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Capítulo Quatro

As Orações Haṁsa-guhya Oferecidas ao Senhor pelo Prajāpati Dakṣa

Depois que Mahārāja Parīkṣit solicitou a Śukadeva Gosvāmī que descrevesse de maneira mais pormenorizada a criação das entidades vivas dentro deste universo, Śukadeva Gosvāmī lhe informou que, quando os Pracetās, os dez filhos de Prācīnabarhi, entraram no mar para executar austeridades, o planeta Terra ficou negligenciado porque não havia rei para governá-lo. Naturalmente, muitas ervas daninhas e árvores desnecessárias cresceram, e não se produziram grãos alimentícios. Na verdade, toda a terra ficou parecendo uma floresta. Ao saírem do mar e ver o mundo inteiro repleto de árvores, os dez Pracetās ficaram muito irados contra as árvores e decidiram destruir todas elas para corrigir a irregularidade. Assim, os Pracetās criaram vento e fogo para reduzir as árvores a cinzas. Entretanto, Soma, o rei da Lua e o rei de toda a vegetação, proibiu os Pracetās de destruírem as árvores, já que elas são fonte de frutas e flores para todos os seres vivos. Simplesmente para satisfazer os Pracetās, Soma lhes deu uma bela moça nascida de Pramlocā Apsarā. Através do sêmen de todos os Pracetās, Dakṣa nasceu daquela moça.

No começo, Dakṣa criou todos os semideuses, demônios e seres humanos, mas, ao notar que a população não aumentava apropriadamente, ele aceitou sannyāsa e se dirigiu à montanha Vindhya, onde se submeteu a rigorosas austeridades e ofereceu ao Senhor Viṣṇu uma oração específica, conhecida como Haṁsa-guḥya, através da qual o Senhor Viṣṇu ficou muito satisfeito com ele. O conteúdo da oração era o seguinte.

“A Suprema Personalidade de Deus, a Superalma, o Senhor Hari, é o controlador tanto das entidades vivas quanto da natureza mate­rial. Ele é autossuficiente e autoiluminado. Assim como o tema da percepção não é a causa de nossos sentidos perceptivos, do mesmo modo, a entidade viva, embora situada dentro de seu próprio corpo, não é a causa de seu amigo eterno, a Superalma, que é a causa da criação de todos os sentidos. Devido à ignorância, a entidade viva ocupa seus sentidos em objetos materiais. Como tem vida, a entidade viva pode, até certo ponto, entender a criação deste mundo material, mas não pode entender a Suprema Personalidade de Deus, que está além do conceito de corpo, mente e inteligência. Contudo, os grandes sábios que sempre estão em meditação podem ver dentro de seus corações a forma pessoal do Senhor.”

“Dado que o ser vivo comum está materialmente contaminado, suas palavras e sua inteligência também são materiais. Portanto, não é se valendo de seus sentidos materiais que ele compreenderá a Suprema Personalidade de Deus. O conceito atinente a Deus a que se chega através dos sentidos materiais é impreciso porque o Senhor Supremo está além dos sentidos materiais, mas, quando alguém ocupa seus sentidos em serviço devocional, a eterna Suprema Personali­dade de Deus revela-Se na plataforma da alma. Quando essa Divindade Suprema torna-Se a meta da vida de alguém, afirma-se que ele alcançou o conhecimento espiritual.”

“O Brahman Supremo é a causa de todas as causas porque existia originalmente, antes da criação. Ele é a causa que origina todas as coisas, tanto materiais quanto espirituais, e Sua existência é independente. Entretanto, o Senhor tem uma potência chamada avidyā, a energia ilusória, que induz o falso argumentador a se julgar per­feito e que leva a energia ilusória a confundir a alma condicionada. Esse Brahman Supremo, a Superalma, é muito afetuoso com Seus devotos. Para lhes conceder misericórdia, Ele revela a Sua forma, nome, atributos e qualidades para serem adorados dentro deste mundo material.”

“Infelizmente, entretanto, aqueles que estão absortos na matéria adoram vários semideuses. Assim como, ao entrar em contato com uma flor de lótus, o ar transporta o perfume da flor, ou assim como o ar às vezes carrega poeira e, portanto, assume cores, a Suprema Personalidade de Deus aparece como os diversos semideuses de acordo com o desejo de vários de Seus adoradores que agem como tolos, mas, na realidade, Ele é a verdade suprema, o Senhor Viṣṇu. Para satisfazer os desejos dos Seus devotos, Ele aparece sob várias encarnações e, portanto, não se faz necessário adorar os semideuses.”

