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Capítulo Dezenove

Realização da Cerimônia Ritualística Puṁsavana

Este capítulo explica como Diti, a esposa de Kaśyapa Muni, pra­ticou serviço devocional ao seguir as instruções de seu esposo. Du­rante o primeiro dia da quinzena da lua cheia, no mês de Agrahāyana (novembro-dezembro), toda mulher, seguindo os passos de Diti e seguindo as instruções de seu próprio esposo, deve começar este puṁsavana-vrata. Após a purificação matinal, em que escovou seus dentes e tomou seu banho, ela deve ouvir sobre o mistério do nascimento dos Maruts. Em seguida, cobrindo seu corpo com um vestuário branco e colocando os devidos adereços, ela, antes do desjejum, deve adorar o Senhor Viṣṇu e a mãe Lakṣmī, a deusa da fortuna e esposa do Senhor Viṣṇu, louvando a misericórdia, paciência, poder, habili­dade, grandeza e outras glórias do Senhor Viṣṇu, e também enalte­cer Sua capacidade de conceder todas as bênçãos místicas. Enquanto se oferece ao Senhor toda a parafernália de adoração, tais como adornos, o cordão sagrado, essências, belas flores, incenso e água para banhar e lavar Seus pés, mãos e boca, deve-se convidar o Senhor com este mantra: oṁ namo bhagavate mahā-puruṣāya mahānubhāvāya mahāvibhūtipataye saha mahā-vibhūtibhir balim upaharāmi. Então, devem-se apresentar doze oblações no fogo enquanto se canta este mantra: oṁ namo bhagavate mahā-puruṣāya mahāvibhūti-pataye svāhā. Devem-se oferecer reverências enquanto se canta este mantra dez vezes. Em seguida, deve-se cantar o mantra de Lakṣmī-Nārāyaṇa.

Se a mulher grávida ou seu esposo executarem regularmente esse serviço devocional, ambos receberão os resultados. Após continuar esse processo por um ano inteiro, a esposa casta deve jejuar no pūrṇimā, o dia da lua cheia, de Kārttika. No dia seguinte, o esposo deve adorar o Senhor seguindo o mesmo processo anterior e, então, deve realizar um festival, cozinhando boa comida e distribuindo prasāda aos brāhmaṇas. Depois, com a permissão dos brāhmaṇas, o esposo e a esposa devem aceitar prasāda. Ao final, este capítulo glorifica os resultados da cerimônia puṁsavana.

VERSO 1: Mahārāja Parīkṣit disse: Meu querido senhor, já falaste sobre o voto puṁsavana. Agora, é meu desejo ouvi-lo ser descrito em porme­nores, pois entendo que quem segue esse voto pode satisfazer Viṣṇu, o Senhor Supremo.

VERSOS 2-3: Śukadeva Gosvāmī disse: No primeiro dia da quinzena da lua cheia do mês de Agrahāyaṇa [novembro-dezembro], seguindo as instruções de seu esposo, a mulher deve começar este serviço devo­cional regulado, submetendo-se a um voto de penitência, pois tal serviço pode satisfazer-lhe todos os desejos. Antes de começar a adorar o Senhor Viṣṇu, a mulher deve ouvir a história de como foi que os Maruts nasceram. Seguindo as instruções de brāhmaṇas qua­lificados, ela, de manhã, deve escovar os dentes, banhar-se e colo­car vestes brancas e adornos e, antes de quebrar seu jejum, deve adorar o Senhor Viṣṇu e Lakṣmī.

VERSO 4: Então, ela deve dirigir ao Senhor a seguinte oração.] Meu querido Senhor, sois pleno de todas as opulências, mas não Vos peço opulência alguma. Simplesmente Vos ofereço minhas respeitosas reverências. Sois o esposo e mestre de Lakṣmīdevī, a deusa da fortuna, que possui todas as opulências. Portanto, sois o mestre de todo yoga místico. Tudo o que me resta fazer é oferecer-Vos minhas reverências.

VERSO 5: Ó meu Senhor, porque sois dotado de misericórdia imotivada, bem como de todas as opulências, todos os poderes e todas as glórias, força e qualidades transcendentais, sois a Suprema Personalidade de Deus, o mestre de todos.

