VERSO 6
ahaṁ tv akāmas tvad-bhaktas
tvaṁ ca svāmy anapāśrayaḥ
nānyathehāvayor artho
rāja-sevakayor iva
aham — no que me diz respeito; tu — na verdade; akāmaḥ — sem desejo material; tvat-bhaktaḥ — plenamente apegado a Vós e sem motivação; tvam ca — Vossa Onipotência também; svāmī — o mestre verdadeiro; anapāśrayaḥ — sem motivação (não Vos tornais o mestre só porque tendes alguma motivação); na — não; anyathā — sem estar nessa relação de mestre e servo; iha — aqui; āvayoḥ — nossa; arthaḥ — nenhuma motivação (o Senhor é o mestre puro, e Prahlāda Mahārāja é o devoto puro, desprovido de motivação materialista); rāja — de um rei; sevakayoḥ — e do servo; iva — como (assim como um rei cobra impostos para o benefício do servo ou os cidadãos pagam impostos para o benefício do rei).
Ó meu Senhor, sou Vosso servo imotivado, e sois meu mestre eterno. Não há necessidade de sermos algo diferente de mestre e servo. Sois naturalmente meu mestre, e sou naturalmente Vosso servo. Não temos nenhuma outra relação.
SIGNIFICADO—Śrī Caitanya Mahāprabhu disse que jīvera ‘svarūpa’ haya — kṛṣṇera ‘nitya-dāsa’: todo ser vivo é um servo eterno do Senhor Supremo, Kṛṣṇa. Na Bhagavad-gītā (5.29), o Senhor Kṛṣṇa afirma que bhoktāraṁ yajña-tapasāṁ sarva-loka-maheśvaram: “Sou o proprietário de todos os planetas, e sou o desfrutador supremo.” Essa é a posição natural do Senhor, e a posição natural do ser vivo é se render a Ele (sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja). Então, se essa relação continua, existe eternamente uma verdadeira felicidade entre mestre e servo. Infelizmente, quando essa relação é rompida, a entidade viva quer tornar-se feliz separadamente e pensa que o mestre é seu criado. Dessa maneira, não pode haver felicidade. Tampouco deve o mestre ceder ao desejo do servo. Caso ceda, ele não será um mestre verdadeiro. O mestre verdadeiro ordena: “Deves fazer isso”, e o verdadeiro servo imediatamente lhe obedece. Enquanto não se estabelecer essa relação entre o Senhor Supremo e a entidade viva subordinada, não poderá haver verdadeira felicidade. A entidade viva é āśraya, sempre subordinada, e a Suprema Personalidade de Deus é viṣaya, o objetivo supremo, a meta da vida. As pessoas desafortunadas, aprisionadas neste mundo material, não sabem disso. Na te viduḥ svārtha-gatiṁ hi viṣṇum: iludidos pela energia material, todos neste mundo material ignoram que a única meta da vida é a pessoa se aproximar do Senhor Viṣṇu.
ārādhanānāṁ sarveṣāṁ
viṣṇor ārādhanaṁ param
tasmāt parataraṁ devi
tadīyānāṁ samarcanam
No Padma Purāṇa, o senhor Śiva explica à sua esposa Parvatī, a deusa Durgā, que a meta máxima da vida é satisfazer o Senhor Viṣṇu, que apenas Se satisfaz quando o Seu servo fica satisfeito. Śrī Caitanya Mahāprabhu, portanto, ensina que gopī-bhartuḥ pada-kamalayor dāsa-dāsānudāsaḥ. Todos devem tornar-se servos do servo. Prahlāda Mahārāja também orou ao Senhor Nṛsiṁhadeva que lhe fosse concedido ocupar-se como um servo do servo do Senhor. Esse é o método prescrito do serviço devocional. Logo que o devoto deseja que a Suprema Personalidade de Deus seja seu criado, o Senhor imediatamente Se recusa a se tornar o mestre desse devoto interesseiro. Na Bhagavad-gītā (4.11), o Senhor diz que ye yathā māṁ prapadyante tāṁs tathaiva bhajāmy aham: “A todos os que se rendem a Mim, Eu recompenso de acordo.” De um modo geral, as pessoas materialistas querem obter lucros materiais. Enquanto alguém permanecer nessa posição adulterada, não receberá o benefício de retornar ao lar, de retornar ao Supremo.