VERSO 41
karma-vallīm avalambya tata āpadaḥ kathañcin narakād vimuktaḥ punar apy evaṁ saṁsārādhvani vartamāno nara-loka-sārtham upayāti evam upari gato ’pi.
karma-vallīm — a trepadeira de atividades fruitivas; avalambya — abrigando-se em; tataḥ — desta; āpadaḥ — condição perigosa ou de sofrimento; kathañcit — de alguma forma; narakāt — da condição de vida infernal; vimuktaḥ — estando livre; punaḥ api — novamente; evam — dessa maneira; saṁsāra-adhvani — no caminho da existência material; vartamānaḥ — existindo; nara-loka-sa-artham — no campo de atividades materiais egoístas; upayāti — ela entra; evam — assim; upari — para cima (aos sistemas planetários superiores); gataḥ api — embora promovida.
Ao se refugiar na trepadeira de atividades fruitivas, a alma condicionada pode, mediante suas atividades piedosas, alcançar os sistemas planetários superiores e, dessa maneira, libertar-se das condições infernais, mas, infelizmente, essa situação não será permanente. Após se esgotarem os resultados de suas atividades piedosas, ela terá de retornar aos sistemas planetários inferiores. Dessa maneira, ela perpetuamente se eleva e se rebaixa.
SIGNIFICADO—Com relação a isso, Śrī Caitanya Mahāprabhu diz:
brahmāṇḍa bhramite kona bhāgyavān jīva
guru-kṛṣṇa-prasāde pāya bhakti-latā-bīja
(Cc. Madhya 19.151)
Mesmo que alguém fique vagando por muitos milhares de anos, desde o momento da criação até o momento da aniquilação, não poderá livrar-se do caminho da existência material enquanto não receber o refúgio dos pés de lótus de um devoto puro. Assim como um macaco se refugia no galho de uma figueira-de-bengala e pensa que está desfrutando, a alma condicionada, desconhecendo o verdadeiro interesse de sua vida, refugia-se no caminho karma-kāṇḍa, as atividades fruitivas. Às vezes, mediante essas atividades, ela se eleva aos planetas celestiais e, outras vezes, recai na Terra. Śrī Caitanya Mahāprabhu descreve isso como brahmāṇḍa bhramite. Contudo, se, pela graça de Kṛṣṇa, alguém é bastante afortunado para obter o refúgio do guru, pela misericórdia de Kṛṣṇa, recebe lições de como prestar serviço devocional ao Senhor Supremo. Dessa maneira, recebe a chave para solucionar o enigma de como sair desta luta contínua, de altos e baixos, dentro do mundo material. Portanto, de acordo com o preceito védico, devemos aproximar-nos do mestre espiritual. Os Vedas declaram: tad-vijñānārthaṁ sa gurum evābhigacchet. (Muṇḍaka Upaniṣad 1.2.12) Igualmente, a Suprema Personalidade de Deus aconselha na Bhagavad-gītā (4.34):
tad viddhi praṇipātena
paripraśnena sevayā
upadekṣyanti te jñānaṁ
jñāninas tattva-darśinaḥ
“Tenta aprender a verdade aproximando-te de um mestre espiritual. Faze-lhe perguntas com submissão e presta-lhe serviço. As almas autorrealizadas podem te transmitir conhecimento porque elas são videntes da verdade.” O Śrīmad-Bhāgavatam (11.3.21) apresenta um conselho semelhante:
tasmād guruṁ prapadyeta
jijñāsuḥ śreya uttamam
śābde pare ca niṣṇātaṁ
brahmaṇy upaśamāśrayam
“Todo aquele que deseja seriamente alcançar a verdadeira felicidade deve procurar um mestre espiritual fidedigno e refugiar-se nele através da iniciação. A qualificação do mestre espiritual é que ele deve ter compreendido a conclusão das escrituras através do estudo criterioso e está capacitado para convencer os outros quanto a essas conclusões. Essas grandes personalidades que, deixando de lado todas as ponderações materiais, refugiaram-se na Verdade Suprema, devem, portanto, ser consideradas mestres espirituais autênticos.” Do mesmo modo, Viśvanātha Cakravartī, um grande vaiṣṇava, também adverte que yasya prasādād bhagavat-prasādaḥ: “Pela misericórdia do mestre espiritual, recebe-se a misericórdia de Kṛṣṇa.” Esse é o mesmo conselho dado por Śrī Caitanya Mahāprabhu (guru-kṛṣṇa-prasāde pāya bhakti-latā-bīja). Isso é essencial. Devemos adotar a consciência de Kṛṣṇa e, portanto, devemos refugiar-nos em um devoto puro. Assim, nós nos livraremos das garras da matéria.