No edit permissions for Português

CAPÍTULO DEZ

Prahlāda, o Melhor e Mais Sublime Devoto

Este capítulo descreve como a Suprema Personalidade de Deus Nṛsiṁhadeva desapareceu após agradar Prahlāda Mahārāja. Também descreve uma bênção dada pelo senhor Śiva.

O Senhor Nṛsiṁhadeva quis conceder a Prahlāda Mahārāja consecutivas bênçãos, mas Prahlāda Mahārāja, julgando-as um empecilho ao progresso espiritual, não aceitou nenhuma delas. Ao contrário, ele se rendeu plenamente aos pés de lótus do Senhor. Ele disse: “Se alguém que está ocupado no serviço devocional ao Senhor ora pedindo o gozo de seus próprios sentidos, ele não pode ser chamado de devoto puro, ou talvez nem mesmo de devoto. Ele pode ser considerado apenas um comerciante ocupado em fazer negócios. Do mesmo modo, o mestre que quer satisfazer seu servo após receber o serviço por este prestado não é um mestre de verdade.” Prahlāda Mahārāja, portanto, nada pediu à Suprema Personalidade de Deus. Em vez disso, ele disse que, se o Senhor quisesse lhe dar alguma bênção, desejava que o Senhor o assegurasse de que ele jamais seria induzido a aceitar quaisquer bênçãos com as quais pudesse satisfazer desejos materiais. Muitas vezes, é possível vermos o serviço devocional sendo executado com desejos luxuriosos. Logo que os desejos luxuriosos despontam, os sentidos, a mente, a vida, a alma, os princípios religiosos, a tolerância, a inteligência, o recato, a beleza, a força, a memória e a veracidade da pessoa se esvaem. Pode prestar serviço devocional impoluto somente aquele que não guarda desejos materiais em sua mente.

A Suprema Personalidade de Deus ficou muito satisfeita com Prahlāda Mahārāja devido à imaculada devoção deste, mas o Senhor lhe deu uma bênção material – de que ele seria perfeitamente feliz neste mundo e de que, em sua próxima vida, estaria em Vaikuṇṭha. O Senhor lhe deu a bênção de que ele seria o rei deste mundo material até o final do milênio manvantara e que, embora estivesse neste mundo material, teria as facilidades necessárias para ouvir as glórias do Senhor e depender plenamente do Senhor prestando-Lhe serviço através do bhakti-yoga puro. O Senhor aconselhou Prahlāda a que executasse sacrifícios através do bhakti-yoga, visto que esse é o dever de um rei.

Prahlāda Mahārāja aceitou tudo o que o Senhor lhe oferecera e orou ao Senhor que libertasse o seu pai. Em resposta a essa oração, o Senhor lhe assegurou que, na família de um devoto tão puro como ele, não apenas o pai do devoto, mas também os antepassados que estão incluídos nas últimas vinte e uma gerações, libertam-se. O Senhor também pediu que Prahlāda executasse as cerimônias ritualísticas apropriadas pela morte de seu pai.

Então, o senhor Brahmā, que também estava presente, ofereceu muitas orações ao Senhor, expressando seu agradecimento ao Senhor devido ao fato de Este ter oferecido bênçãos a Prahlāda Mahārāja. O Senhor aconselhou o senhor Brahmā a não oferecer bênçãos aos asuras, pois, do mesmo modo como acontecera com Hiraṇyakaśipu, eles usariam essas bênçãos de maneira viciosa. Foi então que o Senhor Nṛsiṁhadeva desapareceu. Naquele dia, o senhor Brahmā e Śukrācārya instalaram Prahlāda Mahārāja no trono do mundo.

Assim, Nārada Muni descreveu a Yudhiṣṭhira Mahārāja o caráter de Prahlāda Mahārāja e, em continuação, narrou o episódio em que o Senhor Rāmacandra mata Rāvaṇa e a morte de Śiśupāla e Dantavakra em Dvāpara-yuga. Śiśupāla, evidentemente, imergiu na existência do Senhor e, com isso, alcançou sāyujya-mukti. Nārada Muni louvou Yudhiṣṭhira Mahārāja porque Kṛṣṇa, o Senhor Supremo, era o maior amigo e benquerente dos Pāṇḍavas e quase sempre permanecia na casa deles. Portanto, a fortuna dos Pāṇḍavas era maior do que a de Prahlāda Mahārāja.

