VERSO 1b
bhaktiḥ kṛṣṇe dayā jīveṣv
akuṇṭha-jñānam ātmani
yadi syād ātmano bhūyād
apavargas tu saṁsṛteḥ
bhaktiḥ — serviço devocional; kṛṣṇe — a Kṛṣṇa; dayā — misericórdia; jīveṣu — para com outras entidades vivas; akuṇṭha-jñānam — conhecimento perfeito; ātmani — do eu; yadi — se; syāt — torna-se; ātmanaḥ — do próprio eu; bhūyāt — decerto haverá; apavargaḥ — liberação; tu — então; saṁsṛteḥ — do cativeiro da vida material.
Se uma entidade viva tiver consciência de Kṛṣṇa desenvolvida e for misericordiosa para com os outros, e se o seu conhecimento espiritual de autorrealização for perfeito, ela se libertará imediatamente do cativeiro da existência material.
SIGNIFICADO—Neste verso, as palavras dayā jīveṣu, significando “misericórdia para com outras entidades vivas”, indicam que a entidade viva deve ter misericórdia de outras entidades vivas caso deseje progredir em autorrealização. Isso quer dizer que ela deve pregar este conhecimento após aperfeiçoar-se e compreender sua própria posição como serva eterna de Kṛṣṇa. Pregar isso é mostrar verdadeira misericórdia para com as entidades vivas. Outras espécies de trabalho humanitário podem ser temporariamente benéficas ao corpo, mas, como a entidade viva é uma alma espiritual, em última análise, só é possível mostrar-lhe verdadeira misericórdia revelando-lhe o conhecimento de sua existência espiritual. Como Caitanya Mahāprabhu diz, jīvera ‘svarūpa’ haya — kṛṣṇera ‘nitya-dāsa’: “Toda entidade viva é constitucionalmente serva de Kṛṣṇa.” Todos devem conhecer este fato perfeitamente e pregá-lo às pessoas em geral. Se alguém compreende que é um servo eterno de Kṛṣṇa, mas não o prega, sua compreensão é imperfeita. Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura canta, portanto, duṣṭa mana, tumi kisera vaiṣṇava? pratiṣṭhāra tare, nirjanera ghare, tava hari-nāma kevala kaitava: “Minha querida mente, que espécie de vaiṣṇava tu és? Simplesmente em troca de falso prestígio e de reputação material, estás cantando o mantra Hare Kṛṣṇa em um lugar solitário.” Assim são criticadas as pessoas que não pregam. Há muitos vaiṣṇavas em Vṛndāvana que não gostam de pregar; eles tentam principalmente imitar Haridāsa Ṭhākura. O verdadeiro resultado de seu suposto canto em um lugar solitário, contudo, é que eles dormem e pensam em mulheres e dinheiro. De forma semelhante, quem se dedica apenas à adoração no templo, mas não cuida dos interesses das pessoas em geral ou não pode reconhecer os devotos chama-se kaniṣṭha-adhikārī:
arcāyām eva haraye
pūjāṁ yaḥ śraddhayehate
na tad-bhakteṣu cānyeṣu
sa bhaktaḥ prākṛtaḥ smṛtaḥ
(Bhāg. 11.2.47)