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CAPÍTULO DEZOITO

Os Habitantes de Jambūdvīpa Oferecem Orações ao Senhor

Neste capítulo, Śukadeva Gosvāmī descreve os diferentes varṣas de Jambūdvīpa e as respectivas encarnações do Senhor Supremo adoradas em cada varṣa. O regente predominante em Bhadrāśva-varṣa é Bhadraśravā. Ele e seus vários servos sempre adoram a encarnação conhecida como Senhor Hayagrīva. No final de cada kalpa, quando o demônio Ajñāna rouba o conhecimento védico, o Senhor Hayagrīva aparece e o recupera. Então, Ele o transmite ao senhor Brahmā. Na terra conhecida como Hari-varṣa, o grandioso devoto Prahlāda Mahārāja adora o Senhor Nṛsiṁhadeva. (O advento do Senhor Nṛsiṁhadeva é descrito no sétimo canto do Śrīmad-Bhāgavatam). Seguindo os passos de Prahlāda Mahārāja, os habitantes de Hari-varṣa sempre adoram o Senhor Nṛsiṁhadeva para que, recebendo Suas bênçãos, ocupem-se em prestar-Lhe serviço amoroso. Na extensão territorial conhecida como Ketumāla-varṣa, a Suprema Personalidade de Deus (o Senhor Hṛṣīkeśa) aparece na forma do Cupido. A deusa da fortuna e os semideuses desse local se ocupam em servi-lO dia e noite. Manifestando-Se em dezesseis partes, o Senhor Hṛṣīkeśa é a fonte de todo estímulo, força e influência. A entidade viva condicionada tem o defeito de sempre estar com medo, mas basta a misericórdia da Suprema Personalidade de Deus para que ela se livre desse defeito presente na vida material. Portanto, é apenas o Senhor quem pode ser chamado de mestre. No trecho de terra conhecido como Ramyaka-varṣa, Manu e todos os habitantes continuam a adorar Matsyadeva. Matsyadeva, que tem a forma da bondade pura, é o governante e mantenedor de todo o universo, e, como tal, Ele é o diretor de todos os semideuses, encabeçados pelo rei Indra. Em Hiraṇmaya-varṣa, o Senhor Viṣṇu assumiu a forma de tartaruga (kūrma-mūrti) e ali é adorado por Aryamā e por todos os outros habitantes. Do mesmo modo, na porção de terra conhecida como Uttarakuru-varṣa, o Senhor Śrī Hari assumiu a forma de javali e, nessa forma, Ele aceita o serviço de todos os habitantes que vivem lá.

Toda a informação contida neste capítulo pode ser plenamente compreendida por todo aquele que se associa com os devotos do Senhor. Portanto, os śāstras recomendam que nos associemos com os devotos. Isso é melhor do que residir nas margens do Ganges. Os corações dos devotos puros abrigam todos os bons sentimentos bem como todas as qualidades superiores dos semideuses. Todavia, nos corações dos não-devotos não se encontram boas qualidades, pois eles estão simplesmente encantados pela energia externa e ilusória do Senhor. Seguindo os passos dos devotos, devemos tomar conhecimento de que a Suprema Personalidade de Deus é a única Deidade adorável. Todos devem aceitar essa proposta e adorar o Senhor. A esse respeito, a Bhagavad-gītā (15.15) afirma que vedaiś ca sarvair aham eva vedyaḥ: ao estudar a literatura védica em sua inteireza, a pessoa deve ter em mente adorar Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus. Se, tendo estudado toda a literatura védica, ela não desperta seu ainda adormecido amor pelo Senhor Supremo, deve-se compreender que trabalhou em vão. Simplesmente desperdiçou seu tempo. Não tendo desenvolvido nenhum apego à Suprema Personalidade de Deus, ela, neste mundo material, permanece apegada à vida familiar. Assim, a lição deste capítulo é que as pessoas devem retirar-se da vida familiar e refugiarem-se por completo aos pés de lótus do Senhor.

