VERSO 7
ekas tvam eva bhagavann idam ātma-śaktyā
māyākhyayoru-guṇayā mahad-ādy-aśeṣam
sṛṣṭvānuviśya puruṣas tad-asad-guṇeṣu
nāneva dāruṣu vibhāvasuvad vibhāsi
ekaḥ — um; tvam — Vós; eva — certamente; bhagavan — ó meu Senhor; idam — este mundo material; ātma-śaktyā — por Vossa própria potência; māyā-ākhyayā — chamada māyā; uru — poderosíssima; guṇayā — consistindo nos modos da natureza; mahat-ādi — o mahat-tattva etc.; aśeṣam — ilimitado; sṛṣṭvā — após criar; anuviśya — então, após entrar; puruṣaḥ — a Superalma; tat — de māyā; asat-guṇeṣu — nas qualidades manifestas temporariamente; nānā — variadamente; iva — como se; dāruṣu — em pedaços de madeira; vibhāvasu-vat — assim como o fogo; vibhāsi — Vós apareceis.
Meu Senhor, sois o Supremo Único, mas, através de Vossas diferentes energias, apareceis de modo diverso nos mundos material e espiritual. Vós criais a energia total do mundo material mediante Vossa potência externa e, após a criação, entrais no mundo material como a Superalma. Sois a Pessoa Suprema e, através dos modos temporários da natureza material, criais variedades de manifestações, assim como o fogo, entrando em madeiras de diferentes qualidades, arde com brilhos variados.
SIGNIFICADO—Dhruva Mahārāja compreendeu que a Suprema Verdade Absoluta, a Personalidade de Deus, atua através de Suas diferentes energias, e não que Ele Se torna vazio ou impessoal e, deste modo, torna-Se onipenetrante. O filósofo māyāvādī pensa que a Verdade Absoluta, estando difusa por toda a manifestação cósmica, não tem forma pessoal. Mas Dhruva Mahārāja, compreendendo a conclusão védica, diz aqui: “Vós estais espalhado por toda a manifestação cósmica através de Vossa energia.” Essa energia é basicamente espiritual, mas, como atua temporariamente no mundo material, chama-se māyā, ou energia ilusória: Em outras palavras, para todas as pessoas, com exceção dos devotos, a energia do Senhor atua como a energia externa. Dhruva Mahārāja pôde compreender muito bem este fato e pôde entender também que a energia e o energético são a mesma coisa. A energia não pode ser separada do energético.
Admite-se nesta passagem a identidade da Suprema Personalidade de Deus sob o aspecto de Paramātmā, ou Superalma. Sua energia espiritual original vivifica a energia material, daí o corpo, que na verdade é morto, parecer ter força vital. Os filósofos niilistas pensam que, sob determinadas condições materiais, os sintomas vitais ocorrem no corpo material, mas o fato é que o corpo material não pode agir por conta própria. Mesmo uma máquina precisa de energia separada (eletricidade, vapor etc.). Neste verso, afirma-se que a energia material age em variedades de corpos materiais, assim como o fogo arde de modo diverso em diferentes madeiras, de acordo com o tamanho e a qualidade da madeira. No caso dos devotos, a mesma energia transforma-se em energia espiritual; isso é possível porque a energia é originalmente espiritual, e não material. Como se diz, viṣṇu-śaktiḥ parā proktā. A energia original inspira o devoto, e assim ele ocupa todos os membros de seu corpo no serviço ao Senhor. A mesma energia, como potência externa, ocupa os não devotos comuns em atividades materiais para o gozo dos sentidos. Devemos apontar a diferença entre māyā e sva-dhāma – para os devotos, atua sva-dhāma, ao passo que, no caso dos não-devotos, atua a energia māyā.