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VERSO 1

ṛṣabha uvāca
nāyaṁ deho deha-bhājāṁ nṛloke
kaṣṭān kāmān arhate viḍ-bhujāṁ ye
tapo divyaṁ putrakā yena sattvaṁ
śuddhyed yasmād brahma-saukhyaṁ tv anantam

ṛṣabhaḥ uvāca — o Senhor Ṛṣabhadeva disse; na — não; ayam — este; dehaḥ — corpo; deha-bhājām — de todas as entidades vivas que aceitaram corpos materiais; nṛ-loke — neste mundo; kaṣṭān — problemático; kāmān — gozo dos sentidos; arhate — merece; viṭ-bhujām — dos comedores de excremento; ye — as quais; tapaḥ — austeridades e penitências; divyam — divino; putrakāḥ — Meus queridos filhos; yena — mediante as quais; sattvam — o coração; śuddhyet — purifica-se; yasmāt — a partir daí; brahma-saukhyam — felicidade espiritual; tu — decerto; anantam — infindável.

O Senhor Ṛṣabhadeva disse aos Seus filhos: Meus queridos rapazes, entre todas as entidades vivas que aceitaram corpos materiais neste mundo, aquele que recebeu esta forma humana não deve trabalhar arduamente dia e noite com o simples propósito de satisfazer seus sentidos, pois isso se encontra disponível inclusive para os cães e porcos, meros comedores de excremento. A pessoa deve ocupar-se em penitências e austeridades para alcançar a posição divina do serviço devocional. Através dessa atividade, seu coração purifica-se e, ao situar-se nessa posição, obtém uma vida bem-aventurada e eterna, que transcende a felicidade material e continua para sempre.

SIGNIFICADO—Neste verso, o Senhor Ṛṣabhadeva fala a Seus filhos sobre a importância da vida humana. A palavra deha-bhāk refere-se a todo aquele que aceita um corpo material, mas a entidade viva que recebe a forma humana deve agir de maneira diferente de como agem os animais. Animais como cães e porcos desfrutam dos sentidos ao comerem fezes. Após passarem por muitas dificuldades o dia todo, os seres humanos tentam desfrutar à noite, comendo, bebendo, fazendo sexo e dormindo. Ao mesmo tempo, precisam defender-se de modo adequado. Isso, todavia, não é civilização humana. Vida humana significa submeter-se voluntariamente a sofrimentos para obter avanço na vida espiritual. É óbvio que existe sofrimento na vida dos animais e das plantas, que estão sofrendo por causa de seus erros passados. No entanto, para alcançar a vida divina, os seres humanos devem aceitar voluntariamente o sofrimento sob a forma de austeridades e penitências. Após alcançar a vida divina, todos poderão desfrutar de felicidade eterna. Afinal, toda entidade viva esforça-se em gozar de felicidade, mas, enquanto se encontrar engaiolada no corpo material, terá que experimentar várias espécies de sofrimentos. Na forma humana, encontra-se uma inteligência superior para agir de acordo com motivações superiores e obter felicidade eterna ao retornar ao Supremo.

É significativo neste verso que o governante e guardião natural, o pai, deva educar os subordinados e criá-los em consciência de Kṛṣṇa. Desprovido de consciência de Kṛṣṇa, todo ser vivo sofre perpetuamente neste ciclo de nascimentos e mortes. Para libertá-lo desse cativeiro e capacitá-lo a tornar-se bem-aventurado e feliz, é preciso lhe ensinar bhakti-yoga. Uma civilização tola deixa de ensinar à população como ela deve agir para elevar-se à plataforma de bhakti-yoga. Quem não tem consciência de Kṛṣṇa é um mero porco ou cão. As instruções de Ṛṣabhadeva são muito relevantes no momento atual. A educação treina as pessoas a trabalharem muito arduamente para satisfazerem seus sentidos, e não lhes aponta qualquer meta sublime na vida. O homem se coloca a caminho para ganhar sua subsistência, deixando o lar de manhã bem cedo, pegando a condução local e se deslocando em um veículo superlotado, onde tem que permanecer por uma ou duas horas até alcançar o seu local de trabalho. No escritório, trabalha arduamente das nove às cinco; então, gasta mais duas ou três horas para voltar à sua casa. Depois de comer, ele faz sexo e dorme. Em troca de todos esses inconvenientes, sua única felicidade é um pouco de sexo. Yan maithunādi-gṛhamedhi-sukhaṁ hi tuccham. Ṛṣabhadeva afirma claramente que a vida humana não se destina a essa classe de existência, da qual mesmo os cães e os porcos desfrutam. Na verdade, os cães e os porcos não precisam trabalhar tão arduamente para gozar de sexo. O ser humano deve esforçar-se para viver de maneira diferente, e não buscar imitar os cães e os porcos. Menciona-se aqui a saída. A vida humana se destina a tapasya, austeridade e penitência. Através de tapasya, podemos escapar das garras materiais. Quando alguém se situa em consciência de Kṛṣṇa, em serviço devocional, sua felicidade está garantida eternamente. Adotando bhakti-yoga, o serviço devocional, sua existência se purifica. Vida após vida, a entidade viva busca por felicidade, mas só poderá solucionar todos os seus problemas quando passar a praticar bhakti-yoga. Nesse momento, ela se qualifica de imediato a voltar ao lar, voltar ao Supremo. Como confirma a Bhagavad-gītā (4.9):

janma karma ca me divyam
evaṁ yo vetti tattvataḥ
tyaktvā dehaṁ punar janma
naiti mām eti so ’rjuna

“Aquele que conhece a natureza transcendental do Meu aparecimento e atividades, ao deixar o corpo não volta a nascer neste mundo material, mas alcança Minha morada eterna, ó Arjuna.”

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