Ficando muito satisfeito com as orações de Dakṣa, o Senhor Viṣṇu, com oito braços, apareceu diante de Dakṣa. O Senhor vestia-Se com roupas amarelas e tinha uma tez enegrecida. Compreendendo que Dakṣa estava muito ansioso por seguir o caminho do desfrute, o Senhor lhe concedeu a potência de desfrutar da energia ilusória. O Senhor lhe ofereceu a filha de Pañcajana chamada Asiknī, que era apropriada para o desfrute sexual de Mahārāja Dakṣa. Na ver­dade, ele recebeu esse nome, Dakṣa, porque era muito hábil na vida sexual. Após conceder esta bênção, o Senhor Viṣṇu desapareceu.

VERSOS 1-2: O abençoado rei disse a Śukadeva Gosvāmī: Meu querido senhor, os semideuses, os demônios, os seres humanos, as Nāgas, as feras e os pássaros foram criados durante o reinado de Svāyambhuva Manu. Falaste brevemente sobre essa criação [no terceiro canto]. Agora, desejo saber sobre isso em pormenores. Também desejo saber sobre a potência da Suprema Personalidade de Deus através da qual Ele efetuou a criação secundária.

VERSO 3: Sūta Gosvāmī disse: Ó grandes sábios [reunidos em Naimiṣāraya], após ouvir a pergunta do rei Parīkṣit, o grande yogī Śukadeva Go­svāmī a louvou e respondeu da seguinte maneira.

VERSO 4: Śukadeva Gosvāmī disse: Ao emergirem das águas, nas quais estavam executando austeridades, os dez filhos de Prācīnabarhi viram que toda a superfície do mundo estava coberta de árvores.

VERSO 5: Por terem se submetido a demoradas austeridades na água, os Pracetās ficaram muito irritados de ver tantas árvores. Desejando reduzi-las a cinzas, produziram vento e fogo de suas bocas.

VERSO 6: Meu querido rei Parīkṣit, quando Soma, o rei das árvores e a dei­dade que predomina a Lua, viu o fogo e o vento reduzindo todas as árvores a cinzas, sentiu muita compaixão porque é o mantenedor de todas as ervas e árvores. Para apaziguar a ira dos Pracetās, Soma falou o seguinte.

VERSO 7: Ó afortunadíssimos, não deveis matar essas pobres árvores reduzindo as mesmas a cinzas. Cabe a vós desejar a prosperidade de todos os cidadãos [prajās] e agir como seus protetores.

VERSO 8: Śrī Hari, a Suprema Personalidade de Deus, é o mestre de todas as entidades vivas, incluindo todos os prajāpatis, tais como o senhor Brahmā. Porque Ele é o mestre onipenetrante e indestrutível, Ele criou todas essas árvores e vegetais para servirem de alimento a outras entidades vivas.

VERSO 9: Pelo arranjo da natureza, as frutas e as flores são consideradas o alimento dos insetos e dos pássaros; a grama e outras entidades vivas destituídas de pés destinam-se à alimentação dos animais de quatro patas, tais como as vacas e o búfalo; os animais que não podem usar suas pernas dianteiras como mãos se destinam a servir de alimento aos animais como os tigres, que têm garras; e os animais que, como o veado e os bodes, têm quatro patas, bem como os grãos alimentícios, destinam-se à alimentação dos seres humanos.

VERSO 10: Ó pessoas de coração puro, Prācīnabarhi, vosso pai, e a Suprema Personalidade de Deus ordenaram-vos que gerásseis população. Portanto, como é que reduzis a cinzas essas árvores e ervas, neces­sárias à manutenção de vossos súditos e descendentes?

VERSO 11: O caminho da bondade trilhado por vosso pai, avô e bisavós é aquele em que se zela pelos súditos [prajās], incluindo homens, animais e árvores. É esse o caminho que deveis seguir. A ira desnecessária contraria o vosso dever. Portanto, peço-vos que controleis vossa raiva.