Mais tarde, Nārada Muni descreveu como o demônio Maya Dānava construiu Tripura para os demônios, que se tornaram muito poderosos e derrotaram os semideuses. Devido a essa derrota, o senhor Rudra, Śiva, destroçou Tripura; assim, ele ficou amplamente conhecido como Tripurāri. Devido a essa atitude, Rudra é muito apreciado e adorado pelos semideuses. Essa narração ocorre no final do capítulo.

VERSO 1: O santo Nārada Muni continuou: Embora Prahlāda Mahārāja fosse apenas um menino, ao ouvir as bênçãos oferecidas pelo Senhor Nṛsiṁhadeva, considerou-as um empecilho ao caminho do serviço devocional. Então, sorriu com muita meiguice e falou o seguinte.

VERSO 2: Prahlāda Mahārāja disse: Meu querido Senhor, ó Suprema Personalidade de Deus, porque nasci em família ateísta, minha natureza me impele ao gozo material. Portanto, por favor, não me tenteis com essas ilusões. Estou muito temeroso das condições materiais e desejo libertar-me da vida materialista. Foi por essa razão que me refugiei em Vossos pés de lótus.

VERSO 3: Ó meu adorável Senhor, porque a semente dos desejos luxuriosos, a qual é a causa básica da existência material, está no âmago do coração de todos, Vós me enviastes a este mundo material para que eu manifestasse as características de um devoto puro.

VERSO 4: Caso contrário, ó meu Senhor, ó instrutor supremo do mundo inteiro, sois tão bondoso com Vosso devoto que não poderíeis induzi-lo a fazer algo que não lhe seja benéfico. Por outro lado, alguém que, em troca do serviço devocional, deseja algum benefício material, não pode ser Vosso devoto puro. Na verdade, ele não é melhor do que um mercador que quer lucrar com o seu serviço.

VERSO 5: O servo que deseja lucros materiais de seu amo decerto não é um servo qualificado ou um devoto puro. Do mesmo modo, o mestre que outorga bênçãos ao seu servo devido ao desejo de manter uma prestigiosa posição de mestre também não é um mestre puro.

VERSO 6: Ó meu Senhor, sou Vosso servo imotivado, e sois meu mestre eterno. Não há necessidade de sermos algo diferente de mestre e servo. Sois naturalmente meu mestre, e sou naturalmente Vosso servo. Não temos nenhuma outra relação.

VERSO 7: Ó meu Senhor, sois o melhor dos outorgadores de bênçãos, e se realmente quiserdes conceder-me uma bênção desejável, então, oro à Vossa Onipotência que, no âmago do meu coração, não haja desejos materiais.

VERSO 8: Ó meu Senhor, devido aos desejos luxuriosos, desde o nascimento de alguém, as funções dos seus sentidos, sua mente, vida, corpo, religião, tolerância, inteligência, recato, opulência, força, memória e veracidade perecem.

VERSO 9: Ó meu Senhor, quando o ser humano é capaz de abandonar todos os desejos materiais que existem em sua mente, ele se habilita a possuir riquezas e opulências tais como as Vossas.

VERSO 10: Ó meu Senhor, pleno de seis opulências, ó Pessoa Suprema! Ó Alma Suprema, Vós exterminais todos os sofrimentos! Ó Pessoa Suprema sob a forma de um maravilhoso homem e leão, ofereço-Vos minhas respeitosas reverências.

VERSO 11: A Suprema Personalidade de Deus disse: Meu querido Prahlāda, um devoto como tu jamais deseja alguma espécie de opulência material, seja nesta vida, seja na próxima. Entretanto, ordeno que desfrutes das opulências dos demônios deste mundo material, agindo como rei deles até que expire o período concedido a Manu.

VERSO 12: Não importa que estejas no mundo material. Sempre e continuamente, deves ouvir as instruções e mensagens dadas por Mim e absorver-te em pensar em Mim, pois sou a Superalma presente no âmago de todos os corações. Portanto, abandona as atividades fruitivas e adora-Me.