VERSO 1: Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Bhadraśravā, o filho de Dharmarāja, governa o trecho de terra conhecido como Bhadrāśva-varṣa. Assim como em Ilāvṛta-varṣa o senhor Śiva adora Saṅkarṣaṇa, Bhadraśravā, acompanhado de seus servos íntimos e de todos os habitantes de Bhadraśravā-varṣa, adora a expansão plenária de Vāsudeva conhecida como Hayaśīrṣa. O Senhor Hayaśīrṣa é muito querido aos devotos, e Ele é o mentor de todos os princípios religiosos. Fixos no transe mais elevado, Bhadraśravā e seus associados oferecem suas respeitosas reverências ao Senhor e cantam as seguintes orações, pronunciando-as com muito cuidado.

VERSO 2: O governante Bhadraśravā e seus associados íntimos proferem a seguinte oração: Oferecemos nossas respeitosas reverências à Suprema Personalidade de Deus, o reservatório de todos os princípios religiosos, que neste mundo material torna limpo o coração da alma condicionada. Repetidas vezes, oferecemos-Lhe nossas respeitosas reverências.

VERSO 3: Oh! Quão espantoso é o fato de que o materialista tolo não dá atenção ao grande perigo da morte iminente! Embora saiba que a morte fatalmente virá, mantém-se obstinado e negligente. Com a morte de seu pai, ele quer desfrutar da propriedade paterna, e, com a morte de seu filho, ele também quer desfrutar das posses deste. Em ambos os casos, tenta despreocupadamente desfrutar da felicidade material com o dinheiro adquirido.

VERSO 4: Ó não-nascido, os estudiosos dos Vedas, que são eruditos e avançados em conhecimento espiritual, bem como outros pensadores e filósofos, decerto sabem que este mundo material é perecível. Em transe, eles compreendem a verdadeira posição deste mundo e também pregam a verdade. Contudo, mesmo eles, às vezes, deixam-se confundir por Vossa energia ilusória. Esse é o Vosso maravilhoso passatempo. Portanto, posso compreender que Vossa energia ilusória é magnífica, e ofereço-Vos minhas respeitosas reverências.

VERSO 5: Ó Senhor, embora estejais inteiramente desapegado da criação, manutenção e aniquilação deste mundo material e, embora não sejais diretamente afetado por essas atividades, todas elas são atribuídas a Vós. Não nos espantamos com isso, pois Vossas energias inconcebíveis qualificam-Vos perfeitamente como a causa de todas as causas. Sois o princípio ativo em tudo, embora estejais à parte de tudo. Assim, podemos compreender que tudo ocorre devido à Vossa energia inconcebível.

VERSO 6: No final do milênio, a ignorância personificada assumiu a forma de um demônio, roubou todos os Vedas e, de posse deles, desceu ao planeta Rasātala. Contudo, o Senhor Supremo, sob Sua forma de Hayagrīva, recuperou os Vedas e os devolveu ao senhor Brahmā, a pedido deste. Ofereço minhas respeitosas reverências ao Senhor Supremo, cuja determinação sempre se cumpre.

VERSO 7: Śukadeva Gosvāmī continuou: Meu querido rei, o Senhor Nṛsiṁhadeva reside no trecho de terra conhecido como Hari-varṣa. No sétimo canto do Śrīmad-Bhāgavatam, descreverei a ti como foi que o Senhor assumiu a forma de Nṛsiṁhadeva graças a Prahlāda Mahārāja. Prahlāda Mahārāja, o devoto mais elevado do Senhor, é o reservatório de todas as boas qualidades encontradas em grandes personalidades. Seu caráter e atividades libertaram todos os seus parentes demoníacos. O Senhor Nṛsiṁhadeva é muito querido a essa personalidade insigne. Assim, Prahlāda Mahārāja, juntamente com seus servos e todos os cidadãos de Hari-varṣa, em adoração ao Senhor Nṛsiṁhadeva, canta o seguinte mantra.

VERSO 8: Ofereço minhas respeitosas reverências ao Senhor Nṛsiṁhadeva, a fonte de todo o poder. Ó meu Senhor, possuidor de garras e dentes que parecem raios, por favor, eliminai nossos desejos demoníacos que, neste mundo material, nos impelem às atividades fruitivas. Faze o obséquio de manifestar-Vos em nossos corações e dissipai nossa ignorância para que, por Vossa misericórdia, possamos tornar-nos destemidos na luta pela existência neste mundo material.