VERSO 12: Assim como o pai e a mãe são os amigos e mantenedores de seus filhos, assim como a pálpebra é a protetora dos olhos, assim como o esposo é o mantenedor e protetor da esposa, assim como o pai de família é o mantenedor e protetor dos pedintes, e assim como o sábio é amigo dos ignorantes, do mesmo modo, o rei é o protetor de todos os seus súditos, e é ele quem lhes dá vida. As árvores também são súditas do rei. Portanto, elas devem receber proteção.

VERSO 13: Como Superalma, a Suprema Personalidade de Deus situa-Se no âmago do coração de todas as entidades vivas, móveis ou inertes, incluindo homens, pássaros, animais, árvores e, na verdade, todas as entidades vivas. Portanto, deveis considerar todos os corpos como residências ou templos do Senhor. Com essa visão, satisfareis o Senhor. Não deveis ficar irados e matar essas entidades vivas que estão sob a forma de árvores.

VERSO 14: Aquele que busca autorrealização e, dessa maneira, subjuga sua poderosa ira – que costuma despertar subitamente no corpo como se caísse do céu – transcende a influência dos modos da natureza material.

VERSO 15: Não há necessidade de continuardes incinerando essas pobres ár­vores. Deixai que todas as árvores sobreviventes sejam felizes. Na verdade, também deveis ser felizes. Portanto, tendes aqui uma jovem chamada Māriṣā, que é bela e muito bem qualificada e que as árvores criaram como sua própria filha. Deveis aceitar essa bela jovem como vossa esposa.

VERSO 16: Śukadeva Gosvāmī continuou: Meu querido rei, após apaziguar assim os Pracetās, Soma, o rei da Lua, deu-lhes a bela jovem, nascida de Pramlocā Apsarā. Todos os Pracetās receberam a filha de Pramlocā, que tinha quadris belíssimos e elevados, e se casaram com ela de acordo com o sistema religioso.

VERSO 17: No ventre daquela jovem, todos os Pracetās geraram um filho cha­mado Dakṣa, que encheu os três mundos com entidades vivas.

VERSO 18: Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Por favor, ouve com muita atenção enquanto narro como foi que o Prajāpati Dakṣa, que tinha muita afeição por suas filhas, criou, através do seu sêmen e de sua mente, diferentes espécies de entidades vivas.

VERSO 19: Com sua mente, o prajāpati Dakṣa primeiramente criou todas as classes de semideuses, demônios, seres humanos, pássaros, feras, seres aquáticos e assim por diante.

VERSO 20: Contudo, ao perceber que não estava gerando adequadamente todas as espécies de entidades vivas, o prajāpati Dakṣa se aproximou de uma montanha situada perto da cordilheira Vindhya, onde, então, executou austeridades dificílimas.

VERSO 21: Perto dessa montanha, havia um lugar sacratíssimo, chamado Aghamarṣaṇa. Ali, o Prajāpati Dakṣa executou cerimônias ritualísticas e satisfez a Suprema Personalidade de Deus, ocupando-se em grandes austeridades para o prazer de Hari.

VERSO 22: Meu querido rei, eu te explicarei plenamente as orações Haṁsa-­guhya, que foram oferecidas à Suprema Personalidade de Deus por Dakṣa, e também te explicarei como o Senhor ficou satisfeito com ele devido a essas orações.

VERSO 23: O prajāpati Dakṣa disse: A Suprema Personalidade de Deus é transcendental à energia ilusória e às categorias físicas que ela produz. Possui potência de conhecimento infalível e suprema força de von­tade, e Ele é o controlador das entidades vivas e da energia ilusória. As almas condicionadas que aceitaram esta manifestação material como tudo não podem vê-lO, pois Ele está acima do alcance do co­nhecimento experimental. Autoevidente e autossuficiente, nenhuma causa superior responde por Sua existência. Ofereço-Lhe minhas respeitosas reverências.

VERSO 24: Assim como os objetos dos sentidos [forma, paladar, tato, aroma e som] não podem compreender como os sentidos os percebem, do mesmo modo, a alma condicionada, embora resida em seu corpo juntamente com a Superalma, não pode entender como a suprema pessoa espiritual, o mestre da criação material, dirige-lhe os sentidos. Ofereço minhas respeitosas reverências a essa Pessoa Suprema, que é o controlador supremo.

