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VERSO 32

astīti nāstīti ca vastu-niṣṭhayor
eka-sthayor bhinna-viruddha-dharmaṇoḥ
avekṣitaṁ kiñcana yoga-sāṅkhyayoḥ
samaṁ paraṁ hy anukūlaṁ bṛhat tat

asti — existe; iti — assim; na — não; asti — existe; iti — assim; ca­ — e; vastu-niṣṭhayoḥ — que professa conhecer a causa última; eka­-sthayoḥ — com um único e mesmo tema: estabelecer o Brahman; bhinna — demonstrando diferentemente; viruddha-dharmaṇoḥ — e características opostas; avekṣitam — percebidas; kiñcana — algo que; yoga-sāṅkhyayoḥ — do yoga místico e da filosofia sāṅkhya (análise dos processos da natureza); samam — a mesma; param — transcen­dental; hi — na verdade; anukūlam — residência; bṛhat tat — essa causa última.

Existem dois grupos – a saber, os teístas e os ateístas. O teísta, que aceita a Superalma, encontra a causa espiritual através do yoga místico. O sāṅkhyite, entretanto, que meramente analisa os elementos materiais, chega a uma conclusão impersonalista e não aceita uma causa suprema – quer seja Bhagavān, quer Paramātmā, quer mesmo Brahman. Ao contrário, interessam-lhe as supérfluas atividades externas vistas na natureza material. Em última análise, contudo, ambos os grupos demonstram a Verdade Absoluta porque, embora ofereçam argumentos opostos, seu objetivo se concentra na mesmís­sima causa definitiva. Ambos estão se aproximando do mesmo Brahman Supremo, a quem ofereço minhas respeitosas reverências.

SIGNIFICADO—Na verdade, pode-se ver esse argumento de dois ângulos. Alguns dizem que o Absoluto não tem forma (nirākāra), e outros afirmam que o Absoluto tem forma (sākāra). Portanto, a palavra “forma” é o fator comum, embora alguns aceitem-na (asti ou astika), enquanto outros tentam negá-la (nāsti ou nāstika). Já que considera a palavra “forma” (ākāra) o fator comum, o devoto oferece suas res­peitosas reverências à forma, embora outros possam continuar du­vidando se o Absoluto tem uma forma ou não.

Neste verso, a palavra yoga-sāṅkhyayoḥ é muito importante. Yoga significa bhakti-yoga porque os yogīs também aceitam a existência da onipenetrante Alma Suprema e tentam vê-lA dentro de seus corações. Como afirma o Śrīmad-Bhāgavatam (12.13.1): dhyānāvasthita-tad-gatena manasā paśyanti yaṁ yoginaḥ. O devoto tenta entrar em contato direto com a Suprema Personalidade de Deus, ao passo que, através da meditação, o yogī tenta encontrar a Superalma dentro do coração. Assim, tanto direta quanto indiretamente, yoga significa bhakti-yoga. Sāṅkhya, contudo, significa estudo físico da situação cósmica através do conhecimento especulativo. Geralmente, isso é conhecido como jñāna-śāstra. Os sāṅkhyites estão apegados ao Brahman impessoal, mas a Verdade Absoluta é conhecida de três maneiras. Brahmeti paramātmeti bhagavān iti śabdyate: embora a Verdade Absoluta seja apenas uma, alguns A aceitam como o Brahman impessoal, outros como a Superalma que existe em toda parte, e alguns outros como Bhagavān, a Suprema Personalidade de Deus. O ponto central é a Verdade Absoluta.

