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VERSO 37

adhokṣajālambham ihāśubhātmanaḥ
śarīriṇaḥ saṁsṛti-cakra-śātanam
tad brahma-nirvāṇa-sukhaṁ vidur budhās
tato bhajadhvaṁ hṛdaye hṛd-īśvaram

adhokṣaja — com a Suprema Personalidade de Deus, que está além do alcance da mente material ou do conhecimento experimental; ālambham — estando em constante contato; iha — neste mundo material; aśubha-ātmanaḥ — cuja mente sofre contaminação material; śarīriṇaḥ — de uma entidade viva que aceitou um corpo material; saṁsṛti — da existência material; cakra — o ciclo; śātanam — parando por completo; tat — esta; brahma-nirvāṇa — relacionada com o Brahman Supremo, a Verdade Absoluta; sukham — felicidade transcendental; viduḥ — entendem; budhāḥ — aqueles que são avançados espiritualmente; tataḥ — portanto; bhajadhvam — ocupai-vos em serviço devocional; hṛdaye — no âmago do coração; hṛt-īśvaram — à Suprema Personalidade de Deus, a Superalma dentro do coração.

O verdadeiro problema da vida são os repetidos nascimentos e mortes, que são como uma roda que sempre está girando. Essa roda, entretanto, descontinua completamente o seu movimento quando alguém entra em contato com a Suprema Personalidade de Deus. Em outras palavras, através da bem-aventurança transcendental obtida mediante a constante ocupação em serviço devocional, ele se liberta por completo da existência material. Todos os homens eruditos sabem disso. Portanto, meus queridos amigos, ó filhos de asuras, começai agora mesmo a meditar na Superalma que está situada dentro do coração de todos e adorai essa Superalma.

SIGNIFICADO—De um modo geral, entende-se que, imergindo na existência do Brahman, o aspecto impessoal da Verdade Absoluta, a pessoa se torna inteiramente feliz. As palavras brahma-nirvāṇa se referem a ficarmos ligados à Verdade Absoluta, que é compreendida sob três aspectos: brahmeti paramātmeti bhagavān iti śabdyate. Quem imerge no Brahman impessoal sente brahma-sukha, felicidade espiritual, porque o brahmajyoti é a refulgência da Suprema Personalidade de Deus. Yasya prabhā prabhavato jagad-aṇḍa-koṭi. Yasya prabhā, o Brahman impessoal, consiste nos raios do corpo transcendental de Kṛṣṇa. Portanto, toda bem-aventurança transcendental sentida por aquele que imerge no Brahman se deve ao contato com Kṛṣṇa. O contato com Kṛṣṇa é o brahma-sukha perfeito. Aquele cuja mente está em contato com o Brahman impessoal se sente satisfeito, mas ele deve continuar avançando até o ponto de prestar serviço à Suprema Personalidade de Deus, pois a permanência na refulgência Brahman nem sempre é garantida. Como se diz, āruhya kṛcchreṇa paraṁ padaṁ tataḥ patanty adho ’nādṛta-yuṣmad-aṅghrayaḥ: a pessoa pode imergir no aspecto Brahman da Verdade Absoluta, mas, como não cultivou um relacionamento com Adhokṣaja, ou Vāsudeva, existe a possibilidade de cair. É claro que esse brahma-sukha suplanta a felicidade material, mas quando alguém, avançando através do Brahman impessoal e do Paramātmā localizado, aproxima-se da Suprema Personalidade de Deus e se relaciona com Ele como servo, amigo, pai, mãe ou amante conjugal, sua felicidade se torna onipenetrante. Então, ele naturalmente sente bem-aventurança transcendental, assim como aquele que fica feliz vendo o brilho da Lua. A pessoa adquire uma felicidade natural ao ver a Lua, mas, quando pode ver a Suprema Personalidade de Deus, sua felicidade transcendental aumenta centenas e milhares de vezes. Logo que alguém está intimamente ligado à Suprema Personalidade de Deus, com certeza se livra de toda a contaminação material. Yā nirvṛtis tanu-bhṛtām. Essa cessação de toda a felicidade material se chama nirvṛti ou nirvāṇa. Śrīla Rūpa Gosvāmī diz no Bhakti-rasāmṛta-sindhu (1.1.38):

brahmānando bhaved eṣa
cet parārdha-guṇīkṛtaḥ
naiti bhakti-sukhāmbhodheḥ
paramāṇu-tulām api

“Se brahmānanda, a bem-aventurança sentida por aquele que imerge na refulgência Brahman, fosse multiplicada por cem trilhões, ainda assim essa bem-aventurança não seria sequer igual a um fragmento atômico do oceano de bem-aventurança transcendental experimentado através do serviço devocional.”

brahma-bhūtaḥ prasannātmā
na śocati na kāṅkṣati
samaḥ sarveṣu bhūteṣu
mad-bhaktiṁ labhate parām

“Aquele que está situado nessa posição transcendental compreende de imediato o Brahman Supremo e torna-se completamente feliz. Ele nunca se lamenta nem deseja ter nada, e é equânime para com todas as entidades vivas. Nesse estado, ele passa a Me prestar serviço devocional puro.” (Bhagavad-gītā 18.54) Se alguém continua seu avanço e transpõe a plataforma brahma-nirvāṇa, ele atinge a fase do serviço devocional (mad-bhaktiṁ labhate parām). A palavra adhokṣajālambham quer dizer manter a mente sempre ocupada na Verdade Absoluta, que está além da mente e da especulação material. Sa vai manaḥ kṛṣṇapadāravindayoḥ. Esse é o resultado da adoração à Deidade. Quem se ocupa no constante serviço ao Senhor e pensa em Seus pés de lótus se livra automaticamente de toda a contaminação material. Assim, a palavra brahma-nirvāṇa-sukham mostra como o gozo dos sentidos materiais deixa de exercer alguma influência naquele que está em contato com a Verdade Absoluta.

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