VERSO 13: Meu querido Prahlāda, enquanto estiveres neste mundo material, esgotarás todas as reações das atividades piedosas, sentindo felicidade, e, agindo piedosamente, neutralizarás as atividades ímpias. Devido ao poderoso fator tempo, abandonarás o teu corpo, mas as glórias de tuas atividades serão cantadas nos sistemas planetários superiores e, inteiramente livre de todo o cativeiro, retornarás ao lar, retornarás ao Supremo.

VERSO 14: Alguém que sempre se lembra das tuas e das Minhas atividades, e que canta as orações que acabaste de oferecer, livra-se das reações das atividades materiais no devido curso do tempo.

VERSOS 15-17: Prahlāda Mahārāja disse: Ó Senhor Supremo, porque sois tão misericordioso com as almas caídas, peço-Vos apenas uma bênção. Sei que, na hora de sua morte, meu pai foi purificado ao receber Vosso olhar, mas, como ignorava Vosso extraordinário poder e supremacia, ele desnecessariamente ficou irado contra Vós, pensando que fostes Vós quem matou o seu irmão. Por isso, ele blasfemou diretamente Vossa Onipotência, o mestre espiritual de todos os seres vivos, e cometeu graves atividades pecaminosas contra mim, Vosso devoto. Desejo que lhe sejam perdoadas essas atividades pecaminosas.

VERSO 18: A Suprema Personalidade de Deus disse: Meu querido Prahlāda, ó puríssimo, ó santíssimo, juntamente com vinte e um antepassados de tua família, teu pai se purificou. Como nasceste nesta família, toda a dinastia se purificou.

VERSO 19: Sempre e onde quer que haja devotos equânimes e pacíficos, que possuem bom comportamento e são decorados com todas as boas qualidades, o lugar e as dinastias ali existentes, mesmo que condenados, purificam-se.

VERSO 20: Meu querido Prahlāda, rei dos Daityas, porque está apegado ao serviço devocional a Mim, Meu devoto não discrimina entre entidades vivas superiores e inferiores. Em todos os sentidos, ele nunca tem inveja de ninguém.

VERSO 21: Aqueles que seguem o teu exemplo naturalmente se tornarão Meus devotos puros. És o Meu devoto exemplar, e cabe aos demais seguirem os teus passos.

VERSO 22: Meu querido filho, teu pai já se purificou através do simples fato de ter recebido o contato do Meu corpo na hora de sua morte. Entretanto, cabe ao filho executar em prol do pai a cerimônia ritualística fúnebre śrāddha para que seu pai possa ser promovido a um sistema planetário onde ele se torne um bom cidadão e devoto.

VERSO 23: Após executar as cerimônias ritualísticas, encarrega-te do reino do teu pai. Senta-te no trono e não te deixes perturbar com as atividades materialistas. Por favor, mantém tua mente fixa em Mim. Sem transgredir os preceitos védicos, podes realizar teus deveres específicos por uma questão de formalidade.

VERSO 24: Śrī Nārada Muni prosseguiu: Então, como a Suprema Personalidade de Deus ordenara, Prahlāda Mahārāja executou as cerimônias ritualísticas em consideração a seu pai. Ó rei Yudhiṣṭhira, ele foi então entronizado no reino de Hiraṇyakaśipu, conforme as diretrizes traçadas pelos brāhmaṇas.

VERSO 25: O senhor Brahmā, rodeado pelos outros semideuses, tinha o rosto radiante porque o Senhor estava satisfeito. Então, com palavras transcendentais, ele ofereceu orações ao Senhor.

VERSO 26: O senhor Brahmā disse: Ó Supremo Senhor de todos os senhores, proprietário do universo inteiro, ó benfeitor de todas as entidades vivas, ó pessoa original [ādi-puruṣa], devido à nossa boa fortuna, acabastes de matar esse demônio pecaminoso, que estava causando problemas a todo o universo.

VERSO 27: Este demônio, Hiraṇyakaśipu, recebeu de mim a bênção de que ele não seria morto por nenhum ser vivo dentro de minha criação. Com essa garantia e com a força adquirida através de austeridades e poderes místicos, ele se tornou excessivamente orgulhoso e transgrediu todos os preceitos védicos.

