VERSO 66
mana eva manuṣyasya
pūrva-rūpāṇi śaṁsati
bhaviṣyataś ca bhadraṁ te
tathaiva na bhaviṣyataḥ
manaḥ — a mente; eva — decerto; manuṣyasya — de um homem; pūrva — passadas; rūpāṇi — formas; śaṁsati — indica; bhaviṣyataḥ — de quem nascerá; ca — também; bhadram — boa fortuna; te — para ti; tathā — assim; eva — decerto; na — não; bhaviṣyataḥ — de quem nascerá.
Ó rei, toda boa fortuna a ti! É a mente que faz a entidade viva obter determinada espécie de corpo, segundo o contato dela com a natureza material. Segundo a composição mental de cada entidade viva, podemos saber o que ela foi em sua vida passada, bem como que espécie de corpo terá no futuro. Logo, é a mente quem indica os corpos passados e futuros.
SIGNIFICADO—A mente é o catálogo de informações sobre as vidas passadas e futuras de cada um. Se um homem é devoto do Senhor, ele cultivou o serviço devocional em sua vida anterior. Do mesmo modo, se a mente de alguém é criminosa, ele foi um criminoso em sua vida passada. Da mesma maneira, de acordo com a mente de alguém, podemos saber o que lhe acontecerá em sua vida futura. A Bhagavad-gītā (14.18) diz:
ūrdhvaṁ gacchanti sattva-sthā
madhye tiṣṭhanti rājasāḥ
jaghanya-guṇa-vṛtti-sthā
adho gacchanti tāmasāḥ
“Aqueles situados no modo da bondade gradualmente elevam-se aos planetas superiores; aqueles no modo da paixão vivem nos planetas terrestres; e aqueles no modo da ignorância descem para os mundos infernais.”
Se alguém estiver no modo da bondade, suas atividades mentais o promoverão a um sistema planetário superior. Da mesma forma, se ele tiver uma mentalidade inferior, sua vida futura será muito abominável. As vidas da entidade viva, tanto no passado quanto no futuro, são determinadas pela condição mental. Nesta passagem, Nārada Muni abençoa o rei com toda a boa fortuna para que o rei não deseje nada nem faça planos de gozo dos sentidos. O rei ocupava-se em cerimônias ritualísticas fruitivas porque esperava obter uma vida melhor no futuro. Nārada Muni desejava que ele abandonasse todas essas invenções mentais. Como se explicou antes, todos os corpos existentes em planetas celestiais e em planetas infernais surgem de invenções mentais, sendo que os sofrimentos e os prazeres da vida material estão simplesmente na plataforma mental. Eles ocorrem na quadriga da mente (mano-ratha). Portanto, afirma-se:
yasyāsti bhaktir bhagavaty akiñcanā
sarvair guṇais tatra samāsate surāḥ
harāv abhaktasya kuto mahad-guṇā
mano-rathenāsati dhāvato bahiḥ
“Alguém que tenha devoção inquebrantável pela Personalidade de Deus possui todas as boas qualidades dos semideuses. Contudo, alguém que não é devoto do Senhor tem apenas qualificações materiais, que são de pouca valia. Isso porque ele está pairando no plano mental e certamente se atrairá pela deslumbrante energia material.” (Śrīmad-Bhāgavatam 5.18.12)
Quem não se tornar devoto do Senhor, ou plenamente consciente de Kṛṣṇa, certamente permanecerá na plataforma mental e será promovido ou degradado a diferentes classes de corpos. Todas as qualidades consideradas boas, de acordo com os cálculos materiais, não têm valor algum, na realidade, pois essas supostas boas qualidades não salvarão ninguém do ciclo de nascimentos e mortes. Em conclusão, devemos ser isentos de desejos materiais. Anyābhilāṣitā-śūnyaṁ jñāna-karmādy-anāvṛtam: deve-se estar inteiramente livre de desejos materiais, de especulação filosófica e de atividades fruitivas. O melhor procedimento para o ser humano é aceitar favoravelmente o transcendental serviço devocional ao Senhor. Essa é a perfeição máxima da vida humana.