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VERSO 2

jñāna-niṣṭhāya deyāni
kavyāny ānantyam icchatā
daive ca tad-abhāve syād
itarebhyo yathārhataḥ

jñāna-niṣṭhāya — ao impersonalista ou ao transcendentalista que deseja imergir no Supremo; deyāni — devem ser dados em caridade; kavyāni — ingredientes apresentados aos antepassados como oblações; ānantyam — libertar-se do cativeiro material; icchatā — por alguém que deseja; daive — os ingredientes a serem oferecidos aos semideuses; ca — também; tat-abhāve — na ausência desses transcendentalistas avançados; syāt — deve-se fazer isso; itarebhyaḥ — aos outros (a saber, àqueles que estão absortos em atividades fruitivas); yathā-arhataḥ — comparativamente ou com discriminação.

Alguém que deseja a liberação para seus antepassados ou para si próprio deve dar caridade aos brāhmaṇas adeptos do monismo impessoal [jñāna-niṣṭhā]. Na ausência desses brāhmaṇas avançados, pode-se dar caridade aos brāhmaṇas absortos em atividades fruitivas [karma-kāṇḍa].

SIGNIFICADOExistem dois processos através dos quais a pessoa pode livrar-se do cativeiro material. Um diz respeito a jñāna-kāṇḍa e karma-kāṇḍa, e o outro se refere a upāsanā-kāṇḍa. Os vaiṣṇavas jamais querem imergir na existência do Supremo; em vez disso, desejam ser servos eternos do Senhor e Lhe prestar serviço amoroso. Neste verso, as palavras ānantyam icchatā se aplicam àqueles que desejam libertar-se do cativeiro material e imergir na existência do Senhor. Os devotos, entretanto, cujo objetivo é associarem-se pessoalmente com o Senhor, não desejam realizar karma-kāṇḍa ou jñāna-kāṇḍa, pois o serviço devocional puro suplanta tanto karma-kāṇḍa quanto jñānakāṇḍa. Anyābhilāṣitā-śūnyaṁ jñāna-karmādy-anāvṛtam. No serviço devocional puro, não há nem mesmo um estigma de jñāna ou karma. Consequentemente, ao distribuírem caridade, os vaiṣṇavas não precisam procurar um brāhmaṇa que execute as atividades de jñāna-kāṇḍa ou karma-kāṇḍa. O melhor exemplo a esse respeito é dado por Advaita Gosvāmī, que, após realizar a cerimônia śrāddha consagrada a Seu pai, oferecia caridade a Haridāsa Ṭhākura, embora todos soubessem que Haridāsa Ṭhākura nascera em família muçulmana, e não em família de brāhmaṇas, e que ele não estava interessado nas atividades de jñāna-kāṇḍa ou karma-kāṇḍa.

A caridade, portanto, deve ser feita ao transcendentalista de primeira classe, o devoto, porque os śāstras recomendam:

muktānām api siddhānāṁ
nārāyaṇa-parāyaṇaḥ
sudurlabhaḥ praśāntātmā
koṭiṣv api mahā-mune

“Ó grande sábio, entre muitos milhões que são liberados e que conhecem perfeitamente a liberação, talvez surja um que se torne devoto do Senhor Nārāyaṇa, ou Kṛṣṇa. Semelhantes devotos, que são muito pacíficos, são muito raros.” (Śrīmad-Bhāgavatam 6.14.5) A posição do vaiṣṇava sobrepuja a posição do jñānī, e foi por isso que Advaita Ācārya escolheu Haridāsa Ṭhākura para ser quem receberia a Sua caridade. O Senhor Supremo também diz:

na me ’bhaktaś catur-vedī
mad-bhaktaḥ śva-pacaḥ priyaḥ
tasmai deyaṁ tato grāhyaṁ
sa ca pūjyo yathā hy aham

“Muito embora alguém seja um estudioso muito versado nos textos sânscritos védicos, ele só será aceito como Meu devoto se estiver em serviço devocional puro. Contudo, muito embora alguém tenha nascido em família de comedores de cães, ele Me é muito querido se for um devoto puro que não tem nenhum interesse de desfrutar de atividade fruitiva ou especulação mental. Na verdade, deve-se prestar todo respeito a ele, e tudo o que ele oferece deve ser aceito. Esses devotos são tão adoráveis quanto Eu.” (Hari-bhakti-vilāsa 10.127) Portanto, mesmo que não tenha nascido em família de brāhmaṇas, o devoto, graças à sua devoção pelo Senhor, supera todas as classes de brāhmaṇas, quer eles sejam karma-kāṇḍīs, quer sejam jñāna-kāndīs.

Com relação a isso, pode-se mencionar que, em Vṛndāvana, os brāhmaṇas karma-kāṇḍīs e jñāna-kāṇḍīs às vezes se recusam a visitar nosso templo porque nosso templo é conhecido como aṅgarejī, ou “templo anglicano”. Porém, de acordo com a evidência contida nos śāstras e o exemplo estabelecido por Advaita Ācārya, damos prasāda aos devotos, independentemente de serem procedentes da Índia, Europa ou Estados Unidos. Segundo a conclusão do śāstra, em vez de alimentar muitos brāhmaṇas karma-kāṇḍīs ou jñāna-kāṇḍīs, é melhor alimentar um vaiṣṇava puro, não importando seu lugar de origem. Também se confirma isso na Bhagavad-gītā (9.30):

api cet sudurācāro
bhajate mām ananya-bhāk
sādhur eva sa mantavyaḥ
samyag vyavasito hi saḥ

“Mesmo que alguém cometa ações das mais abomináveis, se estiver ocupado no serviço devocional, deve ser considerado santo, porque está devidamente situado em sua determinação.” Portanto, não é relevante se o devoto vem de família bramânica ou de família não-bramânica; se ele for inteiramente devotado a Kṛṣṇa, ele é um sādhu.

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