VERSO 9: Que haja boa fortuna em todo o universo, e que todas as pessoas invejosas possam apaziguar-se. Que todas as entidades vivas se tornem tranquilas praticando bhakti-yoga, pois, aceitando o serviço devocional, pensarão no bem-estar recíproco. Portanto, ocupemo-nos a serviço do Senhor Śrī Kṛṣṇa, a transcendência suprema, e permaneçamos sempre absortos em pensar nEle.

VERSO 10: Meu querido Senhor, rogamos que nunca nos deixes sentir atração pela prisão da vida familiar, que consiste no lar, na esposa, nos filhos, nos amigos, no saldo bancário, nos parentes e assim por diante. Se tivermos de desenvolver algum apego, então que nos apeguemos aos devotos, cujo único amigo querido é Kṛṣṇa. Alguém realmente autorrealizado e com a mente controlada fica perfeitamente satisfeito com as necessidades básicas da vida. Ele não tenta desfrutar dos sentidos. Semelhante pessoa empreende um rápido avanço em consciência de Kṛṣṇa, ao passo que os demais, muitíssimo apegados às coisas materiais, têm muita dificuldade em avançar.

VERSO 11: Quem se associa com pessoas para as quais Mukunda, a Suprema Personalidade de Deus, é tudo o que existe, pode ouvir sobre Suas poderosas atividades e logo virá a compreendê-las. As atividades de Mukunda são tão potentes que basta a alguém ouvir sobre elas para que, então, associe-se de imediato com o Senhor. Se alguém ouve constantemente e com grande avidez as narrações das atividades poderosas do Senhor, então a Verdade Absoluta, a Personalidade de Deus, sob a forma de vibrações sonoras, entra em seu coração e o limpa de toda a contaminação. Por outro lado, embora banhar-se no Ganges diminua as contaminações e infecções corpóreas, esse processo, bem como visitar lugares sagrados, podem limpar o coração apenas depois de transcorrido muito tempo. Portanto, que homem sóbrio não se associaria com os devotos para aperfeiçoar rapidamente sua vida?

VERSO 12: Todos os semideuses e suas qualidades exímias, tais como religião, conhecimento e renúncia, manifestam-se no corpo da pessoa que desenvolveu devoção imaculada a Vāsudeva, a Suprema Personalidade de Deus. Por outro lado, quem está desprovido de serviço devocional e se ocupa em atividades materiais não tem boas qualidades. Mesmo que ele adote a prática de yoga mística ou se esforce honestamente para manter sua família e parentes, tem que ser arrastado por suas próprias especulações mentais e é forçado a se ocupar a servir à energia externa do Senhor. Como pode haver alguma boa qualidade nesse tipo de homem?

VERSO 13: Assim como os seres aquáticos sempre desejam permanecer na vastidão da água, por natureza, todas as entidades vivas condicionadas desejam permanecer na vastidão da existência do Senhor Supremo. Portanto, se alguém, segundo os cálculos materiais, deixa de refugiar-se na Alma Suprema e prefere apegar-se à vida familiar material, sua importância equivale à de um jovem casal de classe baixa. Quem se apega em demasia à vida material perde todas as boas qualidades espirituais.

VERSO 14: Portanto, ó demônios, abandonai a aparente felicidade da vida familiar e simplesmente refugiai-vos aos pés de lótus do Senhor Nṛsiṁhadeva, que são o verdadeiro abrigo do destemor. O enredamento na vida familiar é a causa básica do apego material, dos desejos infatigáveis, da melancolia, da ira, do desespero, do medo e do desejo de falso prestígio, todos os quais acarretam repetidos nascimentos e mortes.

VERSO 15: Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Na extensão de terra chamada Ketumāla-varṣa, o Senhor Viṣṇu, apenas para satisfazer Seus devotos, vive ali na forma de Kāmadeva. Entre eles, encontra-se Lakṣmījī [a deusa da fortuna], o Prajāpati Saṁvatsara e todos os filhos e filhas de Saṁvatsara. As filhas do Prajāpati são consideradas as deidades controladoras das noites, e seus filhos são considerados os controladores dos dias. A progênie do Prajāpati perfaz 36.000, cada um deles correspondendo a um dia e uma noite do tempo de vida concedido a um ser humano. No fim de cada ano, as filhas do Prajāpati ficam muito agitadas ao verem o disco extremamente refulgente da Suprema Personalidade de Deus, e assim todas elas abortam.

