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VERSO 30

śrī-prahrāda uvāca
matir na kṛṣṇe parataḥ svato vā
mitho ’bhipadyeta gṛha-vratānām
adānta-gobhir viśatāṁ tamisraṁ
punaḥ punaś carvita-carvaṇānām

śrī-prahrādaḥ uvāca — Prahlāda Mahārāja disse; matiḥ — inclinação; na — jamais; kṛṣṇe — pelo Senhor Kṛṣṇa; parataḥ — através das instruções dos outros; svataḥ — através de sua própria compreensão;  — ou; mithaḥ — através do esforço combinado; abhipadyeta — desenvolve-se; gṛha-vratānām — das pessoas demasiadamente apegadas ao conceito de vida corpórea e materialista; adānta — descontrolados; gobhiḥ — pelos sentidos; viśatām — entrando na; tamisram — vida infernal; punaḥ — novamente; punaḥ — novamente; carvita — coisas já mastigadas; carvaṇānām — que estão mastigando.

Prahlāda Mahārāja respondeu: Devido aos seus sentidos descontrolados, as pessoas demasiadamente apegadas à vida materialista progridem rumo às condições infernais e repetidamente mastigam aquilo que já foi mastigado. Mesmo que instruídas por outros, ou mesmo que se valham de seus próprios esforços, ou inclusive mediante uma combinação de ambos os processos, elas jamais sentem alguma inclinação por Kṛṣṇa.

SIGNIFICADO—Neste verso, as palavras matir na kṛṣṇe se referem ao serviço devocional prestado a Kṛṣṇa. Os pretensos políticos, estudiosos eruditos e filósofos que leem a Bhagavad-gītā tentam distorcer-lhe algum significado para adaptá-la a seus propósitos materiais, mas essa maneira de eles receberem Kṛṣṇa não lhes trará nenhum benefício. Porque esses políticos, filósofos e eruditos estão interessados em usar a Bhagavad-gītā como um veículo para deixar as coisas materialmente ajustadas, não lhes é possível sempre pensar em Kṛṣṇa, ou se absorver na consciência de Kṛṣṇa (matir na kṛṣṇe). Como se afirma na Bhagavad-gītā (18.55), bhaktyā mām abhijānāti: É apenas através do serviço devocional que se pode entender Kṛṣṇa como Ele é. Os supostos políticos e eruditos pensam que Kṛṣṇa é fictício. O político diz que o seu Kṛṣṇa é diferente do Kṛṣṇa retratado na Bhagavad-gītā. Muito embora aceite Kṛṣṇa e Rāma como o Supremo, pensa em Rāma e Kṛṣṇa como impessoais porque não sabe nem mesmo o que é prestar serviço a Kṛṣṇa. Assim, sua única ocupação é punaḥ punaś carvita-carvaṇānām – vezes e mais vezes, mastigar o mastigado. A meta desses políticos e estudiosos eruditos é desfrutar deste mundo material com seus sentidos corpóreos. Portanto, aqui se afirma claramente que aqueles que são gṛha-vrata, cuja única meta é utilizar o corpo para viverem confortavelmente no mundo material, não conseguem entender Kṛṣṇa. As duas expressões gṛha-vrata e carvitacarvaṇānām indicam que o materialista tenta, vida após vida, desfrutar de gozo dos sentidos em diferentes formas corpóreas, mas, mesmo assim, continua insatisfeito. Em nome de personalismo, deste ou daquele “ismo”, essas pessoas sempre permanecem apegadas ao modo de vida materialista. Como se afirma na Bhagavad-gītā (2.44):

bhogaiśvarya-prasaktānāṁ
tayāpahṛta-cetasām
vyavasāyātmikā buddhiḥ
samādhau na vidhīyate

“Na mente daqueles que estão muito apegados à gratificação dos sentidos e à opulência material, e que se deixam confundir por essas coisas, não ocorre a determinação resoluta de prestar serviço devocional ao Senhor Supremo.” Aqueles que são apegados ao gozo material não conseguem fixar-se em serviço devocional ao Senhor. Não são capazes de entender Bhagavān, Kṛṣṇa, ou Sua instrução, a Bhagavad-gītā. Adānta-gobhir viśatāṁ tamisram: o caminho por eles trilhado realmente leva à vida infernal.

Como confirma Ṛṣabhadeva, mahat-sevāṁ dvāram āhur vimukteḥ: é servindo a um devoto que se deve tentar entender Kṛṣṇa. A palavra mahat se refere a um devoto.

mahātmānas tu māṁ pārtha
daivīṁ prakṛtim āśritāḥ
bhajanty ananya-manaso
jñātvā bhūtādim avyayam

“Ó filho de Pṛthā, aqueles que não se iludem, as grandes almas, estão sob a proteção da natureza divina. Eles se ocupam completamente em serviço devocional porque sabem que Eu sou a original e inexaurível Suprema Personalidade de Deus.” (Bhagavad-gītā 9.13) Mahātmā é aquele que está sempre ocupado em serviço devocional, vinte e quatro horas por dia. Como se explica nos versos seguintes, quem não se apega a essa personalidade tão magnânima não pode entender Kṛṣṇa. Hiraṇyakaśipu queria saber onde Prahlāda obtivera essa consciência de Kṛṣṇa. Quem lhe havia ensinado? Prahlāda respondeu com sarcasmo: “Meu querido pai, pessoas iguais a ti nunca entendem Kṛṣṇa. Pode entender Kṛṣṇa somente quem serve a um mahat, uma grande alma. Afirma-se que aqueles que tentam ajustar as condições materiais estão mastigando o mastigado. Jamais alguém conseguiu ajustar as condições materiais, apesar do que, vida após vida, geração após geração, as pessoas tentam e falham repetidas vezes. A menos que alguém seja devidamente treinado por um mahat – um mahātmā, ou devoto imaculado do Senhor –, não existe a possibilidade de ele entender Kṛṣṇa ou o serviço devocional que é prestado a Kṛṣṇa.”

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