VERSO 25: Porque são apenas matéria, o corpo, os ares vitais, os sentidos internos e externos, os cinco elementos grosseiros e os objetos senso­riais sutis [forma, paladar, aroma, som e tato] não podem conhecer sua própria natureza, a natureza dos outros sentidos ou a natureza de seus controladores. Mas o ser vivo, por causa de sua natureza espiritual, pode conhecer seu corpo, os ares vitais, os sentidos, os elementos e os objetos dos sentidos, e também pode conhecer as três qualidades que formam suas raízes. Entretanto, embora esteja in­teiramente a par deles, o ser vivo é incapaz de ver o Ser Supremo, que é onisciente e ilimitado. Portanto, ofereço-Lhe minhas respei­tosas reverências.

VERSO 26: Quando a consciência de alguém está inteiramente purificada da contaminação da existência material, grosseira e sutil, sem se deixar envolver pela agitação dos estados trabalho e sonho, e quando a mente não se dissolve em situações que lembram suṣupti, o sono pro­fundo, o indivíduo chega à plataforma do transe. Então, sua visão material e as lembranças da mente, que manifestam nomes e formas, são sub­jugadas. Somente ao atingir esse transe é que Se revela a ele a Suprema Personalidade de Deus. Portanto, ofereçamos nossas respeitosas reverências à Suprema Personalidade de Deus, que é visível nesse estado transcendental e incontaminado.

VERSOS 27-28: Assim como, ao cantarem os quinze mantras Sāmidhenī, os grandes brāhmaṇas eruditos, que são hábeis em executar cerimônias ritua­lísticas e sacrifícios, podem extrair da madeira comburente o fogo latente, provando, assim, a eficácia dos mantras védicos, do mesmo modo, aqueles que realmente são de consciência avançada – em outras palavras, aqueles que são conscientes de Kṛṣṇa – podem encontrar a Superalma que, por Sua própria potência espiritual, situa-­Se dentro do coração. O coração está coberto pelos três modos da natureza material e pelos nove elementos materiais [natureza ma­terial, a totalidade da energia material, o ego, a mente e os cinco objetos de gozo dos sentidos], e também pelos cinco elementos materiais e pelos dez sentidos. Esses vinte e sete elementos constituem a energia externa do Senhor. Os grandes yogīs meditam no Senhor, que, como Superalma, Paramātmā, está situado no âmago do coração. Que essa Superalma Se satisfaça comigo. A Superalma é compreendida por aquele que está ansioso por se libertar das ilimi­tadas variedades da vida material. Alcança realmente essa liberação quem se ocupa no transcendental serviço amoroso ao Senhor, e ele pode, então, compreender o Senhor devido à sua atitude de serviço. Alguém pode dirigir-se ao Senhor através de vários nomes espiri­tuais, que são inconcebíveis aos sentidos materiais. Quando essa Su­prema Personalidade de Deus ficará satisfeita comigo?

VERSO 29: Qualquer coisa expressa pelas vibrações materiais, qualquer coisa comprovada pela inteligência material e qualquer coisa experimen­tada pelos sentidos materiais ou inventada pela mente material não passa de uma resultante dos modos da natureza material e, portanto, nada tem a ver com a verdadeira natureza da Suprema Personalida­de de Deus. O Senhor Supremo está além da criação deste mundo material, pois Ele é a fonte das qualidades e da criação materiais. Como a causa de todas as causas, Ele existe antes e depois da criação. Desejo oferecer-Lhe minhas respeitosas reverências.

VERSO 30: Kṛṣṇa, o Brahman Supremo, é o definitivo lugar de repouso e fonte de tudo. Tudo é feito por Ele, tudo Lhe pertence e tudo Lhe é ofe­recido. Ele é o objetivo último, e, quer agindo, quer fazendo os outros agirem, Ele é o autor final. Existem muitas causas, superiores e infe­riores, mas, como Ele é a causa de todas as causas, é conhecido como o Brahman Supremo, que existia antes de todas as atividades. Ele é único e inigualável e não tem outra causa. Portanto, ofereço-Lhe meus respeitos.

