VERSO 11
naivātmanaḥ prabhur ayaṁ nija-lābha-pūrṇo
mānaṁ janād aviduṣaḥ karuṇo vṛṇīte
yad yaj jano bhagavate vidadhīta mānaṁ
tac cātmane prati-mukhasya yathā mukha-śrīḥ
na — nem; eva — decerto; ātmanaḥ — para Seu benefício pessoal; prabhuḥ — Senhor; ayam — este; nija-lābha-pūrṇaḥ — está sempre satisfeito em Seu íntimo (Ele não precisa que o serviço alheio Lhe traga contentamento); mānam — respeito; janāt — de uma pessoa; aviduṣaḥ — que não sabe que a meta da vida é satisfazer o Senhor Supremo; karuṇaḥ — (a Suprema Personalidade de Deus), que é tão bondoso com essa pessoa tola e ignorante; vṛṇīte — aceita; yat yat — tudo o que; janaḥ — uma pessoa; bhagavate — à Suprema Personalidade de Deus; vidadhīta — pode oferecer; mānam — adoração; tat — esta; ca — na verdade; ātmane — para seu próprio benefício; prati-mukhasya — do reflexo do rosto no espelho; yathā — assim como; mukha-śrīḥ — o enfeite no rosto.
O Senhor Supremo, a Suprema Personalidade de Deus, está sempre plenamente satisfeito em Seu íntimo. Assim, quando algo Lhe é oferecido, a oferenda, pela misericórdia do Senhor, é para o benefício do devoto, pois o Senhor não precisa do serviço de ninguém. Citando um exemplo, se o rosto de uma pessoa está enfeitado, o reflexo de seu rosto no espelho também será visto enfeitado.
SIGNIFICADO—Em bhakti-yoga, recomenda-se que o devoto siga nove princípios: śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ smaraṇaṁ pāda-sevanam/ arcanaṁ vandanaṁ dāsyaṁ sakhyam ātma-nivedanam. Esse serviço de glorificar o Senhor, ouvindo, cantando e assim por diante, não é, evidentemente, destinado ao benefício do Senhor; esse serviço devocional é recomendado para o benefício do devoto. O Senhor é sempre glorioso, quer o devoto O glorifique, quer não o faça, mas, se o devoto se ocupa em glorificar o Senhor, o próprio devoto automaticamente se torna glorioso. Ceto-darpaṇa-mārjanaṁ bhava-mahā-dāvāgni-nirvāpaṇam. Glorificando o Senhor constantemente, a entidade viva purifica o âmago de seu coração e, em consequência disso, pode entender que não pertence ao mundo material, senão que é uma alma espiritual cuja verdadeira atividade é avançar em consciência de Kṛṣṇa para que possa livrar-se das garras materiais. Assim, o fogo abrasante da existência material se extingue imediatamente (bhava-mahā-dāvāgni-nirvāpaṇam). Somente quem é tolo fica perplexo quando Kṛṣṇa ordena que sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja: “Abandona todas as variedades de atividades religiosas e simplesmente rende-te a Mim.” Alguns eruditos tolos chegam ao ponto de dizer que isso é exigir demais. Mas essa exigência não é para o benefício da Suprema Personalidade de Deus; ao contrário, é para o benefício da sociedade humana. Se os seres humanos, individual e coletivamente, e agindo em plena consciência de Kṛṣṇa, tributarem tudo à Suprema Personalidade de Deus, toda a sociedade humana se beneficiará. Quem não dedica tudo ao Senhor Supremo é apontado neste verso como aviduṣa, patife. Na Bhagavad-gītā (7.15), o próprio Senhor fala nesses mesmos termos:
na māṁ duṣkṛtino mūḍhāḥ
prapadyante narādhamāḥ
māyayāpahṛta-jñānā
āsuraṁ bhāvam āśritāḥ
“Os canalhas que são grosseiramente tolos, que são os mais baixos da humanidade, cujo conhecimento é roubado pela ilusão e que compartilham da natureza ateísta dos demônios, não se rendem a Mim.” Devido à ignorância e ao infortúnio, os ateístas e os narādhamas, os homens mais baixos, não se rendem à Suprema Personalidade de Deus. Portanto, embora seja pleno em Si mesmo, Kṛṣṇa, o Senhor Supremo, aparece em diferentes yugas para propor rendição às almas condicionadas de modo que elas se beneficiem, livrando-se das garras materiais. Em conclusão, quanto mais nos ocupamos em consciência de Kṛṣṇa e prestamos serviço ao Senhor, mais nos beneficiamos. Kṛṣṇa não precisa do serviço de nenhum de nós.