VERSO 16: Em Ketumāla-varṣa, o Senhor Kāmadeva [Pradyumna] move-Se muito graciosamente. Seu sorriso meigo é muito belo, e quando Ele intensifica a beleza de Seu rosto, levantando um pouco Suas sobrancelhas e lançando olhares espirituosos, Ele satisfaz a deusa da fortuna. Assim, Ele desfruta com Seus sentidos transcendentais.

VERSO 17: Fazendo-se acompanhar durante o dia pelos filhos do Prajāpati [as deidades predominantes dos dias] e à noite pelas filhas deste [as deidades das noites], Lakṣmīdevī, durante o período conhecido como Saṁvatsara, adora o Senhor sob Sua misericordiosíssima forma de Kāmadeva. Plenamente absorta em serviço devocional, ela canta os seguintes mantras.

VERSO 18: Ofereço minhas respeitosas reverências ao Senhor Hṛṣīkeśa, a Suprema Personalidade de Deus, o controlador de todos os meus sentidos e a origem de tudo. Como mestre supremo de todas as atividades corpóreas, mentais e intelectuais, Ele é o único desfrutador dos resultados dessas atividades. Os cinco objetos dos sentidos e os onze sentidos, entre os quais se inclui a mente, são Suas manifestações parciais. Ele provê todas as necessidades da vida, que são uma energia Sua e, portanto, não são diferentes dEle, e Ele é a causa de todas as proezas mentais e corpóreas, que também não são diferentes dEle. Na verdade, Ele é o esposo e aquele que provê as necessidades de todas as entidades vivas. Todos os Vedas têm como finalidade fazer com que todos O adorem. Portanto, ofereçamos-Lhe nossas respeitosas reverências. Que Ele sempre nos favoreça nesta vida e na próxima.

VERSO 19: Meu querido Senhor, decerto sois o mestre plenamente independente sob cujo controle estão todos os sentidos. Portanto, todas as mulheres que, desejando obter um esposo para satisfazer seus sentidos, adoram-Vos observando votos estritos, na certa estão iludidas. Elas não sabem que esse esposo não pode realmente oferecer proteção nem a elas nem aos seus filhos. Tampouco ele pode proteger sua riqueza ou duração de vida, pois ele próprio está sujeito ao tempo, aos resultados fruitivos e aos modos da natureza, que estão todos subordinados a Vós.

VERSO 20: Apenas aquele que nunca sente medo, mas que, ao contrário, proporciona completo refúgio a todas as pessoas temerosas pode realmente tornar-se esposo e protetor. Portanto, meu Senhor, sois o único esposo, e nenhuma outra pessoa pode reivindicar essa posição. Se não fosses o único esposo, temeríeis os demais. Portanto, as pessoas versadas em toda a literatura védica aceitam unicamente Vossa Onipotência como o mestre de todos, e, na opinião deles, ninguém consegue ser melhor esposo ou protetor do que Vós o sois.

VERSO 21: Meu querido Senhor, Vós satisfazeis naturalmente todos os desejos da mulher que, com amor puro, adora Vossos pés de lótus. Contudo, se uma mulher adora Vossos pés de lótus com um propósito específico, também satisfazeis de pronto seus desejos, mas, no final, ela fica com o coração partido e se lamenta. Portanto, não é preciso adorar Vossos pés de lótus em troca de algum benefício material.

VERSO 22: Ó Supremo Senhor inconquistável, ao ficarem absortos em pensar no gozo material, o senhor Brahmā e o senhor Śiva, bem como os outros semideuses e os demônios, submetem-se a rigorosas austeridades e penitências para receberem minhas bênçãos. Mas eu não favoreço ninguém, por maior que ele seja, a menos que ele esteja ocupado em servir aos Vossos pés de lótus. Porque sempre Vos mantenho dentro do meu coração, posso favorecer somente alguém que seja um devoto.

VERSO 23: Ó infalível, as palmas de lótus de Vossas mãos são a fonte de toda bênção. Por isso, Vossos devotos puros adoram-nas, e Vós, muito misericordiosamente, colocais Vossas mãos sobre suas cabeças. Desejo que também coloqueis Vossas mãos sobre minha cabeça, pois, embora já estejais portando sobre Vosso peito minha insígnia de faixas douradas, considero que esta honra me é simplesmente uma espécie de falso prestígio. Concedeis Vossa verdadeira misericórdia ao Vosso devoto, e não a mim. Evidentemente, sois o supremo controlador absoluto, e a ninguém é facultado compreender Vossos intentos.

