VERSOS 32-33
yathaikātmyānubhāvānāṁ
vikalpa-rahitaḥ svayam
bhūṣaṇāyudha-liṅgākhyā
dhatte śaktīḥ sva-māyayā
tenaiva satya-mānena
sarva-jño bhagavān hariḥ
pātu sarvaiḥ svarūpair naḥ
sadā sarvatra sarva-gaḥ
yathā — assim como; aikātmya — em termos de unidade manifesta em variedades; anubhāvānām — daqueles que pensam; vikalpa-rahitaḥ — a ausência de diferenças; svayam — Ele próprio; bhūṣaṇa — enfeites; āyudha — armas; liṅga-ākhyāḥ — características e diferentes nomes; dhatte — possui; śaktīḥ — potências como riqueza, influência, força, conhecimento, beleza e renúncia; sva-māyayā — expandindo Sua energia espiritual; tena eva — através desta; satya-mānena — verdadeira compreensão; sarva-jñaḥ — onisciente; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; hariḥ — que pode afastar toda a ilusão das entidades vivas; pātu — que Ele proteja; sarvaiḥ — com todas; sva-rūpaiḥ — as Suas formas; naḥ — a nós; sadā — sempre; sarvatra — em toda parte; sarva-gaḥ — que é onipenetrante.
A Suprema Personalidade de Deus, as entidades vivas, a energia material, a energia espiritual e a criação inteira são todos entidades individuais. Em última análise, entretanto, juntos, eles constituem o supremo único, a Personalidade de Deus. Portanto, aqueles que são avançados em conhecimento espiritual veem a unidade na diversidade. Para essas pessoas avançadas, os ornamentos corpóreos, o nome, a fama, os atributos e as formas do Senhor, bem como as armas que porta em Sua mão, são manifestações da força de Sua potência. De acordo com a elevada compreensão espiritual que alcançaram, depreendem que o Senhor onisciente, que manifesta várias formas, está presente em toda parte. Que Ele nos proteja de todas as calamidades, onde quer que estejamos.
SIGNIFICADO—A pessoa bem elevada em conhecimento espiritual sabe que tudo o que existe está relacionado com a Suprema Personalidade de Deus. Isso também é confirmado na Bhagavad-gītā (9.4), onde o Senhor Kṛṣṇa diz que mayā tatam idaṁ sarvam, indicando que tudo o que vemos é uma expansão de Sua energia. Corrobora isso o Viṣṇu Purāṇa (1.22.52):
eka-deśa-sthitasyāgner
jyotsnā vistāriṇī yathā
parasya brahmaṇaḥ śaktis
tathedam akhilaṁ jagat
Assim como o fogo, embora esteja em um determinado lugar, pode expandir sua luz e calor por toda parte, do mesmo modo, através de Suas várias energias, o Senhor onipotente, a Suprema Personalidade de Deus, embora situado em Sua morada espiritual, expande-Se por todas as regiões dos mundos material e espiritual. Uma vez que tanto a causa quanto o efeito são o Senhor Supremo, não há diferença entre causa e efeito. Por conseguinte, os adornos e as armas do Senhor, sendo expansões de Sua energia espiritual, não são diferentes dEle. Não há diferença entre o Senhor e Suas variadas energias manifestas. Também confirma isso o Padma Purāṇa:
nāma cintāmaṇiḥ kṛṣṇaś
caitanya-rasa-vigrahaḥ
pūrṇaḥ śuddho nitya-mukto
’bhinnatvān nāma-nāminoḥ
O santo nome do Senhor é idêntico ao Senhor por completo, e não parcialmente. A palavra pūrṇa significa “completo”. O Senhor é onipotente e onisciente, e, assim também, Seu nome, forma, qualidades, parafernália e tudo referente a Ele é completo, puro, eterno e livre da contaminação material. A oração aos adornos e transportadores do Senhor não é infundada, pois eles estão no mesmo nível que o Senhor. Como o Senhor é onipenetrante, Ele existe em tudo, e tudo existe nEle. Portanto, mesmo a adoração às armas ou aos adornos do Senhor tem a mesma potência que a adoração ao Senhor. Os māyāvādīs se recusam a aceitar a forma do Senhor, ou dizem que a forma do Senhor é māyā, falsa, mas se deve notar muito cuidadosamente que isso não é aceitável. Embora a forma original do Senhor e Sua expansão impessoal sejam unas, o Senhor mantém eternamente Sua forma, qualidades e morada. Portanto, essa oração diz que pātu sarvaiḥ svarūpair naḥ sadā sarvatra sarva-gaḥ: “Possa o Senhor, que é onipenetrante em Suas várias formas, proteger-nos em toda parte.” Através do Seu nome, forma, qualidades, atributos e parafernália, o Senhor sempre está presente em toda parte, e todos eles têm igual poder para proteger os devotos. Śrīla Madhvācārya explica isso da seguinte maneira:
eka eva paro viṣṇur
bhūṣāheti dhvajeṣv ajaḥ
tat-tac-chakti-pradatvena
svayam eva vyavasthitaḥ
satyenānena māṁ devaḥ
pātu sarveśvaro hariḥ