VERSO 28: Devido à sua grande ventura, Prahlāda Mahārāja, filho de Hiraṇyakaśipu, livrou-se da morte, pois, embora seja uma criança, ele é um devoto sublime. Agora, ele está completamente protegido por Vossos pés de lótus.

VERSO 29: Meu querido Senhor, ó Suprema Personalidade de Deus, sois a Alma Suprema. Se alguém medita em Vosso corpo transcendental, Vós naturalmente o protegeis de todas as circunstâncias amedrontadoras, inclusive do perigo da morte iminente.

VERSO 30: A Suprema Personalidade de Deus respondeu: Meu querido senhor Brahmā, ó ilustre cavalheiro nascido da flor de lótus, assim como é perigoso alimentar uma serpente com leite, é perigoso dar bênçãos a demônios que, por natureza, são cruéis e invejosos. Aconselho-te a que não voltes a conceder semelhantes bênçãos a demônio algum.

VERSO 31: Nārada Muni continuou: Ó rei Yudhiṣṭhira, a Suprema Personalidade de Deus, que não é visível ao ser humano comum, falou essas palavras, instruindo o senhor Brahmā. Então, sendo adorado por Brahmā, o Senhor desapareceu daquele lugar.

VERSO 32: Prahlāda Mahārāja, então, adorou todos os semideuses, tais como Brahmā, Śiva e os prajāpatis, que são partes do Senhor, e lhes ofereceu orações.

VERSO 33: Em seguida, juntamente com Śukrācārya e outros grandes santos, o senhor Brahmā, cujo assento é a flor de lótus, constituiu Prahlāda o rei de todos os demônios e gigantes do universo.

VERSO 34: Ó rei Yudhiṣhira, depois que foram devidamente adorados por Prahlāda Mahārāja, todos os semideuses, encabeçados pelo senhor Brahmā, ofereceram a Prahlāda suas melhores bênçãos e, então, retornaram a suas respectivas moradas.

VERSO 35: Assim, os dois associados do Senhor Viṣṇu que tinham se tornado Hiraṇyākṣa e Hiraṇyakaśipu, os filhos de Diti, foram mortos. Devido à ilusão, eles haviam pensado que o Senhor Supremo, que está situado no coração de todos, era inimigo deles.

VERSO 36: Porque foram amaldiçoados pelos brāhmaṇas, os dois mesmíssimos associados voltaram a nascer como Kumbhakarṇa e o Rāvaṇa de dez cabeças. Esses dois Rākṣasas foram mortos pelo extraordinário poder do Senhor Rāmacandra.

VERSO 37: Trespassados pelas flechas do Senhor Rāmacandra, Kumbhakarṇa e Rāvaṇa caíram ao solo e abandonaram seus corpos, completamente absortos em pensar no Senhor, assim como anteriormente lhes acontecera quando haviam sido Hiraṇyākṣa e Hiraṇyakaśipu.

VERSO 38: Voltando ambos a nascer na sociedade humana como Śiśupāla e Dantavakra, continuaram a manter a mesma hostilidade contra o Senhor. Foram eles que, na tua presença, imergiram no corpo do Senhor.

VERSO 39: Não apenas Śiśupāla e Dantavakra, mas também muitos e muitos outros reis que atuaram como inimigos de Kṛṣṇa, alcançaram a salvação na ocasião da morte. Como pensavam no Senhor, eles receberam corpos e formas iguais aos dEle, assim como os vermes capturados pelo zangão negro obtêm a mesma espécie de corpo do zangão.

VERSO 40: Através do serviço devocional, os devotos puros que pensam incessantemente na Suprema Personalidade de Deus recebem corpos semelhantes ao dEle. Isso é conhecido como sārūpya-mukti. Embora Śiśupāla, Dantavakra e outros reis pensassem em Kṛṣṇa como seu inimigo, eles também alcançaram o mesmo resultado.

VERSO 41: Tudo o que me perguntaste a respeito do fato de Śiśupāla e outros terem alcançado a salvação embora fossem inimigos, acabo de te explicar.

VERSO 42: Nesta narração acerca de Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, descreveram-se várias expansões ou encarnações do Senhor, bem como a morte dos dois demônios Hiraṇyākṣa e Hiraṇyakaśipu.