VERSO 31: Ofereço minhas respeitosas reverências à onipenetrante Suprema Personalidade de Deus, que possui ilimitadas qualidades transcendentais. Agindo no âmago do coração de todos os filóso­fos, que defendem vários pontos de vista, Ele faz com que se es­queçam de suas próprias almas enquanto ora concordam em suas opiniões, ora discordam entre si. Assim, Ele cria dentro deste mundo material uma situação na qual eles são incapazes de chegar a uma conclusão. Ofereço-Lhe minhas reverências.

VERSO 32: Existem dois grupos – a saber, os teístas e os ateístas. O teísta, que aceita a Superalma, encontra a causa espiritual através do yoga místico. O sāṅkhyite, entretanto, que meramente analisa os elementos materiais, chega a uma conclusão impersonalista e não aceita uma causa suprema – quer seja Bhagavān, quer Paramātmā, quer mesmo Brahman. Ao contrário, interessam-lhe as supérfluas atividades externas vistas na natureza material. Em última análise, contudo, ambos os grupos demonstram a Verdade Absoluta porque, embora ofereçam argumentos opostos, seu objetivo se concentra na mesmís­sima causa definitiva. Ambos estão se aproximando do mesmo Brahman Supremo, a quem ofereço minhas respeitosas reverências.

VERSO 33: A Suprema Personalidade de Deus, que é inconcebivelmente opu­lento, que é desprovido de todos os nomes, formas e passatempos materiais, e que é onipenetrante, é especialmente misericordioso com os devotos que adoram Seus pés de lótus. Assim, em Seus diferentes passatempos, Ele manifesta formas e nomes transcenden­tais. Que essa Suprema Personalidade de Deus, cuja forma é eterna e plena de conhecimento e bem-aventurança, tenha misericórdia de mim.

VERSO 34: Assim como o ar transporta várias características dos elementos físicos, tais como o aroma de uma flor ou as cores resultantes da mistura de poeira no ar, o Senhor, de acordo com os desejos de alguém, aparece através dos sistemas inferiores de adoração, embo­ra Ele apareça como os semideuses e não sob Sua forma original. De que adiantam essas outras formas? Que a original Suprema Perso­nalidade de Deus seja bondoso e realize os meus desejos.

VERSOS 35-39: Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Hari, a Suprema Personalidade de Deus, que é extremamente afetuoso com Seus devotos, ficou muito satisfeito com as orações oferecidas por Dakṣa e, dessa maneira, apareceu naquele lugar sagrado conhecido como Aghamarṣaṇa. Ó Mahārāja Parīkṣit, melhor da dinastia Kuru, os pés de lótus do Senhor repousavam nos ombros do Seu carregador, Garuḍa, e Ele apareceu com Seus oito longos braços poderosos e belíssimos. Em Suas mãos, portava um disco, um búzio, uma espada, um escudo, uma flecha, um arco, uma corda e uma maça – em cada mão, uma arma dife­rente, todas estas reluzindo com imenso esplendor. Suas roupas eram amarelas, e a tez de Seu corpo era azul escura. Seus olhos e Seu rosto eram muito encantadores, e, de Seu pescoço até Seus pés, pendia uma enorme guirlanda de flores. Seu peito estava decorado com a joia Kaustubha e com a marca Śrīvatsa. Sobre Sua cabeça, havia um esplêndido elmo arredondado, e Suas orelhas estavam ornadas com brincos em forma de tubarões. Todos esses adornos tinham uma be­leza incomum. O Senhor usava um cinto de ouro, braceletes, anéis e sinos de tornozelo. Decorado, então, com esses vários adornos, o Senhor Hari, que é atrativo para todas as entidades vivas dos três mundos, é conhecido como Puruṣottama, a melhor entre todas as personalidades. Acompanhavam-nO grandes devotos, tais como Nārada, Nanda e todos os principais semideuses, encabeçados por Indra, o rei celes­tial, e os habitantes de vários sistemas planetários superiores, tais como Siddhaloka, Gandharvaloka e Cāraṇaloka. Ficando de ambos os lados do Senhor e atrás dEle também, esses devotos não paravam de oferecer-Lhe orações.

VERSO 40: Vendo essa maravilhosa e refulgente forma da Suprema Personalidade de Deus, Prajāpati Dakṣa primeiramente ficou um pouco amedrontado, mas depois se mostrou muito satisfeito de ver o Senhor e, como uma vara, caiu ao solo para ofere­cer seus respeitos ao Senhor.

