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VERSOS 18-20

deho rathas tv indriyāśvaḥ
saṁvatsara-rayo ’gatiḥ
dvi-karma-cakras tri-guṇa-
dhvajaḥ pañcāsu-bandhuraḥ

mano-raśmir buddhi-sūto
hṛn-nīḍo dvandva-kūbaraḥ
pañcendriyārtha-prakṣepaḥ
sapta-dhātu-varūthakaḥ

ākūtir vikramo bāhyo
mṛga-tṛṣṇāṁ pradhāvati
ekādaśendriya-camūḥ
pañca-sūnā-vinoda-kṛt

dehaḥ — corpo; rathaḥ — quadriga; tu — mas; indriya — os sentidos que adquirem conhecimento; aśvaḥ — os cavalos; saṁvatsara — totalidade de anos; rayaḥ — duração de vida; agatiḥ — sem avançar; dvi­ — duas; karma — atividades; cakraḥ — rodas; tri — três; guṇa — modos da natureza; dhvajaḥ — bandeiras; pañca — cinco; asu — ares vitais; bandhuraḥ — cativeiro; manaḥ — a mente; raśmiḥ — rédea; buddhi — inteligência; sūtaḥ — quadrigário; hṛt — coração; nīḍaḥ — local de assento do cocheiro; dvandva — dualidade; kūbaraḥ — as extremidades onde se amarram os tirantes; pañca — cinco; indriya-artha — objetos dos sentidos; prakṣe­paḥ — armas; sapta — sete; dhātu — elementos; varūthakaḥ — cober­turas; ākūtiḥ — tentativas dos cinco sentidos funcionais; vikramaḥ­ — poderes ou processos; bāhyaḥ — externos; mṛga-tṛṣṇām — falsa aspi­ração; pradhāvati — corre em busca de; ekādaśa — onze; indriya­ — sentidos; camūḥ — soldados; pañca — cinco; sūnā — inveja; vinoda­ — prazer; kṛt — fazendo.

Nārada Muni continuou: Aquilo que mencionei como a quadriga era, na realidade, o corpo. Os sentidos são os cavalos que puxam essa quadriga. À medida que o tempo passa, ano após ano, esses cavalos correm sem obstáculos, mas, na verdade, eles não fazem pro­gresso algum. As atividades piedosas e ímpias são as duas rodas da quadriga. Os três modos da natureza material são as bandeiras da quadriga. As cinco classes de ar vital constituem o cativeiro da entidade viva, e a mente é considerada a rédea. A inteligência é o quadrigário. O coração é a boleia da quadriga, e as dualidades da vida, tais como prazer e dor, são as extremidades onde se amarram os tirantes. Os sete elementos são as coberturas da quadriga, e os sentidos funcionais são os cinco processos externos. Os onze sentidos são os soldados. Estando absorta em gozo dos sentidos, a enti­dade viva, sentada na quadriga, anseia pela satisfação de seus falsos desejos e corre em busca de gozo dos sentidos, vida após vida.

SIGNIFICADO—O enredamento da entidade viva no gozo dos sentidos é muito bem explicado nestes versos. A palavra saṁvatsara, significando “o progresso do tempo”, é significativa. Dia após dia, semana após semana, quinzena após quinzena, mês após mês, ano após ano, a entidade viva se enreda no progresso da quadriga. A quadriga se apoia sobre duas rodas, que são as atividades piedosas e ímpias. A entidade viva alcança determinada posição na vida, em uma espé­cie de corpo em particular, de acordo com suas atividades piedosas e ímpias. Porém, sua transmigração para diferentes corpos não deve ser aceita como progresso. A Bhagavad-gītā (4.9) explica o que é progresso verdadeiro. Tyaktvā dehaṁ punar janma naiti: faz pro­gresso verdadeiro quem não precisa aceitar outro corpo material. Como se afirma no Caitanya-caritāmṛta (Madhya 19.138):

eita brahmāṇḍa bhari’ ananta jīva-gaṇa
caurāśī-lakṣa yonite karaye bhramaṇa

A entidade viva vagueia por todo o universo e nasce em diferentes espécies de vida em diferentes planetas. Assim, ela sobe e desce, mas isso não é progresso verdadeiro. Progresso verdadeiro é escapar de uma vez por todas desse mundo material. Como se afirma na Bhagavad-gītā (8.16):

ābrahma-bhuvanāl lokāḥ
punar āvartino ’rjuna
mām upetya tu kaunteya
punar janma na vidyate

“Partindo do planeta mais elevado no mundo material e descendo ao mais baixo, todos são lugares de sofrimento, onde ocorrem repetidos nascimentos e mortes. Mas quem alcança a Minha morada, ó filho de Kuntī, jamais volta a nascer.” Mesmo que alguém seja promovido a Brahmaloka, o planeta mais elevado do universo, será obrigado a descer mais uma vez aos sistemas planetários inferiores. Assim, ele continuará vagando para cima e para baixo perpetuamente, sob a influência dos três modos da natureza material. Iludido, pensará que está progredindo. Uma pessoa assim é como um avião que circunda a Terra dia e noite, incapaz de deixar o campo de gravidade da Terra. Não há progresso de fato porque o avião está condicionado pela gravidade da Terra.

Assim como o rei se encontra sentado em uma quadriga, a entidade viva se encontra sentada no corpo. O assento é o coração, e ali fica a entidade viva, ocupada na luta pela vida, que continua sem sinal de progresso perpetuamente. Nas palavras de Narottama Dāsa Ṭhākura:

karma-kāṇḍa, jñāna-kāṇḍa, kevala viṣera bhāṇḍa,
amṛta baliyā yebā khāya
nānā yoni sadā phire, kadarya bhakṣaṇa kare,
tāra janma adhaḥ-pāte yāya

A entidade viva luta muito arduamente devido à influência da ativi­dade fruitiva e da especulação mental e simplesmente obtém uma espécie diferente de corpo, vida após vida. Ela come toda classe de besteiras e é condenada por suas atividades de gozo dos sentidos. Se alguém realmente quer progredir na vida, deve abandonar os processos de karma-kāṇḍa e jñāna-kāṇḍa, atividades fruitivas e especulação mental. Quem se fixa em consciência de Kṛṣṇa pode livrar-se do enredamento de nascimentos e mortes e da inútil batalha pela vida. Nestes versos, as palavras mṛga-tṛṣṇāṁ pradhāvati são muito significativas porque a entidade viva está influenciada pela sede de gozo dos sentidos. Ela é como um veado que vai ao deserto buscar água. No deserto, um animal busca por água inutilmente. É evidente que não existe água no deserto, e o animal simplesmente sacrifica sua vida na tentativa de encontrá-la. Todos planejam a felicidade futura pensando que, de algum modo, se puderem chegar a certo ponto, serão felizes. Na realidade, contudo, chegando a esse ponto, descobrem que não há felicidade alguma. Então, planejam ir cada vez mais adiante até chegar a outro ponto. Isso se chama mṛga-­tṛṣṇā, e sua base é o gozo dos sentidos neste mundo material.

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