VERSO 6: [Após oferecer reverências e mais reverências ao Senhor Viṣṇu, a devota deve oferecer respeitosas reverências a mãe Lakṣmī, a deusa da fortuna, e deve orar da seguinte maneira.] Ó esposa do Senhor Viṣṇu, ó energia interna do Senhor Viṣṇu, estás em nível de igual­dade com o próprio Senhor Viṣṇu, visto que tens todas as Suas qualida­des e opulências. Ó deusa da fortuna, por favor, sê bondosa comigo. Ó mãe do mundo inteiro, ofereço-te minhas respeitosas reverências.

VERSO 7: “Meu Senhor Viṣṇu, pleno de seis opulências, sois o melhor de todos os desfrutadores e sois o mais poderoso. Ó esposo de mãe Lakṣmī, ofereço minhas respeitosas reverências a Vós, que estais acompanhado de muitos associados, tais como Viśvaksena. Ofereço­-Vos toda a parafernália que se utiliza na adoração que é prestada a Vós.” Com grande atenção, deve-se cantar esse mantra todos os dias enquanto se adora o Senhor Viṣṇu com todos os artigos, tais como água para lavar Seus pés, mãos e boca e água para banhá­-lO. Deve-se adorá-lO mediante o oferecimento de vários presentes, tais como roupas, cordão sagrado, ornamentos, essências, flores, incenso e lamparinas.

VERSO 8: Śukadeva Gosvāmī continuou: Após adorar o Senhor com toda a parafernália mencionada acima, deve-se cantar o seguinte mantra enquanto se apresentam no fogo sagrado doze oblações de ghī: oṁ namo bhagavate mahā-puruṣāya mahāvibhūti-pataye svāhā.

VERSO 9: Se alguém deseja todas as opulências, seu dever é adorar diariamente o Senhor Viṣṇu e Lakṣmī, esposa dEste. Com grande devo­ção, deve adorá-lO de acordo com o processo acima mencionado. O Senhor Viṣṇu e a deusa da fortuna formam um casal imensamente poderoso. Eles são os outorgadores de todas as bênçãos e a fonte de toda a boa fortuna. Portanto, o dever de todos é adorar Lakṣmī-Nārāyaṇa.

VERSO 10: O indivíduo deve prestar reverências ao Senhor com a mente humilde e com devoção. Enquanto se oferecem daṇḍavats, caindo ao solo como uma vara, deve-se cantar dez vezes o mantra mencionado acima. Então, deve-se entoar a seguinte oração.

VERSO 11: Meu Senhor Viṣṇu e mãe Lakṣmī, deusa da fortuna, sois os proprietários de toda a criação. Na verdade, sois a causa da criação. É extremamente difícil entender mãe Lakṣmī, pois ela é tão poderosa que a jurisdição de seu poder é praticamente insuperável. No mundo material, mãe Lakṣmī se faz representar pela energia externa, mas, na verdade, ela sempre é a energia interna do Senhor.

VERSO 12: Meu Senhor, sois o mestre da energia e, portanto, sois a Pessoa Suprema. Sois o sacrifício [yajña] personificado. Lakṣmī, a corporificação das atividades espirituais, é a forma original de ado­ração oferecida a Vós, ao passo que sois o desfrutador de todos os sacrifícios.

VERSO 13: Mãe Lakṣmī, que está aqui presente, é o reservatório de todas as qualidades espirituais, ao passo que manifestais todas essas qualidades e desfrutais delas. Na verdade, sois realmente o desfrutador de tudo. Existis como a Superalma de todas as entidades vivas, e a deusa da fortuna é a forma dos seus corpos, sentidos e mentes. Ela também tem um nome e uma forma santificados, e sois a base de todos esses nomes e formas e a causa da manifestação deles.

VERSO 14: Sois ambos supremos governantes e benfeitores dos três mundos. Portanto, meu Senhor, Uttamaśloka, espero que, por Vossa graça, minhas ambições possam ser satisfeitas.

VERSO 15: Śrī Śukadeva Gosvāmī continuou: Assim se deve adorar tanto o Senhor Viṣṇu, que é conhecido como Śrīnivāsa, quanto mãe Lakṣmī, a deusa da fortuna, oferecendo orações de acordo com o processo acima mencionado. Após retirar toda a parafernália de adoração, a pessoa deve oferecer-lhes água para que sejam lavadas suas mãos e boca e, então, deve adorá-los novamente.

VERSO 16: Depois disso, com devoção e humildade, deve-se oferecer orações ao Senhor e mãe Lakṣmī. Então, deve-se cheirar os restos do alimento oferecido e, em seguida, deve-se adorar novamente o Senhor e Lakṣmījī.