VERSO 41: Assim como os rios ficam repletos de água que corre de uma mon­tanha, todos os sentidos de Dakṣa se encheram de prazer. Devido à sua felicidade imensa, Dakṣa nada podia dizer, senão que simplesmente permanecia estendido no solo.

VERSO 42: Embora o Prajāpati Dakṣa não conseguisse dizer nada, quando o Senhor, que conhece o coração de todos, viu Seu devoto prostrado daquela maneira, dirigiu-lhe as seguintes palavras, pois este desejava aumentar a população.

VERSO 43: A Suprema Personalidade de Deus disse: Ó afortunadíssimo Prā­cetasa, devido à tua grande fé em Mim, alcançaste o supremo êx­tase devocional. Na verdade, em razão de tuas austeridades, acrescidas da tua grande devoção, tua vida agora é exitosa. Atingiste a perfeição plena.

VERSO 44: Meu querido prajāpati Dakṣa, para o bem-estar e progresso do mundo, executaste austeridades extremas. Também é Meu desejo que todos dentro deste mundo sejam felizes. Portanto, estou muito satisfeito contigo porque estás te esforçando para satisfazer Meu desejo de trazer bem-estar ao mundo inteiro.

VERSO 45: O senhor Brahmā, o senhor Śiva, os Manus, todos os outros semideuses nos sistemas planetários superiores, e vós, os prajāpatis, que aumentais a população, estais trabalhando para o benefício de todas as entidades vivas. Assim, vós, expansões da Minha energia marginal, sois encarnações de Minhas várias qualidades.

VERSO 46: Meu querido brāhmana, a austeridade sob a forma de meditação é o Meu coração, o conhecimento védico sob a forma dos hinos e mantras constitui Meu corpo, e as atividades espirituais e emoções extáticas são Minha verdadeira forma. As cerimônias ritualísticas e sacrifícios, quando apropriadamente conduzidos, são os vários membros do Meu corpo, a invisível boa fortuna decorrente das atividades piedosas ou espirituais constitui Minha mente, e os semi­deuses que, em vários departamentos, executam Minhas ordens, são Minha vida e alma.

VERSO 47: Antes da criação desta manifestação cósmica, Eu existia sozinho com Minhas potências espirituais. A consciência, então, estava imanifesta, assim como a consciência fica imanifesta durante o sono.

VERSO 48: Eu sou o reservatório de potência ilimitada e, portanto, sou conhecido como ilimitado ou onipenetrante. A partir de Minha energia material, a manifestação cósmica apareceu dentro de Mim, e, nessa manifestação universal, surgiu o ser principal, o senhor Brahmā, que é tua fonte e não nasce de uma mãe material.

VERSOS 49-50: Quando, inspirado por Minha energia, o principal senhor do universo, o senhor Brahmā [Svayambhū], tentava criar, viu-se in­capaz de fazê-lo. Portanto, ofereci-lhe alguns conselhos e, de acordo com as Minhas instruções, submeteu-se a austeridades extremamente di­fíceis. Devido a essas austeridades, o grande senhor Brahmā foi capaz de criar nove personalidades para ajudá-lo nas funções da criação, e estás incluído entre elas.

 VERSO 51: Ó Meu querido filho Dakṣa, o Prajāpati Pañcajana tem uma filha chamada Asiknī, a qual te ofereço para que a aceites como tua esposa.

VERSO 52: Portanto, como homem e mulher, uni-vos através da atividade sexual e, dessa maneira, através da relação sexual, serás capaz de gerar centenas de filhos no ventre dessa jovem para aumentar a população.

VERSO 53: Após gerares muitas centenas e milhares de filhos, eles também se deixarão cativar por Minha energia ilusória e, como tu, eles se ocuparão em vida sexual ativa. Porém, devido à Minha misericórdia contigo e com eles, também serão capazes de trazer presentes em devoção a Mim.

VERSO 54: Śukadeva Gosvāmī continuou: Depois que o criador de todo o universo, a Suprema Personalidade de Deus, Hari, falou dessa maneira na presença do prajāpati Dakṣa, desapareceu imediatamente, como se fosse um objeto experimentado em sonho.

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