisas para descobrir como podemos satisfazer nossos sentidos de modo cada vez mais elaborado. Nesta Kali-yuga, emprega-se a mentalidade demoníaca para inventar várias máquinas a fim de facilitar o processo de gozo dos sentidos. Tantas são as máquinas usadas em atividades domésticas comuns. Há máquinas para lavar pratos, limpar o chão, barbear-se, cortar o cabelo – hoje em dia, tudo é feito por máquinas. Descrevem-se todos esses recursos para o gozo dos sentidos neste verso como sarva-kāma-vinirmitām. O fator tempo, contudo, é tão forte que não faz apenas a duração de nossa vida esvanecer-se, senão que todas as máquinas e recursos para o gozo dos sentidos se deteriorarem. Portanto, neste verso, usa-se a palavra vilumpanti, “saqueando”. Tudo vem sendo saqueado desde o início de nossa vida.
Este assalto às nossas posses e à duração de nossa vida começa no dia de nosso nascimento. Chegará enfim o dia em que a morte acabará com tudo, e a entidade viva será obrigada a entrar em outro corpo de modo a começar outro capítulo da vida e outra vez iniciar o ciclo de gozo material dos sentidos. Prahlāda Mahārāja descreve esse processo como punaḥ punaś carvita-carvaṇānām (Śrīmad-Bhāgavatam 7.5.30): vida materialista significa mastigar o mastigado repetidamente. O ponto central da vida material é o gozo dos sentidos. Em diferentes espécies de corpos, a entidade viva desfruta de vários sentidos e, criando diversas classes de recursos, ela mastiga o mastigado. Se extrairmos o açúcar da cana-de-açúcar com nossos dentes ou com uma máquina, o resultado será o mesmo – caldo de cana. Pode ser que descubramos muitos processos para se extrair o caldo da cana, mas o resultado será o mesmo.