No edit permissions for Português

VERSO 45

yāvan nṛ-kāya-ratham ātma-vaśopakalpaṁ
dhatte gariṣṭha-caraṇārcanayā niśātam
jñānāsim acyuta-balo dadhad asta-śatruḥ
svānanda-tuṣṭa upaśānta idaṁ vijahyāt

yāvat — enquanto; nṛ-kāya — esta forma de corpo humano; ratham — considerado como uma quadriga; ātma-vaśa — dependente do próprio controle exercido pela pessoa; upakalpam — no qual existem muitas outras partes subordinadas; dhatte — ela possui; gariṣṭha-carana — os pés de lótus dos superiores (a saber, o mestre espiritual e seus antecessores); arcanayā — servindo; niśātam — afiada; jñāna-asim — a espada ou arma do conhecimento; acyuta-balaḥ — mediante a força transcendental de Kṛṣṇa; dadhat — empunhando; asta-śatruḥ — até que o inimigo seja derrotado; sva-ānanda-tuṣṭaḥ — sendo plenamente autossatisfeita através da bem-aventurança transcendental; upaśāntaḥ — a consciência estando limpa de toda a contaminação material; idam — este corpo; vijahyāt — ela deve abandonar.

Enquanto alguém tiver de aceitar corpos materiais, com suas diferentes partes e parafernálias, que não estão sob seu pleno controle, ele precisa contar com os pés de lótus de seus superiores, a saber, seu mestre espiritual e os antecessores do mestre espiritual, através de cuja misericórdia ele poderá afiar a espada do conhecimento. Com o poder da misericórdia da Suprema Personalidade de Deus, ele deverá, então, derrotar os inimigos acima mencionados. Dessa maneira, o devoto conseguirá imergir em sua própria bem-aventurança transcendental, podendo, consequentemente, abandonar seu corpo e reassumir sua identidade espiritual.

SIGNIFICADONa Bhagavad-gītā (4.9), o Senhor diz:

janma karma ca me divyam
evaṁ yo vetti tattvataḥ
tyaktvā dehaṁ punar janma
naiti mām eti so ’rjuna

“Aquele que conhece a natureza transcendental do Meu aparecimento e atividades, ao deixar o corpo não volta a nascer neste mundo material, senão que alcança Minha morada eterna, ó Arjuna.” Essa é a perfeição máxima da vida, e o corpo humano se presta a esse propósito. Afirma-se no Śrīmad-Bhāgavatam (11.20.17):

nṛ-deham ādyaṁ sulabhaṁ sudurlabhaṁ
plavaṁ sukalpaṁ guru-karṇadhāram
mayānukūlena nabhasvateritaṁ
pumān bhavābdhiṁ na taret sa ātma-hā

Esta forma de corpo humano é um barco valiosíssimo, e o mestre espiritual é o capitão, guru-karṇadhāram, que guia o barco na travessia do oceano de ignorância. A instrução de Kṛṣṇa é uma brisa favorável. Todos devem utilizar todas essas boas condições para singrar o oceano de ignorância. Como o mestre espiritual é o capitão, a pessoa deve servi-lo muito sinceramente para que, por sua misericórdia, consiga obter a misericórdia do Senhor Supremo.

Uma palavra significativa empregada neste verso é acyuta-balaḥ. O mestre espiritual decerto é misericordioso com seus discípulos, em consequência do que o devoto é fortalecido pela Suprema Personalidade de Deus ao satisfazer o mestre espiritual. Śrī Caitanya Mahāprabhu, portanto, diz que guru-kṛṣṇa-prasāde pāya bhakti-latā-bīja: a pessoa deve primeiramente satisfazer o mestre espiritual, pois, dessa maneira, ela automaticamente satisfaz Kṛṣṇa e obtém a força com a qual pode cruzar o oceano de ignorância. Se alguém deseja seriamente retornar ao lar, retornar ao Supremo, deve tornar-se bastante forte, satisfazendo o mestre espiritual, pois assim recebe a arma com a qual pode derrotar o inimigo, e também consegue a graça de Kṛṣṇa. Simplesmente receber a arma de jñāna é insuficiente. A pessoa deve afiar a arma, servindo ao mestre espiritual e acatando suas instruções. Então, o candidato terá a misericórdia da Suprema Personalidade de Deus. Na guerra habitual, o combatente recorre à sua quadriga e cavalos para triunfar sobre seu inimigo e, após derrotar seus inimigos, ele pode abandonar a quadriga e sua parafernália. Igualmente, enquanto tiver um corpo humano, a pessoa deverá usá-lo plenamente para obter a perfeição máxima da vida, a saber, voltar ao lar, voltar ao Supremo.