Embora briguem entre si, os impersonalistas e os personalistas focalizam o mesmo Parabrahman, a mesma Verdade Absoluta. Nos yoga-­śāstras, Kṛṣṇa é descrito da seguinte maneira: kṛṣṇaṁ piśaṅgāmbaram ambujekṣaṇaṁ catur-bhujaṁ śaṅkha-gadādy-udāyudham. Assim, descreve-se o agradável aspecto do porte físico, dos membros e das vestes da Suprema Personalidade de Deus. Entretanto, o sāṅkhya-śāstra nega a existência da forma transcendental do Senhor. O sāṅkhya-śāstra afirma que a Suprema Verdade Absoluta não possui mãos, pernas ou nome: hy anāma-rūpa-guṇa-pāṇi-pādam acakṣur aśrotram ekam advitīyam api nāma-rūpādikaṁ nāsti. Os mantras védicos dizem que apāṇi-pādo javano grahītā: o Senhor Supremo não tem pernas nem mãos, mas pode aceitar tudo o que Lhe é oferecido. Na verdade, essas afirmações aceitam o fato de que o Supremo tem mãos e pernas, mas rejeitam a proposição de que Ele tenha mãos e pernas materiais. É por isso que o Absoluto recebe o nome de aprākṛta. Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, possui um sac-cid-ānanda-vigraha, uma forma de eternidade, conhecimento e bem-aventurança, e não uma forma material. Os sāṅkhyites, ou jñānīs, negam existir a forma material, e os devotos também sabem perfeitamente que Bhagavān, a Verdade Absoluta, não tem forma material.

īśvaraḥ paramaḥ kṛṣṇaḥ
sac-cid-ānanda-vigrahaḥ
anādir ādir govindaḥ
sarva-kāraṇa-kāraṇam

“Kṛṣṇa, conhecido como Govinda, é o controlador Supremo. Ele tem um corpo espiritual eterno e bem-aventurado. Ele é a origem de tudo. Ele não tem outra origem, pois Ele é a causa primordial de todas as causas.” A concepção de que o Absoluto não tem mãos e pernas e a concepção de que o Absoluto tem mãos e pernas são aparentemente contraditórias, mas ambas estão de acordo com a mesma verdade sobre a Suprema Pessoa Absoluta. Portan­to, a palavra vastu- niṣṭhayoḥ, utilizada aqui, deixa entrever que tanto os yogīs quanto os sāṅkhyites possuem fé na realidade, mas estão argu­mentando sobre ela a partir de diferentes pontos de vista atinentes às identidades espiritual e material. O Parabrahman, ou bṛhat, é o ponto comum. Os sāṅkhyites e os yogīs estão situados nesse mesmo Brahman, mas discordam entre si devido aos diferentes pontos de vista.

As orientações dadas pelo bhakti-śāstra encaminham todos para a direção perfeita porque, na Bhagavad-gītā, a Suprema Personali­dade de Deus diz que bhaktyā mām abhijānāti: “Somente através do serviço devocional é que Eu posso ser conhecido.” Os bhaktas sabem que a Pessoa Suprema não tem forma material, ao passo que os jñānīs simplesmente negam a forma material. Portanto, todos devem refugiar-se em bhakti-mārga, o caminho da devoção; então, tudo ficará claro. Os jñānīs se concentram no virāṭ-rūpa, a gigan­tesca forma universal do Senhor. No começo, este é um bom sistema para aqueles que são extremamente materialistas, mas não é preciso que alguém fique continuamente pensando no virāṭ-rūpa. Quando Arjuna viu o virāṭ-rūpa de Kṛṣṇa, ele não quis continuar vendo-a perpetuamente. Portanto, pediu ao Senhor que retornasse à Sua forma original, como o Kṛṣṇa de dois braços. Em conclusão, os estudiosos eruditos não encontram contradições no fato de os devotos se concen­trarem na forma espiritual do Senhor (īśvaraḥ paramaḥ kṛṣṇaḥ sac-cid-ānanda-vigrahaḥ). Com relação a isso, Śrīla Madhvācārya diz que os não-devotos, que são menos inteligentes, pensam que sua con­clusão é definitiva, mas porque são inteiramente eruditos, os devo­tos podem entender que a Suprema Personalidade de Deus é a meta última.

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