VERSOS 43-44: Esta narração descreve as características do grande e sublime devoto Prahlāda Mahārāja, seu firme serviço devocional, seu conhecimento perfeito e seu completo desapego da contaminação material. Descreve também a Suprema Personalidade de Deus como a causa da criação, manutenção e aniquilação. Em suas orações, Prahlāda Mahārāja delineia as qualidades transcendentais do Senhor e também expõe como as várias moradas dos semideuses e demônios, sem considerações por qual seja sua opulência material, são destruídas pela simples resolução do Senhor.

VERSO 45: Os princípios religiosos por meio dos quais se pode verdadeiramente compreender a Suprema Personalidade de Deus são chamados bhāgavata-dharma. Nesta narração, portanto, que trata desses princípios, descreve-se apropriadamente a transcendência legítima.

VERSO 46: Aquele que ouve e glorifica esta narração sobre a onipotência de Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu, com certeza se libertará impreterivelmente do cativeiro material.

VERSO 47: Prahlāda Mahārāja foi o melhor entre os devotos elevados. Todo aquele que, com muita atenção, ouve esta narração referente às atividades de Prahlāda Mahārāja, ao extermínio imposto a Hiraṇyakaśipu e onde se proclamam as atividades da Suprema Personalidade de Deus, Nṛsiṁhadeva, seguramente alcançará o mundo espiritual, onde não existe ansiedade.

VERSO 48: Nārada Muni continuou: Meu querido Mahārāja Yudhiṣṭhira, todos vós [os Pāṇḍavas] sois extremamente afortunados, pois, tal qual um ser humano, Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, vive em vosso palácio. As grandes pessoas santas sabem disso muito bem e, portanto, elas sempre visitam esta casa.

VERSO 49: O Brahman impessoal é o próprio Kṛṣṇa porque Kṛṣṇa é a fonte do Brahman impessoal. Embora Ele seja a origem da bem-aventurança transcendental que as grandes pessoas santas buscam, ainda assim, Ele, a Pessoa Suprema, é teu mais querido amigo e constante benquerente e está intimamente relacionado contigo como filho do teu tio materno. De fato, Ele é sempre como teu corpo e alma. Ele é adorável, mas Ele age como teu servo e, às vezes, como teu mestre espiritual.

VERSO 50: Pessoas insignes como o senhor Śiva e o senhor Brahmā não conseguem fazer a devida descrição da verdade referente à Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa. Que o Senhor, sempre adorado como o protetor de todos os devotos pelos grandes santos que observam votos de silêncio, meditação, serviço devocional e renúncia, satisfaça-Se conosco.

VERSO 51: Meu querido rei Yudhiṣṭhira, há um tempo muito remoto, um demônio chamado Maya Dānava, que era muito perito em conhecimento técnico, reduziu a reputação do senhor Śiva. Foi então que Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, salvou o senhor Śiva.

VERSO 52: Mahārāja Yudhiṣṭhira disse: Por que razão o demônio Maya Dānava denegriu a reputação do senhor Śiva? Como foi que o Senhor Kṛṣṇa salvou o senhor Śiva e voltou a expandir sua reputação? Por favor, descreve esses incidentes.

VERSO 53: Nārada Muni disse: Quando os semideuses, que são sempre poderosos devido à misericórdia do Senhor Kṛṣṇa, lutaram com os asuras, esses foram derrotados e, portanto, refugiaram-se em Maya Dānava, o maior dos demônios.

VERSOS 54-55: Maya Dānava, o grande líder dos demônios, preparou três residências invisíveis e as concedeu aos demônios. Essas moradias assemelhavam-se a aeroplanos feitos de ouro, prata e ferro, e continham uma parafernália incomum. Meu querido rei Yudhiṣṭhira, devido a essas três moradias, os comandantes dos demônios ficaram invisíveis aos semideuses. Aproveitando-se dessa oportunidade, os demônios, lembrando-se de sua antiga inimizade, passaram a subjugar os três mundos – os sistemas planetários superiores, intermediários e inferiores.

VERSO 56: Depois disso, quando os demônios haviam começado a destruir os sistemas planetários superiores, os governantes daqueles planetas foram ter com o senhor Śiva e, plenamente rendidos a ele, disseram: Querido senhor, nós, os semideuses que vivemos nos três mundos, estamos prestes a nos encontrarmos com a derrota. Somos teus seguidores. Por favor, salva-nos.

