VERSO 10
tri-vargaṁ nātikṛcchreṇa
bhajeta gṛha-medhy api
yathā-deśaṁ yathā-kālaṁ
yāvad-daivopapāditam
tri-vargam — três princípios, a saber, religiosidade, desenvolvimento econômico e gozo dos sentidos; na — não; ati-kṛcchreṇa — através de intenso esforço; bhajeta — deve executar; gṛha-medhī — uma pessoa interessada apenas em vida familiar; api — embora; yathā-deśam — de acordo com o lugar; yathā-kālam — de acordo com o tempo; yāvat — tanto quanto; daiva — pela graça do Senhor; upapāditam — obteve.
Mesmo que, em vez de brahmacārī, sannyāsī ou vānaprastha, alguém seja pai de família, ele não deve esforçar-se muito arduamente por obter religiosidade, desenvolvimento econômico ou gozo dos sentidos. Mesmo na vida de casado, a pessoa deve ficar satisfeita em se manter viva apenas com aquilo que, pela graça do Senhor, conseguir com um pequeno esforço, de acordo com o tempo e o lugar. Ninguém deve ocupar-se em ugra-karma.
SIGNIFICADO—Na vida humana, existem quatro princípios a serem satisfeitos – dharma, artha, kāma e mokṣa (religião, desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos e liberação). Primeiramente, a pessoa deve ser religiosa, seguindo várias regras e regulações, após o que deve ganhar algum dinheiro para manter a sua família e procurar satisfazer os seus sentidos. A cerimônia que mais se coaduna com o gozo dos sentidos é o casamento, pois o intercurso sexual é uma das principais necessidades do corpo material. Yan maithunādi-gṛhamedhi-sukhaṁ hi tuccham. Embora na vida a relação sexual não seja um requisito dos mais sublimes, tanto os animais quanto os homens necessitam de algum gozo dos sentidos devido às suas propensões materiais. Deve-se ficar satisfeito com a vida conjugal e não gastar energia para satisfazer os sentidos em atividades sexuais extramaritais.
Quanto ao desenvolvimento econômico, essa responsabilidade deve ser confiada principalmente aos vaiśyas e gṛhasthas. A sociedade humana deve ser dividida em varṇas e āśramas – brāhmaṇa, kṣatriya, vaiśya, śūdra, brahmacarya, gṛhastha, vānaprastha e sannyāsa. O desenvolvimento econômico é necessário para os gṛhasthas. Os gṛhasthas brāhmaṇas devem satisfazer-se com uma vida de adhyayana, adhyāpana, yajana e yājana – ou seja, devem ser intelectuais eruditos, ensinar os outros a serem intelectuais, aprender como adorar Viṣṇu, a Suprema Personalidade de Deus, e também ensinar os outros a adorar o Senhor Viṣṇu, ou mesmo os semideuses. O brāhmaṇa deve fazer isso sem nenhuma remuneração, mas tem permissão para aceitar caridade de alguém a quem ensina como se tornar um ser humano. Quanto aos kṣatriyas, espera-se que sejam os reis da terra, e a terra deve ser distribuída entre os vaiśyas para que eles realizem atividades agrícolas, proteção às vacas e comércio. Os śudras devem trabalhar; às vezes, devem ocupar-se em atividades profissionais como fabricantes de roupas, tecelões, ferreiros, ourives, funileiros e assim por diante, ou devem executar trabalho árduo para produzirem cereais.
São esses os vários deveres ocupacionais dos quais os homens devem subsistir, de modo que a sociedade humana seja bastante simples. Entretanto, todos estão ocupados em avanço tecnológico no momento atual, o que é descrito na Bhagavad-gītā como ugra-karma – esforço extremamente severo. Esse ugra-karma agita a mente humana. Os homens estão se entregando a tantas atividades pecaminosas e se degradando ao abrirem matadouros, cervejarias e fábricas de cigarros, bem como clubes noturnos e outros estabelecimentos para o gozo dos sentidos. Dessa maneira, estão desperdiçando suas vidas. Em todas essas atividades, evidentemente, os pais de família estão envolvidos, de modo que, com o uso da palavra api, aqui se aconselha que, muito embora alguém seja pai de família, não deve colocar-se em sérias dificuldades. Os meios de subsistência devem ser extremamente simples. Quanto àqueles que não são gṛhasthas – os brahmacārīs, vānaprasthas e sannyāsīs –, tudo o que eles têm a fazer é lutar pelo avanço na vida espiritual. Isso significa que três quartos de toda a população devem evitar o gozo dos sentidos e simplesmente se ocupar no avanço em consciência de Kṛṣṇa. Apenas um quarto da população deve ser gṛhastha e, mesmo assim, seguindo as leis do gozo dos sentidos restrito. Juntos, os gṛhasthas, vānaprasthas, brahmacārīs e sannyāsīs devem empregar toda a sua energia em se tornarem conscientes de Kṛṣṇa. Essa espécie de civilização se chama daiva-varṇāśrama. Um dos objetivos do movimento da consciência de Kṛṣṇa é estabelecer este daiva-varṇāśrama, e não encorajar o assim chamado varṇāśrama no qual a sociedade humana não apresenta nenhum esforço cientificamente organizado.