VERSO 8
yo ’dhruveṇātmanā nāthā
na dharmaṁ na yaśaḥ pumān
īheta bhūta-dayayā
sa śocyaḥ sthāvarair api
yaḥ — qualquer pessoa que; adhruveṇa — impermanente; ātmanā — pelo corpo; nāthāḥ — ó senhores; na — não; dharmam — princípios religiosos; na — não; yaśaḥ — fama; pumān — uma pessoa; īheta — esforça-se por; bhūta-dayayā — pela misericórdia para com os seres vivos; saḥ — essa pessoa; śocyaḥ — digna de lamentação; sthāvaraiḥ — entre as criaturas inertes; api — mesmo.
Ó semideuses, alguém que não sente compaixão pelo sofrimento da humanidade e que não sacrifica seu corpo temporário em prol de causas superiores, tais como os princípios religiosos ou a glória eterna, com certeza é digno de lamentação mesmo entre os seres inertes.
SIGNIFICADO—Com relação a isso, um magnífico exemplo foi estabelecido pelo Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu e pelos Seis Gosvāmīs de Vṛndāvana. Quanto a Śrī Caitanya Mahāprabhu, afirma o Śrīmad-Bhāgavatam (11.5.34):
tyaktvā sudustyaja-surepsita-rājya-lakṣmīṁ
dharmiṣṭha ārya-vacasā yad agād araṇyam
māyā-mṛgaṁ dayitayepsitam anvadhāvad
vande mahā-puruṣa te caraṇāravindam
“Oferecemos nossas respeitosas reverências aos pés de lótus do Senhor, em quem sempre se deve meditar. Ele Se afastou de Sua vida doméstica, deixando de lado Sua consorte eterna, a qual até mesmo os cidadãos do céu adoram. Ele foi à floresta para salvar as almas caídas, a quem a energia material ilude.” Aceitar sannyāsa significa cometer suicídio civil, mas sannyāsa é compulsório, pelo menos para todos os brāhmaṇas, todos os seres humanos de primeira classe. Śrī Caitanya Mahāprabhu tinha uma esposa muito jovem e bela e uma mãe muito afetuosa. Na verdade, o relacionamento afetuoso de Seus membros familiares era tão agradável que nem mesmo os semideuses poderiam esperar tanta felicidade no lar. Entretanto, para libertar todas as almas caídas do mundo, Śrī Caitanya Mahāprabhu aceitou sannyāsa e, com apenas vinte e quatro anos, deixou o lar. Como sannyāsī, Ele viveu uma vida muito estrita, recusando todos os confortos físicos. Do mesmo modo, Seus discípulos, os Seis Gosvāmīs, eram ministros que detinham elevada posição na sociedade, mas também deixaram tudo para se unirem ao movimento de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Śrīnivāsa Ācārya diz:
tyaktvā tūrṇam aśeṣa-maṇḍala-pati-śreṇīṁ sadā tucchavat
bhūtvā dīna-gaṇeśakau karuṇayā kaupīna-kanthāśritau
Esses Gosvāmīs deixaram suas confortabilíssimas vidas de ministros, pessoas influentes e sábios eruditos e se uniram ao movimento de Śrī Caitanya Mahāprabhu simplesmente para mostrar misericórdia às almas caídas, que vagam pelo mundo (dīna-gaṇeśakau karuṇayā). Aceitando vidas muito humildes como mendigos, usando apenas tangas e lençóis surrados (kaupīna-kantha), viveram em Vṛndāvana e seguiram a ordem de Śrī Caitanya Mahāprabhu de escavarem as glórias de Vṛndāvana, até então sepultadas e perdidas.
Igualmente, todos os demais que, dentro deste mundo, gozam de uma condição material confortável devem unir-se ao movimento da consciência de Kṛṣṇa a fim de elevar as almas caídas. As expressões bhūta-dayayā, māyā-mṛgaṁ dayitayepsitam e dīna-gaṇeśakau karuṇayā contêm todas a mesma acepção. São palavras muito significativas para aqueles que estão interessados em levar à sociedade humana a correta compreensão da vida. Todos devem unir-se ao movimento da consciência de Kṛṣṇa, seguindo o exemplo dessas grandes personalidades, tais como Śrī Caitanya Mahāprabhu, os Seis Gosvāmīs, e, de uma época mais antiga, o grande sábio Dadhīci. Em vez de desperdiçar sua vida em confortos físicos temporários, a pessoa deve estar sempre disposta a dar a sua vida em prol de causas nobres. No final, o corpo será destruído. Portanto, deve-se sacrificá-lo em prol da glória de difundir os princípios religiosos mundo afora.