VERSO 57: O poderosíssimo e competente senhor Śiva os tranquilizou e disse: “Não temais.” Então, ele colocou as flechas em seu arco e as lançou em direção às três residências ocupadas pelos demônios.

VERSO 58: As flechas lançadas pelo senhor Śiva, que pareciam raios de fogo provenientes do globo solar, cobriram os três aeroplanos residenciais, os quais, então, não podiam mais ser vistos.

VERSO 59: Atacados pelas flechas douradas do senhor Śiva, todos os habitantes demoníacos que ocupavam aquelas três residências perderam suas vidas e caíram. Então, o grande místico Maya Dānava fez com que os demônios caíssem em um poço de néctar que ele mesmo criara.

VERSO 60: Quando os corpos dos demônios mortos entraram em contato com o néctar, seus corpos se tornaram inexpugnáveis aos raios. Dotados de grande força, eles se levantaram como relâmpagos que penetram as nuvens.

VERSO 61: Vendo o senhor Śiva muito aflito e desapontado, o Senhor Viṣṇu, a Suprema Personalidade de Deus, analisou que atitude deveria tomar para extinguir esse transtorno criado por Maya Dānava.

VERSO 62: Então, o senhor Brahmā se tornou um bezerro, e o Senhor Viṣṇu, uma vaca, e, ao meio-dia, entraram nas residências e beberam todo o néctar do poço.

VERSO 63: Os demônios podiam ver o bezerro e a vaca, mas, devido à ilusão criada pela energia da Suprema Personalidade de Deus, os demônios não conseguiam coibi-los. O grande místico Maya Dānava ficou sabendo que o bezerro e a vaca estavam bebendo o néctar, e pôde compreender que isso era o poder invisível da providência. Então, ele falou aos demônios, que se lamentavam imensamente.

VERSO 64: Maya Dānava disse: Tudo o que o Senhor Supremo reservou para alguém, para os outros, ou para alguém e para os outros de uma só vez, não pode ser desfeito em nenhum lugar ou por ninguém, seja ele um semideus, um demônio, um ser humano ou alguma outra entidade.

VERSOS 65-66: Nārada Muni prosseguiu: Em seguida, o Senhor Kṛṣṇa, mediante Sua potência pessoal, que consiste em religião, conhecimento, renúncia, opulência, austeridade, educação e atividades, abasteceu o senhor Śiva de toda a parafernália que lhe era necessária, tais como quadriga, quadrigário, bandeira, cavalos, elefantes, arco, escudo e flechas. Quando estava munido de todo esse equipamento, o senhor Śiva pegou de seu arco e flechas e, sentado em sua quadriga, preparou-se para lutar com os demônios.

VERSO 67: Meu querido rei Yudhiṣṭhira, o poderosíssimo senhor Śiva ajustou as flechas ao seu arco e, ao meio-dia, ateou fogo a todas as três residências dos demônios, destruindo-as.

VERSO 68: Sentados em seus aeroplanos no céu, os habitantes dos sistemas planetários superiores tocaram muitos timbales. Os semideuses, os santos, os Pitās, os Siddhas e várias outras grandes personalidades lançaram na cabeça do senhor Śiva chuvas de flores, desejando-lhe toda a vitória, e as Apsarās passaram a cantar e dançar com grande prazer.

VERSO 69: Ó rei Yudhiṣṭhira, eis o motivo pelo qual o senhor Śiva é conhecido como Tripurāri, o aniquilador das três residências dos demônios, pois ele as reduziu a cinzas. Enquanto era adorado pelos semideuses, encabeçados pelo senhor Brahmā, o senhor Śiva retornou à sua própria morada.

VERSO 70: O Senhor, Śrī Kṛṣṇa, apareceu como um ser humano, mas, mediante Sua própria potência, Ele executou muitos passatempos incomuns e maravilhosos. O que posso acrescentar àquilo que as grandes pessoas santas já disseram a respeito das atividades dEle? Todos podem purificar-se através dessas atividades, bastando ouvir sobre elas a partir da fonte correta.

« Previous Next »