A perfeição do conhecimento decerto consiste em nos tornarmos transcendentalmente situados (brahma-bhūta). Como o Senhor diz na Bhagavad-gītā (18.54):

brahma-bhūtaḥ prasannātmā
na śocati na kāṅkṣati
samaḥ sarveṣu bhūteṣu
mad-bhaktiṁ labhate parām

“Aquele que está situado nessa posição transcendental compreende de imediato o Brahman Supremo e torna-se completamente feliz. Ele nunca se lamenta nem deseja ter nada, e é equânime para com todas as entidades vivas. Nesse estado, ele passa a Me prestar serviço devocional puro.” Através do simples cultivo de conhecimento, como acontece, por exemplo, com os impersonalistas, ninguém consegue escapar das garras de māyā. Deve-se alcançar a plataforma de bhakti.

bhaktyā mām abhijānāti
yāvān yaś cāsmi tattvataḥ
tato māṁ tattvato jñātvā
viśate tad-anantaram

“É unicamente através do serviço devocional que alguém pode compreender-Me como sou, como a Suprema Personalidade de Deus. E quando, mediante tal devoção, ele se absorve em plena consciência de Mim, ele pode entrar no reino de Deus.” (Bhagavad-gītā 18.55) Enquanto alguém não tiver alcançado a fase do serviço devocional e a misericórdia do mestre espiritual e de Kṛṣṇa, existe a possibilidade de recair e aceitar corpos materiais. Portanto, Kṛṣṇa enfatiza na Bhagavad-gītā (4.9):

janma karma ca me divyam
evaṁ yo vetti tattvataḥ
tyaktvā dehaṁ punar janma
naiti mām eti so ’rjuna

“Aquele que conhece a natureza transcendental do Meu aparecimento e atividades, ao deixar o corpo não volta a nascer neste mundo material, senão que alcança Minha morada eterna, ó Arjuna.”

A palavra tattvataḥ, que significa “na realidade”, é muito importante. Tato māṁ tattvato jñātvā. Enquanto não receber a misericórdia do mestre espiritual que a capacite a compreender Kṛṣṇa em verdade, pessoa alguma estará em condições de abandonar o seu corpo material. Como se afirma, āruhya kṛcchreṇa paraṁ padaṁ tataḥ patanty adho ’nādṛta-yuṣmad-aṅghrayaḥ: se alguém negligencia servir aos pés de lótus de Kṛṣṇa, não poderá livrar-se das garras materiais através do mero conhecimento. Mesmo que alguém alcance a fase de brahma-padam, imersão no Brahman, sem bhakti, arrisca-se a cair. A pessoa deve tomar muito cuidado em relação ao perigo de recair no cativeiro material. A única segurança é chegar à etapa de bhakti, pois, estabelecendo-se nela, ninguém cai. É então que a pessoa se livra das atividades do mundo material. Em suma, como afirma Śrī Caitanya Mahāprabhu, todos devem entrar em contato com um mestre espiritual genuíno, que esteja no paramparā da consciência de Kṛṣṇa, pois, através de sua misericórdia e de suas instruções, recebe-se a força concedida por Kṛṣṇa. Então, a pessoa se ocupa em serviço devocional e alcança a meta última da vida, os pés de lótus de Viṣṇu.

Neste verso, as palavras ānāsim acyuta-balaḥ são bastante expressivas. Jñānāsim, a espada do conhecimento, é dada por Kṛṣṇa, e quando alguém serve ao guru e Kṛṣṇa para empunhar a espada das instruções de Kṛṣṇa, Balarāma o fortalece. Balarāma é Nityānanda. Vrajendra-nandana yei, śacī-suta haila sei, balarāma ha-ila nitāi. Esse bala – Balarāma – vem com Śrī Caitanya Mahāprabhu, e ambos são tão misericordiosos que, nesta era de Kali, todos podem refugiar-se muito facilmente em Seus pés de lótus. Eles vêm especialmente para libertar todas as almas caídas desta era. Pāpī tāpī yata chila, hari-nāme uddhārila. A arma dEles é saṅkīrtana, hari-nāma. Então, todos devem aceitar a espada do conhecimento que lhes é dada por Kṛṣṇa e se tornarem fortes graças à misericórdia de Balarāma. Nós, portanto, estamos adorando Kṛṣṇa-Balarāma em Vṛndāvana. A Muṇḍaka Upaniṣad (3.2.4) diz:

nāyam ātmā bala-hīnena labhyo
na ca pramādāt tapaso vāpy aliṅgāt
etair upāyair yatate yas tu vidvāṁs
tasyaiṣa ātmā viśate brahma-dhāma

Sem a misericórdia de Balarāma, ninguém pode alcançar a meta da vida. Por conseguinte, Śrī Narottama Dāsa Ṭhākura diz que nitāiyera karunā habe, vraje rādhā-kṛṣṇa pābe: quando alguém recebe a misericórdia de Balarāma, Nityānanda, ele pode alcançar os pés de lótus de Rādhā e Kṛṣṇa muito facilmente.

se sambandha nāhi yāra, bṛthā janma gela tāra,
vidyā-kule hi karibe tāra

Se alguém não possui nada que o vincule a Nitāi, Balarāma, então, muito embora ele seja um intelectual muito erudito, ou jñānī, ou tenha nascido em família muito respeitável, esses dons não o ajudarão. Portanto, é com a força recebida de Balarāma que devemos vencer os inimigos da consciência de Kṛṣṇa.

« Previous Next »