VERSO 24: Śukadeva Gosvāmī continuou: Em Ramyaka-varṣa, onde Vaivasvata Manu governa, a Suprema Personalidade de Deus apareceu como o Senhor Matsya no final da última era [o Cākṣuṣa-manvantara]. Vaivasvata Manu, adorando o Senhor Matsya mediante o serviço devocional puro, canta o seguinte mantra.

VERSO 25: Ofereço minhas respeitosas reverências à Suprema Personalidade de Deus, que é a pura transcendência. É a partir dEle que se origina a vida, a força corpórea, o poder mental e a habilidade sensória. Conhecido como Matsyāvatāra, a gigantesca encarnação do peixe, Ele é a primeira encarnação a aparecer. Volto a oferecer-Lhe minhas reverências.

VERSO 26: Meu querido Senhor, assim como um titereiro controla seus fantoches dançarinos e um marido controla sua esposa, Vossa Onipotência controla todas as entidades vivas do universo, tais como os brahmaṇas, kṣatriyas, vaiśyas e śūdras. Embora estejais no coração de todos como a testemunha suprema e o comandante supremo e estejais também situado externamente a todos, os ditos líderes das sociedades, comunidades e países não podem compreender-Vos. Apenas aqueles que ouvem a vibração dos mantras védicos podem apreciar-Vos.

VERSO 27: Meu Senhor, começando pelos grandes líderes do universo, tais como o senhor Brahmā e outros semideuses, indo até os líderes políticos deste mundo, todos invejam Vossa autoridade. Contudo, sem Vossa ajuda, eles, quer isolados, quer como um grupo, não poderiam manter as inúmeras entidades vivas que estão dentro do universo. Na verdade, és o único mantenedor de todos os seres humanos, dos animais, tais como vacas e asnos, e das plantas, répteis, pássaros, montanhas e tudo o que se vê dentro deste mundo material.

VERSO 28: Ó Senhor onipotente, no final do milênio, este planeta Terra, que é a fonte de toda espécie de ervas, drogas e árvores, foi inundado por água e ficou submerso em ondas devastadoras. Naquele momento, Vós me protegestes juntamente com a Terra e, com muita rapidez, percorrestes o mar. Ó não-nascido, sois o verdadeiro mantenedor de toda a criação universal e, portanto, sois a causa de todas as entidades vivas. Ofereço-Vos minhas respeitosas reverências.

VERSO 29: Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Em Hiraṇmaya-varṣa, Viṣṇu, o Senhor Supremo, vive em forma de tartaruga [kūrma-śarīra]. Aryamā, o principal residente de Hiraṇmaya-varṣa, juntamente com os outros habitantes daquela terra, sempre adoram em serviço devocional essa queridíssima e belíssima forma. Eles cantam os seguintes hinos.

VERSO 30: Ó meu Senhor, ofereço minhas respeitosas reverências a Vós, que assumistes a forma de tartaruga. Sois o reservatório de todas as qualidades transcendentais e, não tendo sequer um vestígio de mácula material, estais perfeitamente situado em bondade pura. Dentro da água, Vós vos moveis em todas as direções, mas ninguém pode determinar Vosso paradeiro. Portanto, ofereço-Vos minhas respeitosas reverências. Em virtude de Vossa posição transcendental, não sois limitado por passado, presente e futuro. Estais presente em toda parte como o refúgio de todas as coisas, de modo que não me canso de oferecer-Vos minhas respeitosas reverências.

VERSO 31: Meu querido Senhor, esta manifestação cósmica visível é uma demonstração de Vossa energia criativa. Visto que as incontáveis variedades de formas presentes dentro desta manifestação cósmica são uma simples manifestação de Vossa energia externa, esse virāṭa-rūpa [corpo universal] não é Vossa forma verdadeira. Com exceção do devoto em consciência transcendental, ninguém pode perceber Vossa forma verdadeira. Portanto, ofereço-Vos minhas respeitosas reverências.

