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VERSO 8

yāvad bhriyeta jaṭharaṁ
tāvat svatvaṁ hi dehinām
adhikaṁ yo ’bhimanyeta
sa steno daṇḍam arhati

yāvat — tanto quanto; bhriyeta — possa ficar cheio; jaṭharam — o estômago; tāvat — esta quantidade; svatvam — posse; hi — na verdade; dehinām — das entidades vivas; adhikam — mais do que isso; yaḥ — todo aquele que; abhimanyeta — possa aceitar; saḥ — ele; stenaḥ — um ladrão; daṇḍam — punição; arhati — merece.

Cada um pode reivindicar a posse de tanta riqueza quanto lhe for necessário para se manter vivo, mas quem deseja exceder isso deve ser considerado ladrão e merece ser punido pelas leis da natureza.

SIGNIFICADOAlgumas vezes, pelo favor de Deus, obtemos grandes quantidades de grãos alimentícios ou recebemos alguma contribuição espontânea ou um lucro inesperado nos negócios. Dessa maneira, podemos obter mais dinheiro do que o necessário. Daí surge a questão: Como gastá-lo? Não há necessidade de acumular dinheiro no banco apenas para aumentar o saldo bancário. Tal mentalidade é descrita na Bhagavad-gītā (16.13) como própria dos asuras, os demônios.

idam adya mayā labdham
imaṁ prāpsye manoratham
idam astīdam api me
bhaviṣyati punar dhanam

“O ser demoníaco pensa: ‘Tanta riqueza eu tenho hoje, e vou ganhar mais conforme meus planos. Tenho tanto agora, e isso aumentará mais e mais no futuro.’” O asura está interessado no total da riqueza que tem no banco hoje e como ela aumentará amanhã, mas os śāstras e, na era moderna, o governo não permitem o irrestrito acúmulo de riquezas. Na verdade, se alguém tem mais do que o necessário, o dinheiro extra deve ser gasto no serviço a Kṛṣṇa. De acordo com a civilização védica, deve-se dá-lo totalmente ao movimento da consciência de Kṛṣṇa, como o próprio Senhor ordena na Bhagavad-gītā (9.27):

yat karoṣi yad aśnāsi
yaj juhoṣi dadāsi yat
yat tapasyasi kaunteya
tat kuruṣva mad-arpaṇam

“Tudo o que fizeres, tudo o que comeres, tudo o que ofereceres ou deres para os outros, e quaisquer austeridades que executares – faze isso, ó filho de Kuntī, como uma oferenda a Mim.” Os gṛhasthas devem gastar todo o seu dinheiro extra apenas no movimento da consciência de Kṛṣṇa.

Os gṛhasthas devem dar contribuições para que, em todo o mundo, construam-se templos do Senhor Supremo e se pregue o Śrīmad Bhagavad-gītā, ou a consciência de Kṛṣṇa. Śṛṇvan bhagavato ’bhīkṣṇam avatāra-kathāmṛtam. Nos śāstras – nos Purāṇas e em outros textos védicos –, existem muitas narrações que descrevem as atividades transcendentais da Suprema Personalidade de Deus, e todos devem ouvi-las vezes e mais vezes. Por exemplo, mesmo que leiamos todos os dias todos os dezoito capítulos da Bhagavad-gītā, em cada leitura encontraremos novas explicações. Essa é a natureza da literatura transcendental. Portanto, o movimento da consciência de Kṛṣṇa propicia a todos a oportunidade de gastar seus rendimentos extras em benefício de toda a sociedade humana, expandindo a consciência de Kṛṣṇa. Especialmente na Índia, há centenas e milhares de templos que foram construídos por homens ricos da sociedade que não queriam nem ser chamados de ladrões nem ser punidos.

Este verso é muito importante. Como se afirma aqui, quem acumula mais dinheiro do que lhe é necessário é um ladrão, e será punido pelas leis da natureza. Aquele que adquire mais dinheiro do que lhe é necessário deseja confortos materiais cada vez maiores. Os materialistas inventam muitas coisas supérfluas, e aqueles que têm dinheiro, uma vez encantados por essas invenções, tentam acumular mais dinheiro para possuir cada vez mais. Essa é a ideia do moderno desenvolvimento econômico. Todos estão atarefados em ganhar dinheiro para depositar o mesmo no banco, que então põe o dinheiro à disposição do público. Nesse círculo de atividades, todos se ocupam em ganhar cada vez mais dinheiro, fazendo com que o ideal da vida humana seja esquecido. Em resumo, pode-se dizer que todos são ladrões e passíveis de punição. A punição infligida pelas leis da natureza se realiza durante o ciclo de nascimentos e mortes. Ninguém morre sentindo-se inteiramente contente de ter satisfeito seus desejos materiais, pois isso é impossível. Portanto, na hora da morte, as pessoas ficam muito pesarosas, pois não conseguiram satisfazer os seus desejos. Pelas leis da natureza, a pessoa recebe, então, outro corpo para tentar satisfazer seus desejos ainda não realizados e, ao renascer, aceitando outro corpo material, voluntariamente se sujeita às três classes de sofrimentos da vida.

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