VERSO 17: Aceitando seu esposo como o representante da Pessoa Suprema, a esposa deve adorá-lo com devoção imaculada, oferecendo-lhe prasāda. O esposo, estando muito satisfeito com sua esposa, deve dedicar-se aos afazeres de sua família.

VERSO 18: Entre esposo e esposa, basta uma pessoa para executar esse servi­ço devocional. Devido à boa relação vivida por eles, ambos desfrutarão dos resultados. Portanto, se a esposa for incapaz de executar esse processo, o esposo deve cuidadosamente se encarregar dele, e a esposa fiel compartilhará dos resultados.

VERSOS 19-20: A pessoa deve aceitar este viṣṇu-vrata, que é um voto executado em serviço devocional, e ela não deve deixar de cumpri-lo para se ocupar em alguma outra atividade. Mediante o oferecimento de restos de prasāda, guirlanda de flores, polpa de sândalo e adornos, deve-se diariamente adorar os brāhmaṇas e adorar as mulheres que levam uma vida pacífica com o esposo e filhos. Todos os dias, cabe à es­posa continuar seguindo os princípios reguladores segundo os quais se deve adorar o Senhor Viṣṇu com muita devoção. Depois disso, o Senhor Viṣṇu deve ser deitado em Sua cama, e, em seguida, a pessoa deve aceitar prasāda. Dessa maneira, o esposo e a esposa se purificarão e todos os seus desejos serão satisfeitos.

VERSO 21: Durante um ano, a esposa casta deve executar continuamente esse serviço devocional. Expirado esse período, ela deve jejuar no dia da lua cheia no mês de Kārttika [outubro-novembro].

VERSO 22: Na manhã do dia seguinte, a pessoa deve lavar-se e, após seguir o mesmo processo de adoração ao Senhor Kṛṣṇa, deve preparar alimentos conforme o sistema prescrito nos Gṛhya-sūtras, que orien­tam como cozinhar para festivais. O arroz-doce deve ser cozido no ghī, e, com essa preparação, o esposo deve apresentar oblações ao fogo doze vezes.

VERSO 23: Depois disso, deve satisfazer os brāhmaṇas. Quando os brāhmaṇas, satisfeitos, concederem suas bênçãos, ele, com muita veneração, deve oferecer-lhes respeitosas reverências inclinando a cabeça e, com a permissão deles, deve aceitar prasāda.

VERSO 24: Antes de fazer sua refeição, o esposo primeiramente deve oferecer ao ācārya um assento confortável e, juntamente com seus pa­rentes e amigos, deve controlar sua fala e oferecer prasāda ao guru. Então, a esposa deve comer os restos da oblação de arroz-doce cozi­do com ghī. Comer os restos lhe assegurará um filho erudito e devotado e toda a boa fortuna.

VERSO 25: O homem que observa este voto ou cerimônia ritualística e segue a descrição contida nos śāstras, mesmo nesta vida, será capaz de receber do Senhor todas as bênçãos que desejar. A esposa que executa esta cerimônia ritualística certamente obterá boa fortuna, opu­lência, filhos, um esposo de vida longa, boa reputação e um lar agradável.

VERSOS 26-28: Se uma jovem solteira seguir este vrata, será capaz de obter um ótimo esposo. Se uma mulher que é avīrā – que não tem esposo ou filho – executar esta cerimônia ritualística, poderá ser promo­vida ao mundo espiritual. Uma mulher cujos filhos morreram após o nascimento poderá obter um filho muito longevo e também ter a boa sorte de possuir riquezas. Se uma mulher é desafortunada, ela se tornará afortunada, e, se tiver uma aparência ruim, ela se tornará bela. Ao observar este vrata, um homem doente poderá se livrar de sua doença e ter um corpo saudável que lhe propiciará ótimas condições para trabalhar. Se alguém recitar esta narração en­quanto apresenta oblações aos pitās e aos semideuses e, se isso ocorre especialmente durante a cerimônia śrāddha, os semideuses e habitantes de Pitṛloka ficarão satisfeitíssimos com ele e lhe concederão a concretização de todos os seus desejos. Depois que alguém exe­cuta esta cerimônia ritualística, o Senhor Viṣṇu e Sua esposa, mãe Lakṣmī, a deusa da fortuna, ficarão satisfeitos com ele. Ó rei Parīk­ṣit, acabo, portanto, de descrever na íntegra como foi que Diti executou esta cerimônia e teve bons filhos – os Maruts – e uma vida feliz. Tentei explicar-te isso da maneira mais elaborada possível.

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