VERSO 32: Meu querido Senhor, manifestais Vossas diferentes energias em formas incontáveis: como entidades vivas nascidas do ventre, de ovos e da transpiração; como plantas e árvores que crescem da terra; como todas as entidades vivas, tanto móveis quanto fixas, incluindo os semideuses, os sábios eruditos e os pitās; como o espaço sideral, como o sistema planetário superior que contém os planetas celestiais e como o planeta Terra, com suas colinas, rios, mares, oceanos e ilhas. Na verdade, todas as estrelas e planetas são simples manifestações de Vossas diversas energias, mas, de fato, sois inigualável. Portanto, nada existe além de Vós. Logo, toda esta manifestação cósmica não é falsa, senão que é uma mera manifestação temporária de Vossa energia inconcebível.

VERSO 33: Ó meu Senhor, Vosso nome, forma e traços corpóreos expandem-se em formas incontáveis. Ninguém pode determinar com exatidão quantas formas existem, mas Vós, sob Vossa encarnação como o sábio erudito Kapiladeva, analisastes que a manifestação cósmica contém vinte e quatro elementos. Portanto, se alguém se interessa pela filosofia sāṅkhya, mediante a qual se podem enumerar as diferentes verdades, ele deve ouvi-la de Vós. Infelizmente, os não-devotos simplesmente contam os diferentes elementos, mas permanecem ignorantes de Vossa forma verdadeira. Ofereço-Vos minhas respeitosas reverências.

VERSO 34: Śukadeva Gosvāmī disse: Querido rei, o Senhor Supremo, encarnado como o javali, que recebe todas as oferendas de sacrifícios, vive na parte norte de Jambūdvīpa. Ali, em uma extensão territorial conhecida como Uttarakuru-varṣa, a mãe Terra e todos os outros habitantes adoram-nO em serviço devocional ininterrupto, cantando repetidas vezes o seguinte mantra das Upaniṣads.

VERSO 35: Ó Senhor, oferecemos nossas respeitosas reverências à Vossa pessoa gigantesca. Pelo simples fato de cantarmos mantras, seremos capazes de entender-Vos plenamente. Sois o yajña [sacrifício] e sois o kratu [ritual]. Portanto, todas as cerimônias ritualísticas de sacrifícios fazem parte de Vosso corpo transcendental, e sois o único desfrutador de todos os sacrifícios. Vossa forma é constituída de bondade transcendental. Sois conhecido como tri-yuga porque, em Kali-yuga, aparecestes como uma encarnação disfarçada e porque possuís em plenitude os três pares de opulências.

VERSO 36: Manipulando uma vareta que gera fogo, grandes santos e sábios podem fazer surgir o fogo que jaz adormecido dentro da madeira. De igual modo, ó Senhor, aqueles que são hábeis em compreender a Verdade Absoluta tentam ver-Vos em tudo – até mesmo em seus próprios corpos. Contudo, permaneceis indecifrável. Não é através de processos indiretos, que envolvem atividades mentais ou físicas, que alguém Vos compreenderá. Porque sois automanifesto, somente Vos revelais ao perceberdes que alguém está de todo o coração ocupado em buscar-Vos. Portanto, ofereço-Vos minhas respeitosas reverências.

VERSO 37: Os objetos do gozo material [som, forma, paladar, tato e aroma], as atividades dos sentidos, os controladores das atividades sensoriais [os semideuses], o corpo, o tempo eterno e o egotismo são todos criações de Vossa energia material. Aqueles cuja inteligência tornou-se fixa através da execução perfeita do yoga místico podem ver que todos esses elementos resultam das ações de Vossa energia externa. Eles também podem ver Vossa transcendental forma da Superalma como a base de tudo. Portanto, não me canso de oferecer-Vos minhas respeitosas reverências.

VERSO 38: Ó Senhor, não desejais a criação, a manutenção ou a aniquilação deste mundo material, porém, através de Vossa energia criativa, executais essas atividades em favor das almas condicionadas. Exatamente como um pedaço de ferro se move sob a influência de um ímã, a matéria inerte se move ao lançardes Vosso olhar sobre a totalidade da energia material.

VERSO 39: Meu Senhor, como o javali original dentro deste universo, Vós lutastes com o grande demônio Hiraṇyakṣa, o qual matastes enfim. Então, na ponta de Vossas presas, Vós me levantastes [a Terra] e me tirastes do Oceano Garbhodaka, exatamente como um elefante a divertir-se arranca da água uma flor de lótus. Prostro-me diante de Vós.

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