VERSO 75
anena puruṣo dehān
upādatte vimuñcati
harṣaṁ śokaṁ bhayaṁ duḥkhaṁ
sukhaṁ cānena vindati
anena — por este processo; puruṣaḥ — a entidade viva; dehān — corpos grosseiros; upādatte — obtém; vimuñcati — abandona; harṣam — gozo; śokam — lamentação; bhayam — temor; duḥkham — infelicidade; sukham — felicidade; ca — também; anena — pelo corpo grosseiro; vindati — desfruta.
Em virtude dos processos do corpo sutil, a entidade viva desenvolve e abandona corpos grosseiros. Isso é conhecido como a transmigração da alma. Assim, a alma se sujeita a diferentes classes de ditos gozo, lamentação, temor, felicidade e tristeza.
SIGNIFICADO—De acordo com esta explicação, podemos entender com clareza que, originalmente, a entidade viva era tão boa como a Suprema Personalidade de Deus em sua existência espiritual pura. Contudo, quando a mente se polui por desejos de gozo dos sentidos, no mundo material, a entidade viva cai nas condições materiais, como se explica neste verso. Assim, ela começa sua existência material, o que significa que ela transmigra de um corpo a outro, enredando-se cada vez mais na existência material. O processo de consciência de Kṛṣṇa, mediante o qual sempre pensamos em Kṛṣṇa, é o processo transcendental pelo qual podemos voltar à nossa existência espiritual original. Serviço devocional significa pensar sempre em Kṛṣṇa.
man-manā bhava mad-bhakto
mad-yājī māṁ namaskuru
mām evaiṣyasi satyaṁ te
pratijāne priyo ’si me
“Pensa sempre em Mim e torna-te Meu devoto. Adora-Me e oferece-Me homenagens. Agindo assim, virás a Mim impreterivelmente. Eu te prometo isso porque és Meu amigo muito querido.” (Bhagavad-gītā 18.65)
Todos devem sempre ocupar-se em serviço devocional ao Senhor. Como se recomenda no arcana-mārga, deve-se adorar a Deidade no templo e constantemente prestar reverências ao mestre espiritual e à Deidade. Esses processos são recomendados para quem realmente quer livrar-se do enredamento material. Os psicólogos modernos podem estudar as atividades da mente – pensar, sentir e desejar –, mas são incapazes de se aprofundar no assunto. Isso porque eles carecem de conhecimento e não se associam com um ācārya liberado.
Como afirma a Bhagavad-gītā (4.2):
evaṁ paramparā-prāptam
imaṁ rājarṣayo viduḥ
sa kāleneha mahatā
yogo naṣṭaḥ parantapa
“Esta ciência suprema foi assim recebida através da corrente de sucessão discipular, e os reis santos compreenderam-na desta maneira. Porém, com o passar do tempo, a sucessão foi interrompida, e, portanto, a ciência como ela é parece ter-se perdido.” Orientadas por pretensos psicólogos e filósofos, as pessoas, na era moderna, não conhecem as atividades do corpo sutil e, assim, não podem entender o que significa a transmigração da alma. Sobre esses assuntos, devemos aceitar as afirmações autorizadas da Bhagavad-gītā (2.13):
dehino ’smin yathā dehe
kaumāraṁ yauvanaṁ jarā
tathā dehāntara-prāptir
dhīras tatra na muhyati
“Assim como a alma encarnada passa seguidamente, neste corpo, da infância à juventude e à velhice, da mesma maneira, a alma passa para um outro corpo após a morte. A alma autorrealizada não se confunde com tal mudança.” A menos que toda a sociedade humana compreenda este importante verso da Bhagavad-gītā, a civilização avançará em ignorância, e não em conhecimento.